Lenta, gradual... e desastrosa

05/12/2016 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:55

Especialistas italianos introduziram o conceito de tempística na metodologia de planejamento do Brasil através de atividades de consultoria junto ao Sebrae. Basicamente, trata-se do seguinte: definidas as ações a serem realizadas por determinada política econômica, coloca-se em questão o momento ideal no qual uma ação deve ser desenvolvida. 

Operacionalmente, constrói-se uma Rede de Precedência que é composta por três diferentes dimensões: a sequência das ações, o cadenciamento das ações e a intensidade das ações. 

Há vários programas, projetos e políticas que fracassaram ou porque ações e iniciativas deveriam vir antes ou depois, ou por causa da rapidez necessária para que ocorram as transformações ou, finalmente, porque a intensidade das ações é inadequada ou desproporcional.

Joseph E. Stiglitz, ganhador do Prêmio Nobel de Economia, avaliou as experiências das políticas econômicas propostas pelo FMI e pelo Banco Mundial para países emergentes.

Afirma que os programas econômicos, para serem bem-sucedidos, devem ter extremo cuidado com o sequenciamento das ações – ordem em que elas ocorrem – assim como com o seu cadenciamento – o ritmo de execução das diferentes ações. Em muitos países, erros de sequenciamento e de cadenciamento levaram às taxas crescentes de desemprego e à pobreza generalizada.

Na última reunião do COPOM, o Banco Central anunciou mais uma redução inexpressiva de 0,25% na taxa básica de juros. E se diz satisfeito por estar realizando o processo de queda de juros numa cadência lenta e gradual. E eu acrescentaria: desastrosa.

Há fatores que poderiam constranger uma queda mais acentuada da taxa básica de juros. O primeiro seria a função dos juros elevados para controlar a inflação. Que inflação? O custo de vida no Brasil ainda está muito elevado, mas a taxa de inflação está significativamente baixa, caminhando para a meta provavelmente ainda em 2017. A recessão se aprofundou de tal forma que está estrangulando a inflação.

Um segundo fator seria o quadro de incertezas na economia mundial, especificamente na economia norte-americana após a eleição de Trump. Essas incertezas poderiam se refletir nos mercados de câmbio e a volatilidade da taxa cambial poderia ameaçar algum surto inflacionário. 

Quando fui Ministro da Fazenda, no início de 1993, as reservas cambiais eram perigosamente de apenas 19 bilhões de dólares. Atualmente, elas atingiram um nível bem próximo de 400 bilhões de dólares. O que dá ao Banco Central grau de liberdade para superar ataques especulativos à nossa moeda e uma gestão multifacetada da política cambial.

A política fiscal está totalmente sem espaço de ação. Politicamente, é impossível pensar em qualquer aumento da carga tributária. Do lado dos gastos públicos para fins de políticas anticíclicas de defesa dos níveis de renda e emprego, não há como pensar em medidas compensatórias, porque o governo federal e os governos estaduais estão praticamente insolventes.

Onde está o Banco Central? Por que não faz como nos Estados Unidos, Japão, União Europeia, etc, que atribuíram à política monetária funções não tradicionais visando à superação da crise econômica desde 2008? 

O Federal Reserve, o Banco Central Europeu, o Banco Central do Japão, etc, demonstraram que, considerada a realidade histórica de cada país, há muitas alternativas a serem arquitetadas com responsabilidade social, consistência técnica e bom senso para evitar que as suas economias transitassem de uma recessão para uma profunda depressão econômica.

Espera-se que o Banco Central, que tem um dos melhores quadros técnicos entre as instituições públicas do governo federal, saia de uma posição de inércia intelectual e de aversão ao risco para dar alguma esperança de crescimento aos desempregados, aos desalentados e aos novos pobres desse país.

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