Risco na caixa d’água

17/11/2017 às 18:54.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:45

Haja espaço nos meios de comunicação, porque assuntos não faltam. Felizmente, existem boas notícias a divulgar e comentar, mas não se nega que as letras graúdas das manchetes ficam por conta das más, que não são poucas neste país abençoado por Deus. Imagine-se se não fosse. 

O preponderante agora, quando as chuvas chegaram, é com relação às barragens construídas nas montanhas e possivelmente transformadas em risco para a população. É tema muito sério, muito grave, a que as autoridades não podem ficar alheias e, certamente, não estão, como se depreende das informações pela imprensa.

Depois do catastrófico rompimento da Barragem do Fundão, no município de Mariana, causando 19 vítimas fatais e destruindo localidades a jusante, até a avalanche fatal alcançar o Atlântico, novas denúncias são feitas: outras poderão ter a mesma sorte – ou falta de sorte –, ameaçando extensas regiões. Muitos milhares de mineiros estão aterrorizados. E não é para menos. 

O ex-governador José Francisco Bias Fortes, do poderoso clã de Barbacena, com sua voz grave, sentenciava que Minas Gerais é a caixa d’água do Brasil. Bela síntese, que reflete a destinação de grandes extensões de nosso território para formação de represas, algumas com usinas produtoras de energia elétrica. Aí estão, por exemplo, Três Marias, no São Francisco, e Furnas, dentre várias outras no Rio Grande. Servem ao Brasil depois de perdermos ricas áreas agricultáveis.

O rompimento da Barragem de Fundão, há exatamente dois anos, com danos que se sentirão ao longo de décadas, talvez séculos, se tornou símbolo dramático. A partir de agora se dirá – antes e depois do Fundão –, e presentemente todos que vivem à margem ou abaixo de barragens sofrem os intermináveis pesadelos de situação semelhante. 

Mais se comenta e se discute, em termos técnicos e políticos, o caso da Barragem Casa de Pedra, localizada na cidade histórica de Congonhas. Por aqui, se atinge a história de Minas e do Brasil. Outro dia foi Mariana, primeira vila, cidade e capital. Agora é Congonhas, do santuário de Bom Jesus do Matozinhos, em que o Aleijadinho deixou belíssimos exemplares de sua estatuária. Poderia até recordar José Arigó, que ali viveu e a quem recorreram personalidades brasileiras em momentos de doença e sofrimento. 

Mas a dor e sofrimento agora é dos moradores de Congonhas, em cujo município a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) construiu mencionada represa “propensa a rompimento”, segundo um oficial do Corpo de Bombeiros. Nova calamidade?

A estrutura da obra se eleva em um maciço de 80 metros de altura, 9,2 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério, e a apenas 250 metros da vizinhança. Desde o ano passado, a CSN luta para estabilizá-la, mediante obras emergenciais contra infiltrações na base do Dique de Sela. É o que leio e me assusta, embora mais tangidos pelo medo sejam os habitantes dali. 

Mal redigira o texto acima, fico sabendo que também há ameaça de rompimento em dois outros empreendimentos: as barragens de Vigia e Auxiliar de Vigia, ambas num recanto histórico que preferiria ser apenas bucólico.

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