Muito se falou de assédio esta semana, assunto aquecido pelo polêmico “caso” José Mayer, que assediou a colega de trabalho.
Atualmente, entre as inúmeras lutas a favor da mulher, está a do direito de não ser assediada. Algo que, em tese, não deveria precisar de ser conquistado. O problema é que, pelo fato da cultura machista ditar as regras há muitos anos, comportamento como o do ator, sempre foi visto como brincadeira ou até como elogio. E ainda é.
Ao ser procurado, na semana passada, José Mayer, negou o fato justificando uma atribuição equivocada entre ele e o personagem que interpreta. Dias depois, voltou atrás e declarou-se totalmente arrependido.
O arrependimento repentino do ator me lembrou Flavio Gikovate, que discorre sobre a diferença entre o arrependido estratégico e o visceral: “Devemos desconfiar dos que, diante da ameaça de perda de privilégio, se dizem arrependidos e que mudam rapidamente porque ‘a ficha caiu’“.
A carta de desculpa do ator é polêmica, alguns gostaram outros preferiram culpar a vítima. O fato é que ainda há muita desqualificação na luta pelos direitos iguais entre homens e mulheres, um exemplo é dizer que isso tudo não passa de “mimimi”.
Para se ter uma ideia sobre a forma de como o assédio é processado de formas diferentes entre homens e mulheres, foi produzido um vídeo, que circula pela internet, onde um ator sobe a escada rolante de um shopping center e acaricia a mão de homens que descem na escada do outro lado.
A reação das vítimas do falso assédio é, em geral, de muita revolta, a maioria deles se mostra disposto a partir para a briga. A indignação revela claramente como o assédio é algo inadmissível – entre eles, pois entre mulheres é algo corriqueiro e visto como normal.
Recentemente uma campanha veiculada pela BHTrans (Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte) nos ônibus da capital mineira causou revolta em passageiros e passageiras. A campanha referia como uma “gentileza urbana” a conduta de não assediar mulheres nos pontos ou dentro dos ônibus.
A questão é tão arraigada que há assédios que são pouco percebidos, como por exemplo o de rua. É comum ouvir que, se uma mulher andar pelas ruas ou passar em frente a uma construção e não ouvir um “fiu-fiu” ela não pode se considerar bonita. Uma clara banalização da agressão.
É possível que, aos olhos de alguns homens e até algumas mulheres, o assédio de rua seja encarado como flerte, cortejo, ou até como motivo de orgulho. Mas como fechar os olhos para um problema social que oprime, intimida e em alguns casos culmina até em estupros?
O curioso é observar que o grande medo de um homem, na iminência de ir para a cadeia, é ser estuprado, já a mulher convive com esse medo todos os dias. É a famosa pimenta nos olhos dos outros é refresco.
Viver em sociedade implica em freios sociais e civis e isso inclui conter o impulso de não cometer crime, seja ele físico, psicológico ou moral.