O visgo que há em Portugal

30/11/2017 às 20:12.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:58

Brasileiros, descendentes ou não de lusitanos, estão fazendo a viagem de volta de Pedro Álvares Cabral – uso o nome completo do nauta para evitar confusão. Portugal cresce como destino de nossos turistas. Há os que vão pela primeira vez e se encantam, até porque encontram pessoas que, na Europa, usam língua semelhante à nossa. Não digo que seja rigorosamente igual.

Desiludidos do Brasil atual, acabrunhados por perceberem que a corrupção e os escândalos decorrentes continuam sem previsão de término, há os que arrumam a mala e fazem o retorno pelo Atlântico. 

Lembro, por exemplo, o escritor Ronaldo Cagiano (ele é de Cataguases) e a esposa, Eltane, de mesmo ofício, que deixaram a gloriosa São Paulo depois de anos e se instalaram na santa terrinha. Desenganaram-se aqui de vez, após um sequestro de que foram vítimas na maior cidade do país. Escolheram um pedaço de mundo em que estão agora em paz, porque mais bem protegidos da ação permanente dos marginais.

Poderia citar outros casos e personagens. Por agora, lembro Ricardo Arnaldo Malheiros Fiuza, professor universitário de teoria do estado e de direito constitucional, jornalista, editor-adjunto da Del Rey, membro do Instituto dos Advogados de Minas Gerais e do Instituto Histórico e Geográfico, e com outros títulos que ocupariam toda esta coluna. Entre eles, membro das academias Mineira de Letras e Mineira de Letras Jurídicas. 

Ele não se transfere para Portugal, terra do avô, que era Manoel – Bento Malheiros, natural de Ponte de Lima, na região do Minho. O ascendente veio para o Brasil no século XIX, estabeleceu-se em Ouro Preto, casou-se com a professora Francisca de Paula Penido Malheiros. Ali, integrou a Mesa Administrativa da Santa Casa e da Associação Comercial. 

Visitou Portugal, pela primeira vez, em 1975, e desde então a pátria avoenga se inscreveu no roteiro de suas viagens. Fez cursos na Universidade de Évora, no Alentejo, na Universidade de Lisboa, de Formação de Magistrados no Centro de Estados Judiciários de Portugal, trazendo novos conhecimentos para a Escola Judicial do TJMG. Deu-se tão bem que decidiu residir em Lisboa e lá permaneceu um ano com a família, cuja esposa, Janice, fez história da arte na Fundação Gulbenkian, enquanto os filhos frequentavam escolas públicas de Lisboa. Nada mau.

Sua ligação com Portugal se estreitou. Já Oficial da Ordem do Infante Dom Henrique, do Grêmio Literário de Lisboa, fundado pela rainha Dona Maria II, fez-se membro do Centro da Comunidade Luso-Brasileira, cá de Beagá. Não vou estender-me, pela razão enunciada: o espaço reduzido. 

Com saudações luso-brasileiras, alegria e honra, Ricardo A. Malheiros Fiuza comunica que, desde 3 de novembro, é cidadão português de origem (jus sanguíneo), sem deixar, é claro, de ser brasileiro com esperança...”.

Português também, mas sem abandonar o Brasil, Minas, nossa cidade, Belo Horizonte, em segundo plano. É bom evocar Rosa: “Minas – atente, olha, se lembra, sente, pensa. Minas – a gente não sabe. Sei um pouco, seu facies, a natureza física – muros montes e ultramontes, vales escorregadios, os andantes belos rios, as linhas de cumeeiras, a aeroplanície ou cimos profundamente altos, azuis, que já estão nos sonhos – a teoria dessa paisagem... Saberei que é muito Brasil, em ponto de dentro, Brasil conteúdo, a razão do assunto”.

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