Urológica: Temer e Juscelino

15/12/2017 às 06:00.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:15

Antes, pouco se usava a palavra “próstata”. Refere-se, no entanto à glândula do sexo masculino humano, localizada no colo inferior da bexiga. Esta semana, o vocábulo voltou a ser assunto, quando o presidente Michel Temer foi acometido de problema nas vias urinárias e se submeteu a um procedimento em São Paulo, para onde foi transferido em caráter de urgência. 

Na quarta-feira, dia 13, ele foi internado, no princípio da tarde, com um quadro de dificuldade urinária e diagnóstico de estreitamento uretral, como constou de boletim médico. A recuperação exigirá 48 horas, sendo o chefe do governo acompanhado pelas equipes médicas dos doutores Roberto Kalil Filho e Miguel Srougi. 

Trata-se de uma intervenção de pequeno porte – agora uma uretrotomia interna, realizada no Hospital Sírio-Libanês, como nas vezes anteriores. O presidente tem mais de 70 anos e se cuida, como conveniente, aproveitando agora a evolução da assistência médico-cirúrgica.

Juscelino, quando tinha 68 anos, enfrentou problema semelhante. Exilado, sofreu uma lesão maligna de próstata, decidindo tratar-se no “New York Hospital”, sendo operado por um professor de alta competência. Necessitou de três cirurgias seguidas para debelar a doença, segundo o médico Fernando Araújo, dos mais conceituados de Minas, ex-presidente da Academia Mineira de Medicina e da Associação Médica de Minas Gerais. 

O caso do diamantinense ilustre, aliás, um dos pioneiros da urologia em Minas, médico do São Lucas e da Santa Casa, depois do Hospital Militar, é descrito em minúcias por Fernando Araújo: as duas primeiras cirurgias foram “por via endoscópica e demonstraram a presença de células malignas. A terceira, radical, deixou as consequentes sequelas como incontinência urinária”.

Depois, conta: “tivemos uma triste conversa telefônica com ele e Dona Sarah, antes da cirurgia, pois eles queriam dados acerca da sobrevida pós-operatória e da necessidade da operação. Optamos pela cirurgia, o que ele fez naquele hospital. Quando retornou ao Brasil, iniciamos o tratamento daquela desagradável incontinência urinária, que ele tanto tratara em seus antigos clientes. Pouco tempo após, faleceu num acidente automobilístico”. 

Juscelino era autoridade em urologia. Um registro da época é dado de Fernando Araújo, que evoca um paciente acometido de tuberculose renal, e do qual ele fazia a extirpação do rim doente: “a artéria renal foi pinçada vigorosamente mas, o que era muito comum nessas cirurgias, não oferecia extensão suficiente para ser ligada com categute ou outro tipo de fio cirúrgico. O único recurso seria manter a artéria pinçada. O caso era grave e o paciente necessitaria de uma assistência pós-operatória intensiva o que seria muito difícil na enfermaria geral, onde estava internado. Seria, nos dias de hoje, um caso para CTI, o que não existia à época. A solução foi transferi-lo para um quarto particular e como era uma pessoa muito humilde, inteiramente sem recursos, isto foi feito às expensas do doutor Juscelino que passou toda a noite – e era noite de Natal – ao seu lado. Durante os quatro dias seguintes, para evitar a possibilidade de uma hemorragia, que poderia ser fatal ao paciente, o jovem cirurgião permaneceu junto ao seu leito”.

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