Um lugar para viver

04/02/2017 às 12:35.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:42


John Steinbeck legou à posteridade um livro que marcou a vida de muitos jovens do planeta, que não terá melhorado desde o tempo em que ele escreveu “A um Deus desconhecido”, que influenciou positivamente gerações de homens que leem e assimilam lições. Em meio à grande depressão norte-americana (faz lembrar os amargos dias de hoje no Brasil), um súdito de Tio Sam, Joseph Wayne, resolve mudar de rumo: sair de onde se encontrava radicado e procurar algum lugar, uma terra nova, na qual pudesse reerguer-se e criar a família como seres humanos dignos.

Com nosso país em recessão e mais de dois milhões de desempregados, dificuldades imensas de admissão ou readmissão no mercado de trabalho, tornou-se difícil achar um lugar – campo ou cidade – para se ir com possibilidades amplas de estabelecer-se. O Oriente Médio não constituía atração segura para imagináveis sucessores de Marco Polo em aventurosas viagens à Ásia distante; não há repetidores das odisseias imaginadas por Julio Verne; e não se ousa buscar eldorados. 
Cresce o número de refugiados – ou não – que procuram trabalho, amor e paz no Ocidente, dificultada a transferência de latino-americanos para países europeus ou Estados Unidos, onde a vida nunca foi tão boa como se propalava, a começar pelo tratamento nem sempre muito receptivo e amável, oferecido aos que chegam de fora. Com Trump, a situação se agravou, porque agora, contrariando talvez a doutrina Monroe, a América do Norte é para os americanos sim, mas apenas para os do Norte. 

A mídia, enquanto isso, farta-se de notícias sobre violências de toda natureza, em qualquer lugar e tempo. Perspectivas, sim, existem – mas não a curto prazo. Cidadãos trabalhadores e honestos são assaltados nas vias públicas e em humildes habitações na zona rural ao custo de algumas cédulas de reais e de celulares, transformados em moeda de troca de elevado valor. Os meliantes e criminosos deles não abrem mão. 
Quase 60 milhões de consumidores estão inadimplentes no Brasil, com restrições para comprar a prazo e obter crédito. Este é apenas um tópico da tragédia generalizada, que não deixa de inquietar os milhares que imaginam a alegria no Carnaval.

Com Momo ou sem ele, combate-se a febre amarela e outras doenças que surgem ou ressurgem. Os surtos preocupam as autoridades, como os assaltantes percorrem de carros ou motocicletas as rodovias interioranas, mesmo as cobertas pela poeira. Furtam, roubam, e matam, porque o sistema policial não tem condições de enfrentar a bem armada a súcia malfeitora. 

O ideal neste nosso tempo não é mais Pasárgada, sonhada por Manoel Bandeira. Embora sem as bondades do lugar imaginado pelo poeta, o ideal reside na Islândia, citada por Shakespeare e outros bons autores, um dos países mais evoluídos do mundo. Com menos de 400 mil habitantes, menor que muitas cidades do mundo e cá do Brasil, demonstra que tamanho não é documento. Lá, se registra uma das taxas de criminalidade mais baixas do planeta, inclusive homicídios. Em 2003, 2006 e 2008, não ocorreu assassinato. A média anual é de 1,8 por ano desde 2008. Enfim, ainda se consegue viver.

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