2017: Há espaço para crescer?

26/12/2016 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:11

Torna-se cada vez mais evidente que a recessão econômica, com suas taxas negativas de crescimento do PIB, é um fenômeno socioeconômico tentacular que espalha as suas mazelas por todas as diferentes dimensões da sociedade. Ela atinge o bem-estar social das famílias que perdem a sua renda por causa do desemprego e do subemprego de seus membros. Ela atinge a autoestima dos micro e pequenos empresários que veem os seus negócios desmoronarem diante da falta de demanda e das taxas de juros escorchantes que pesam sobre seu endividamento involuntário. Ela atemoriza psicologicamente os jovens quando cerceia as suas oportunidades de exercitar o conhecimento e o aprendizado que adquiriram durante anos de estudos e de sacrifício.

O Brasil precisa voltar a crescer. Sem dúvida, o país voltando a crescer entre 3 e 4 por cento em média durante um lustro tornará relativamente mais fácil realizar uma gestão eficaz e justa dos conflitos sociais e das tensões políticas que estão tomando conta do atual contexto histórico. Com um ciclo de expansão em andamento, cresce a renda das famílias e também os níveis de emprego, aumenta a base tributável que permite financiar as políticas sociais compensatórias e avançam as oportunidades para os jovens entrantes nos mercados de trabalho.

Há pelo menos três plataformas de apoio à retomada do crescimento que independem relativamente do cronograma de concepção e de implementação das reformas institucionais e microeconômicas já projetadas. Uma retomada que poderá resgatar a confiança de consumidores e de empreendedores quanto ao futuro da economia. Essa confiança surgirá para os trabalhadores quando o emprego despontar no horizonte de curto prazo e para os empresários quando a demanda se ativar, e não apenas quando se realizarem as ações da austeridade fiscal.

Keynes dizia em 1923 que, em momentos de turbulências fiscais e financeiras como está vivendo o Brasil nos dias de hoje, há pouca sensibilidade política para soluções que somente são eficazes no longo prazo, quando então estaremos todos mortos. Ora, as principais medidas tomadas pelo governo federal em matéria de política econômica terão os seus benefícios diluídos no longo prazo.

Assim, é preciso analisar as três plataformas de apoio a uma retomada do crescimento mais rápida e mais segura e que não se caracterize como uma bolha especulativa ou como um evento de vida curta. A primeira plataforma de grande alcance é uma queda significativa nas taxas nominais de juros. Uma queda consistente com a desaceleração do ritmo inflacionário, estrangulado pela própria recessão. A taxa de inflação está convergindo para menos de cinco por cento em 2017. Se admitirmos uma taxa real de juros de quatro a cinco por cento, ainda absurdamente elevada para a atual conjuntura econômica mundial, podemos trazer a taxa nominal de juros do nível de quase quatorze por cento para menos de dez por cento, ainda no primeiro semestre de 2017.

A segunda plataforma está na negociação que precisa ser realizada com alguns setores da economia brasileira que apresentam grande capacidade de resposta produtiva (as atividades do agronegócio tendem a liderar qualquer lista por qualquer critério) ou estão empoçados numa inusitada capacidade ociosa. O processo de negociação visa a eliminar pontos de estrangulamento setorial, geralmente de natureza regulatória, numa via rápida (fast track).

Finalmente, é preciso acelerar os processos de privatização, de concessões, de parcerias público-privada, transformando os investimentos de infraestrutura econômica em áreas de negócios para a iniciativa privada. Acelerar, nesse caso, significa desde quebrar as resistências ideológicas aos processos de mudanças até estimular a revitalização das grandes empresas de engenharia construtiva do país após o nihil obstat do Ministério Público e da Justiça quanto à sua atuação em anéis burocráticos no passado recente.

Tudo indica que o panorama da economia internacional virá, em 2017, impregnado de riscos e incertezas. Riscos e incertezas que estão impregnando também as perspectivas da economia brasileira. Que 2017 seja, pois, um ano de renovação de ideias e de reconstrução da esperança do povo brasileiro no futuro do nosso país.

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