Os árabes cá entre nós

27/05/2016 às 18:02.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:38

A cultura árabe é muito presente no Brasil, embora não tenhamos dado até hoje especial atenção ao fato. Mas não poderia ser de outro modo, se considerarmos o que essa gente fez na Ibéria durante o tempo em que ocupou parte do território e o que transmitiu aos países de colonização portuguesa. Se pararmos para pensar, veremos que, no princípio do século VII, chegaram dali, procedente do Norte da África, dezenas de levas de população muçulmana. Eram os mouros, porque procediam da Mauritânia e compreendiam grupos de várias origens.

Árabes, sírios, persas, egípcios e bérberes da África Menor, todos fiéis a Alá. Conseguiram derrubar a monarquia visigótica, estabelecendo-se em toda a Península Ibérica. O território que hoje se chama Portugal foi ocupado por essas populações desde os tempos da conquista árabe. Quando D. Afonso Henriques subiu ao trono, todo o espaço ainda estava em poder dos infiéis, instalados até a alguns quilômetros ao Sul de Coimbra.

Em Portugal, foram cinco séculos de domínio mouro, até 1294, embora na Espanha o território só passasse aos cristãos em 1492, com a tomada de Granada. Deste modo, não causa surpresa depararmos no Brasil com vocábulos em que a nascente árabe é manifesta, assim como é perfeitamente aceita a existência entre nós de um expressivo segmento étnico dos antigos mouros. Os nomes e costumes não deixam ignorar a procedência, longínqua ou mais recente. 

Assim, bem a propósito publicou-se, em Goiânia, “A Literatura Brasileira e a Cultura Árabe”, da professora Moema de Castro e Silva Olival, com o marcante prefácio de Fábio Lucas, das academias Mineira e Paulista de Letras. Segundo Aricy Curvello, o prestigioso poeta que Uberlândia deu ao Brasil, o livro “abriu uma nova senda importante em nossos estudos literários, pesquisando a contribuição de escritores descendentes de árabes à ficção no Brasil”. 

Os libaneses estão em todos os lugares do país, desde as grandes cidades às pequenas, aos mais distantes grotões, das Minas Gerais por exemplo, ou do interior profundo da Amazônia ou do Rio Grande do Sul. Comerciantes por excelência, vocação herdada dos fenícios, eles trouxeram suas inclinações e fundamentos culturais para o Brasil, como se constata em ficcionistas de todas as regiões. Jorge Amado que o diga.

Os libaneses trouxeram mais do que a veia para o comércio. A cultura árabe desembarcara durante a expansão do islamismo nos séculos VII e VIII. Depois do Corão, seguiram “As mil e uma noites” e outras semelhantes expressões, como enfatiza Curvello, reportando-se a Moema de Castro e Silva Olival.

A autora analisa Raduan Nassar, de Pindorama/São Paulo, 1935, considerado tão importante para a literatura brasileira quanto Guimarães Rosa e Clarice Lispector; Salim Miguel (que veio do Líbano com três anos), autor de 40 obras; Milton Hatoum, do Amazonas, reconhecido nacionalmente e detentor de vários Prêmios Jabuti; Carlos Nejar, de Porto Alegre, membro da Academia Brasileira de Letras, poeta e prosador; Miguel Jorge, de Campo Grande, bem consolidado em Goiás como escritor e jornalista; e William Agel de Mello, de Catalão, GO, também um sucesso na ficção. Os seis formam uma plêiade do que os árabes nos legaram até agora.

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