Um ditador a menos

08/07/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:26

A notícia, em duas colunas, saiu em jornais do Brasil (nem todos): Noriega morreu. O nome não significa nada para a maioria dos seres humanos do mundo. No entanto, o indivíduo foi presidente da República do Panamá, país situado no ponto mais estreito da parte continental da América Central, dividida exatamente pelo canal que liga o Atlântico ao Pacífico.

Cerca de 14 mil embarcações, correspondendo a 5% do comércio marítimo mundial, cruzam os 82 quilômetros do canal, que passou do controle dos Estados Unidos para o Panamá em 2000. O país tem 75.040 quilômetros quadrados e 3,5 milhões de habitantes, uma espécie de Grande BH, cuja economia se baseia nas atividades financeiras e nas rendas obtidas com a zona do livre comércio de Colón, a exploração do canal e o registro de navios mercantes.

A região foi alcançada pelo espanhol Rodrigo de Bastidos em 1.501 e, no ano seguinte, lá aparece Colombo, iniciando-se o povoamento em 1503 por Nunes de Balboa. Mas não é isso que me traz ao comentário de hoje. Quero falar de Noriega, que entrou em cena quando o Panamá e a Colômbia deixavam de ser uma unidade administrativa e já se concluiu a ferrovia transcontinental Panamá Railway, financiada e inaugurada pelos EUA em 1885.

Cinco anos antes, Ferdinand Lesseps, que construíra o canal de Suez, iniciara as obras do canal, mas o empreendimento foi à falência. Inaugurado somente em 1914, os Estados Unidos ficaram com o controle perpétuo da Zona do Canal, mediante pagamento de uma anuidade.

Com a presença norte-americana ali, nada se fazia sem seu conhecimento, mas a turbulência era notória. Um golpe contra o civil Arnulfo Arias, em 1968, elimina garantias constitucionais e fecha a Assembleia Nacional, subindo ao poder o general Omar Torrijos, falecido em um acidente aéreo muito suspeito. O ex-chefe do serviço secreto e colaborador da CIA, general Manuel Antonio Noriega assume o comando militar do país, enquanto o presidente eleito Burletta, denunciado por fraude, renuncia em 1985.

Noriega é acusado de envolvimento no assassinato do oposicionista Hugo Spadalafora, um médico de prestígio, torturado até o último suspiro. Torrijos, que nunca se declarou presidente, mas Líder Máximo da Revolução panamenha, assumiu a direção do país de 1968 a 1981. Após Torrijos chefia o governo Florêncio Flores Aguilar, logo substituído por Rubén Dario Paredes, mas quem mandava mesmo era Noriega, que se promoveu a general, e controlou o país até 1989.

Em 1984, permitiu a realização das primeiras eleições presidenciais em 16 anos. Quando os primeiros resultados nas urnas indicavam a vitória do ex-presidente Arnulfo Árias por grande vantagem, Noriega mandou parar a contagem de votos. Quando reiniciada, Nicolas Barletta, o preferido do governo, estava à frente e venceu por 1.700 votos. Tiranetes”.

Noriega se enriqueceu com o tráfico de drogas para os Estados Unidos, que mandaram capturá-lo em 1989, mas ele se asilou na Nunciatura Apostólica.

Os marines de Tio Sam fizeram uma balbúrdia mas o asilado não se rendia. Por intervenção do Vaticano, ele decidiu entregar-se aos fuzileiros e foi levado para Miami. Foi julgado e condenado, em 1992, a 40 anos de prisão por tráfico de cocaína, chantagem e lavagem de dinheiro. A França entrou no problema, porque ele depositara cerca de 5,2 milhões de dólares em 2010, fruto de tráfico de drogas, em bancos franceses. Este o Noriega, resumidíssimo, que deixou de existir este ano.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por