O prazer de errar

30/05/2017 às 18:49.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:47

Em 5 de maio, Adirson Vasconcelos, um pioneiro de Brasília, membro do Conselho Editorial do Jornal da ANE (Associação Nacional de Escritores), me encaminhou seu informativo em que evoca o Dia da Língua Portuguesa, “herança valiosa que nos legou o povo português, nosso colonizador, a partir de 1500”. Vale a pena lembrar. Passados mais de 500 anos, o idioma de Portugal e do Brasil é usado por sete países com mais de 250 milhões de falantes. 

Adirson lembra que o grande símbolo nacional de amor à língua portuguesa é Olavo Bilac, que ensinou com muita ênfase: “Ama com fé e orgulho a terra em que nasceste! Criança! Não verás nenhum país como este!”. Recorda Adirson ainda que, em 2014, a Academia de Letras de Brasília promoveu o Simpósio Internacional Latino–Ortográfico da Língua Portuguesa, reunindo nossas nações, uma grande distinção. 

Com tão belos registros, ótima oportunidade para recordarmos os professores de curso primário, que – por todo o território de que Cabral descobriu apenas um fiapo, nos deram as noções elementares. Já é alguma coisa. Mas a verdade é que não aprendemos tanto quando desejávamos, o que se constata pelos textos que circulam por aí – em papel, em voz, em gravações, nas horríveis inscrições nos muros, em faixas brandidas nas manifestações de rua. Conclui-se: aprendemos muito pouco. E o pior: não se vê demonstração de efetivo interesse em falar e escrever bem a língua em que Camões redigiu “Os Lusíadas”.

A propósito, recordo observações de J. C. Lozar, que fala do latim ao russo, com observações inseridas em seu livro “Miscelâneas”, que conviria ser lido por quem quiser saber mais sobre a última flor do Lácio. Lozar protesta:

“O que está ocorrendo, porém, entre nós já não é influência estrangeira, mas substituição da nossa língua por outra. A invasão sem peias de estrangeirismos vem descaracterizando a língua pátria. Palavras ou expressões vernáculas são refeitas em favor de outras que não têm história no idioma, não têm conteúdo efetivo, não fazem parte do nosso sistema ortográfico ou prosódico: adoção forçada, contrária ao processo natural da assimilação de termos alienígenas. Dá engulho ouvir locutores se espremendo para reproduzir, e mal, sons alheios ao nosso sistema fonético, como se ponto de honra ao tentarem pronunciar palavras estrangeiras: só pode ser, naturalmente, em retribuição ao cuidado com que os estrangeiros se mostram em articular corretamente as nossas palavras... E a resistência em aportuguesar as grafias estranhas só é explicável pela mentalidade de colônia da qual ainda não nos livramos. Parece que o brasileiro sofre de incoercível complexo de inferioridade”.

Lozar não perdoa:

“Não admitimos simplesmente, mas sim proclamamos com orgulho a nossa inferioridade em relação a outros povos. O que mais assusta e preocupa é a mentalidade que está por trás deste quadro. Povo que não se estima jamais será independente, soberano, dono do seu destino. E é a língua o traço mais forte de identidade de um povo”.

É tema para jamais terminar, porque insistimos no mau caminho.

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