O frio de nossa época... no Brasil

11/07/2017 às 20:15.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:30

Frio como não se sentia há décadas, não só em Belo Horizonte como em toda Minas, incluindo o nosso sertão. Os dados fornecidos pela meteorologia e transmitidos pela mídia, com ênfase pela montesclaros.com, causam espanto no Norte do Estado, quase assombro. 

Frio até abaixo de zero no Sul do Estado, como em Monte Verde e Maria da Fé, temperatura própria às geadas, embora a capital alterosa não ficasse muito distante: no dia 4, terça-feira, a massa polar fez registrar 6.1 graus, a menor temperatura desde 1975. Com sensação térmica de 9 graus negativos, Belo Horizonte foi a mais gelada do Brasil, fazendo-nos lembrar Montevidéu em que vivi anos atrás, na praça em que se instalou o mausoléu de homenagem a Artigas, o herói nacional. 

Em meio à frigidez, uma pesquisa mostrava que a expectativa de vida do brasileiro pode chegar a 83 anos, levando-se em conta as estatísticas de óbito entre 2014 e 2016. Evidentemente, se não se contarem as vítimas de balas perdidas no Estado do Rio e os que falecerem subitamente com as incessantes e patéticas novidades no ambiente político. Os sobreviventes brasileiros, se aposentados, talvez recebam a primeira metade do abono de Natal na folha de agosto, como prometeu o presidente Temer.

Quanto a mim, temo pelo oitavo mês, em que se matou Vargas no Catete, em 24, ou renunciou ao cargo Jânio Quadros, no 25º dia de agosto de 1961, Dia do Soldado, oito meses após a posse e a condecoração a Che Guevara. Muitas pedras, pois, no meio do caminho do Brasil, enquanto o presidente da República fazia de conta que tudo ia bem, durante a reunião do G20, na Alemanha.

O frígido tempo que atravessamos na primeira quinzena de julho nos evoca a saudade do sol, como tão bem manifestou Ibsen, em sua obra. Em “Espectros”, que João Cheschiatti apresentou aos belo-horizontinos em época de grande interesse pelo teatro do dramaturgo norueguês, o personagem Oswaldo morre, como Goethe, “pedindo luz”. 

Minha única irmã, que sentia grande inclinação pela construção teatral do autor norueguês, impressionava-se com os personagens de Ibsen, apelando ao sol, à luz, e ao calor ,que nos faltaram com força tropical nos dias recentes.

Do notável autor nórdico – e em sua pátria, esteve, há pouco, o presidente Michel Temer – o conjunto de claro e escuro é como um espetáculo mágico dos mundos escandinavos: um paradoxo de sol, nas trevas da meia-noite. É algo que nos encanta, mesmo quando se assiste pela televisão. 

Há um pouco de Brasil no pensamento de Ibsen, em sua obra, tão pouco conhecida entre nós, pois sequer “Casa de Bonecas” vem sendo reapresentada por aqui. De todo modo, como escreveu Raul Machado, há tempos atrás, o autor, nos domínios da arte, acredita na possibilidade de melhoria da sociedade, pela simples redenção intelectual e moral do indivíduo. A melhoria parece, falecendo no Brasil, porque se crê que a redenção do indivíduo só se faz mediante uma reforma da organização social. No entanto, a finalidade é a mesma; só a fórmula diverge.

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