Pelos caminhos de um mestre

12/12/2017 às 19:19.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:12

Comemoramos os cem anos de José Mendonça, homem de imprensa, professor, chefe do Departamento de Jornalismo da Fafich, diretor de “O Diário”, da sucursal de “O Globo” em Belo Horizonte, presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais. A família comemorou no dia 9 de dezembro, mas quando se trata de Mendonça deve-se empregar o verbo no presente.

Nascido no Sul de Minas, vive há 81 anos em Belo Horizonte, onde colou grau em direito. Em jornal, o começo da carreira foi em “O Diário”, em 1938, folha que dom Cabral (um pioneiro, a que se também se deve a criação da Universidade Católica, a que dom Serafim deu continuação e dimensões) fundara dois anos antes. 

Não havia formação em jornalismo, em comunicação social, no Brasil, nada disso. José Mendonça assumiu a empreitada. Em 1957, convenceu a UFMG da conveniência e necessidade do curso, mesmo enfrentando oposição da Faculdade de Filosofia. Com colaboração de Adival Coelho e Anis Leão, representantes dos profissionais da área, iniciou-se a formação. Mas foi no regime militar, de que tanto se fala mal, que se fundou o Departamento de Comunicação da Federal, de que Mendonça foi primeiro diretor de 1968 a 1974. Uma glória, temos de convir. Quanta gente desde então passou pelos cursos em todo o país?

Não foram poucas as resistências vencidas pelo ex-seminarista Mendonça, em “O Diário”, fundado e mantido pela Cúria Arquidiocesana. Pela data de seu lançamento e circulação se avaliará as ideologias em debate no contexto nacional e mundial. O mesmo aconteceria quando assumiu a sucursal do jornal de Roberto Marinho, nem preciso explicar porque. Basta volta um pouco no tempo e ler, por exemplo, sua biografia, produzida em 2009 por Manoel Marcos Guimarães e Flávio Friche, seus ex-alunos na faculdade e pela historiadora Maria Auxiliadora de Faria.

Referindo-se a Mendonça, também seu ex-professor, José de Souza Castro escreveu: “Devo ter sido um dos piores alunos que ele já teve. Eu era jovem e arrogante demais. Confundia sua simplicidade e humildade com ignorância. Ele, sábio – como vim a compreender só muitos anos depois”.

Em entrevista, José Mendonça declarou: “Trabalhar em ‘O Diário’ me dava prazer porque era um jornal independente. Era também um jornal democrático, que tinha conduta democrática. Não era um jornal venal... Era um jornal ideologicamente comprometido e que tinha uma missão”. Dele disse Abgar Renault, secretário de Estado de Milton Campos: “Você trabalha em um jornal de primeiríssima categoria”.

Ao terminar este tosco registro sobre Mendonça, também homenagem à esposa e filhas, devo confessar que Mendonça encarna qualidades de varão de Plutarco, exemplar típico do homem de sociedade e de cultura grego do tempo do império romano. A ele se deve o conceito de alto valor pedagógico: “A alma da criança não é um ânfora que é preciso encher, mas uma chama que é preciso alimentar”.

Para Plutarco, condenável seria o ensino formalista, cujos conhecimentos sobrecarregam o jovem, sem exercerem influência educativa sobre sua inteligência e vontade. 

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