Tempos Incertos

30/01/2017 às 15:15.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:37

Iniciamos o ano de 2017 com a economia brasileira em estado simplesmente deplorável. Há inúmeros indicadores macroeconômicos que ilustram essa condição desalentadora da economia.

A taxa de desemprego ampliada, que inclui o desemprego aberto, o subemprego e aqueles que desistiram de procurar emprego, já atinge cerca de 22 milhões de brasileiros. A dívida pública caminha para cerca de R$ 3,5 trilhões, um valor absolutamente impagável no atual contexto e resultante direto e indiretamente dos déficits nominais acumulados no passado e ainda sem solução no presente. O setor público, nos três níveis de governo, se encontra em grande parte insolvente financeiramente e prestando serviços essenciais à população de forma errática, intermitente e de má qualidade.

A experiência histórica mostra que esses problemas são menos difíceis de resolver quando a economia está crescendo, quando há um conjunto de reformas de base em processo de negociação e quando o governo tem legitimidade política junto à opinião pública, desde que conquistada através da eficácia administrativa e através do combate sistemático aos desperdícios e às práticas de corrupção. Trata-se de um campo de observação recorrente e preferencial da opinião pública que ainda está em processo de avaliação ética e política da nova administração federal.

A dívida pública caminha para cerca de R$ 3,5 trilhões, um valor absolutamente impagável no atual contexto

A retomada do processo de crescimento da nossa economia passa, no curto prazo, por três caminhos batidos. Em primeiro lugar, há um amplo espaço para a redução da taxa básica de juros a qual, ao facilitar a expansão da moeda e do crédito, permitirá superar a atual fase da política monetária que convive com uma espécie de agiotagem oficializada. A queda da taxa básica nominal de juros de forma mais acelerada não é nenhuma aventura heterodoxa pois, mesmo que essa taxa caia para um dígito, ainda assim a taxa real de juros ficará em torno de 4%, um valor ainda absurdamente elevado para os padrões internacionais.

O segundo caminho pode vir a ser uma consequência intencional da queda na taxa básica de juros. Trata-se de induzir o sistema financeiro a reestruturar as atuais dívidas das empresas e das famílias para níveis civilizados através de linhas de financiamento que não sejam próximas das práticas de agiotagem. Com suas dívidas reestruturadas, famílias e empresas podem voltar a pensar em reaquecer suas despesas de consumo e de investimentos, ampliando a demanda agregada não inflacionária numa economia dominada pelo excedente de capacidade ociosa de homens e máquinas.

O terceiro caminho é o de mais difícil implementação devido à inércia e à morosidade dos gestores da administração pública federal. Refere-se aos processos de privatizações, de concessões e de parcerias público-privadas, as quais, ao transformarem alguns segmentos da infraestrutura econômica e social do país em áreas de negócios privados, podem estimular intensamente os investimentos ou a formação bruta de capital fixo.

A sinergia dessas três trajetórias que estão ao alcance decisório das autoridades políticas e econômicas do governo federal é capaz de gerar frutos do crescimento econômico ainda no segundo semestre de 2017, desde que implementadas com intensidade estratégica e persistência doutrinária, ainda nesses primeiros meses do ano. A oxigenação da economia abre espaço para que as reformas microeconômicas e macroeconômicas possam ser discutidas num contexto social e político com menos estresse emocional e mais racionalidade técnica.

A maior dificuldade de se promoverem as discussões sobre as reformas tributárias, previdenciária, trabalhista, etc., num contexto de recessão econômica está na percepção da maioria da população que acredita que somente ela terá perdas ao final de mais um capítulo, que somente ela pode ser socialmente marginalizada e que as políticas econômicas somente trazem perdas e danos para sua qualidade de vida.

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