Observações pré-natalinas

07/12/2016 às 19:39.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:59

Há autores da nova geração que não conseguiram conquistar o beneplácito da crítica, mais atenta aos que se acham nos grandes centros e que recebem maior visibilidade. No entanto, um dos jovens de minha cidade natal, Montes Claros, filho de médica também jornalista, me chamou a atenção.

Fernando Yanmar Narciso, de nascimento em 1984, também desenhista, vence a solidão e a timidez, escrevendo artigos contundentes sobre o tempo que vivemos e a sociedade que nos acolhe – ou suporta. Embora palavras de seu vocabulário não afinem às vezes com o meu, eis que sou de outra época e costumes, não se negará que seu dicionário verbal coaduna com o Brasil do século XXI.

Para ele, a infância está morta: “Perdoem-se os psicólogos, pedagogos e pais, mas temos de encarar a realidade. Ela não existe mais. Em outros tempos, ser criança era tudo de bom. Eram tempos de inocência, de usar a imaginação, de brincar o tamanho que era o dia. Mas agora, quanto mais cedo os pequenos amadurecem, melhor pros pais”.

Não se sabe agora o que fazer com os filhotes. “Quanto mais se proíbem coisas, mais elas (as crianças) as querem ter. Já não temos ideia de como educá-las”. E assim acontece: “Nossa geração teve liberdade demais, tudo foi muito fácil pra turma dos anos 90. E a facilidade de nossas vidas só aumentou com essa tonelada de bugigangas tecnológicas que compramos. Não é à toa que não querem saber de estudar. Com coisas como iPhones e similares que baixam música, acessam internet, jogam games on-line, passam vídeos em alta definição, Nintendo 305, notebooks e o escambau de asa despencando sobre suas cabeças, quem vai querer saber os afluentes do rio Amazonas ou estudar quem foi Hitler?”. 

Ninguém se convence da necessidade de aprender e preparar-se para os tempos futuros. Enquanto criança, “basta fazer birra e espernear e lá está um smartphone novinho na mão ou um Nintendo Vii-U”. Um caso concreto.

“Há uns quatro anos passava uma propaganda na TV em que uma menininha de 6 anos – talvez mais – brigava com o pai assim: ‘Se você não me der um celular de Natal, eu quero um pai novo!’. Vem a crítica: ‘A que ponto chegamos’. A falta de respeito deles é tanta que não é à toa que existem programas como Super Nanny e outros que ensinam os pais a serem pais... Praticamente um atestado de “Eu sou um palhaço que não consegue controlar a própria família”.

Diferenças entre ontem e hoje: a maioria das atrações dos anos 80 – inclusive o desenho animado do Rambo – terminava com uma liçãozinha de moral básica, tipo “o que vocês aprenderam com uma ou com dicas pedagógicas como escovem os dentes todos os dias” e “não coma só doces”. 

Agora, o que acontece? Deixo por conta de Fernando: “O que a criançada aprende com os desenhos de hoje? Que dar porrada é maneiro... Não há um único desenho que não tenha pancadaria, explosões, vadiagem e toneladas de futilidades. As Três Espiãs Demais que o digam. Vocês devem pensar: “Mas quanto aos programas e desenhos educativos? Certo, mas quem, seja criança ou adulto, gosta de ver programa educativo? Só os pimpolhos bem novinhos encaram o Peixonauta!”.

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