Na fronteira da depressão econômica

29/04/2016 às 15:33.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:12

Vamos completar o terceiro ano em que a economia brasileira entrou em recessão. A experiência histórica mostra que, em alguns casos, a recessão pode se tornar mais severa e prolongada e transitar na direção de uma depressão econômica. Todos os romances, novelas e ensaios literários que foram escritos sobre a realidade humana numa sociedade em regime de depressão econômica descrevem com clareza o mal-estar e os dramas que acometem as famílias e os diferentes grupos sociais nesse contexto histórico. Retratam melhor o que apenas a frieza dos indicadores econômicos não demonstra, pois esse tipo de crise atinge a saúde mental e o comportamento psicossocial dos desempregados, dos desalentados e dos socialmente marginalizados.

 Mas a depressão econômica é uma construção social, não é uma maldição natural. Ela é a resultante das políticas econômicas mal concebidas e implementadas, do voluntarismo populista de governantes ineptos e de estratégias equivocadas diante de choques exógenos na economia. Ela acontece, principalmente, quando as políticas econômicas são formuladas sem refletir sobre as lições das experiências históricas de catástrofes sociais semelhantes e de como foram enfrentadas.

 Vejam, por exemplo, como os Estados Unidos evitaram que a recessão econômica de 2008 se transformasse numa grande depressão como a de 1929. Em 1933, a taxa de desemprego chegou em 25,2% na economia norte-americana; o PIB real caiu de US$ 203 bilhões  em 1929 para US$ 141 bilhões  em 1933; cresceu enormemente o número de suicídios, de doenças mentais e do consumo de álcool e drogas naquele país. Em contraste, em 2008 foi evitada a Grande Depressão e as suas mazelas sociais. Em 2009 houve uma queda substantiva no PIB dos EE.UU., mas o crescimento tornou-se positivo nos anos seguintes mesmo que com magnitudes menos expressivas. Atualmente, a economia norte-americana ensaia o início de um novo ciclo de prosperidade, graças às políticas fiscal, monetária e de crescimento ativas, inteligentemente arquitetadas e implementadas.

 No caso brasileiro, a situação é bem diferente. A perspectiva da recessão econômica para os próximos meses é ainda pior do que o atual quadro degradado do desemprego, da queda na renda familiar e da melancolia dos agentes econômicos. O problema central é do nosso subdesenvolvimento político, o qual se exprime pela incapacidade dos partidos e dos protagonistas políticos colocarem o interesse público acima dos interesses privatistas, pela incapacidade de negociar soluções consensualizadas para superar a crise econômica e pela incapacidade de realizar uma gestão administrativa da coisa pública sem contaminá-la com interesses velados e fisiológicos. Dessa forma, aumentam-se as chances de passarmos de um contexto de recessão para um regime de depressão econômica.

 Grandes transformações econômicas e sociais são incontornáveis neste momento de nossa história. É preciso buscar ideias que sejam capazes, em períodos de crise, de reduzir incertezas, de tornar possíveis pactos e coalizões, de reconstruir instituições com estabilidade. Mas, em última instância, a responsabilidade final pela situação do país está também no comportamento da população diante das várias rodadas eleitorais. Pois, como diz Carlos Drummond de Andrade “A ignorância, a cobiça e a má fé também elegem seus representantes políticos”.

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