Desonestidade emocional

22/02/2017 às 19:01.
Atualizado em 16/11/2021 às 00:40

A desonestidade emocional é um comportamento que pode se manifestar de duas formas: direcionada ao outro ou em condutas contra si próprio.

Sou desonesto com o outro quando eu escondo quem eu sou para causar uma boa impressão, quando eu minto minhas reais intenções para conquistar alguém, quando eu forjo qualidades que não possuo ou sentimentos que não sou capaz de sentir.

Algumas pessoas agem assim por fraqueza, outras por “espertismo”. Os mais fracos ocultam quem são e o que sentem por medo de não serem aceitos, uma vez que nem eles próprios se aceitam como são. Acabam por simular condutas e sentimentos que julgam ideal e assim minimizar o risco de serem rejeitados. Já os espertalhões, sem freio moral, forjam qualidades e sentimentos no intuito de levar vantagem.

Contudo, nem sempre a desonestidade emocional é algo que atenta contra o outro. Na maioria das vezes o atentado é contra si próprio.

É cada vez maior o número de pessoas que abafam o que sentem por vergonha, medo ou covardia. Abandonam seus reais sentimentos em prol de um modelo. Com isso estão sempre se adequando ao que a sociedade quer, ao que a família sonha, ao que as regras de conduta ditam.

A fidelidade aos próprios sentimentos não é algo fácil, sobretudo quando entra em choque com o condicionamento social. Contudo, trair-se, além de gerar constante sensação de frustração, ainda termina por causar grande arrependimento no final da vida.

Bronnie Ware, uma enfermeira australiana que cuidava de pacientes em fase terminal, escreveu um livro sobre os maiores arrependimentos das pessoas antes de morrer e o relato mais ouvido foi: “Eu gostaria de ter tido coragem de viver uma vida fiel a mim mesmo, e não a vida que os outros esperavam de mim”.

Quando a morte acena para a vida, parece que fica mais fácil perceber o quanto somos infiéis a nós mesmos. Vivemos para satisfazer o outro, preocupados com a imagem e temendo os julgamentos alheios. Protelamos a nossa felicidade como se o amanhã estivesse garantido, quando, na verdade, não está.

Às vezes passamos uma vida inteira prisioneiros de supostos modelos de sucesso tentando agradar à sociedade, à família, ao cônjuge, esquecendo de considerar a nossa própria vontade. Somos covardes com as nossas emoções por medo, receio, pudor de expressar nossos sentimentos. Fingimos ser quem não somos para agradar os demais.

Este simulacro pertence ao universo dos adultos. As crianças são mais verdadeiras. Reclamam quando não gostam e expressam afeto quando se sentem felizes. Fazem isso por não temerem o “ridículo” e assim ficam livres da carapaça que nós, adultos, colocamos para nos proteger.

Há quem reprima as emoções ruins em prol da boa convivência, e há quem reprima as emoções boas por pura vergonha de demonstrá-las. A isso, Dostoievski nos deixa uma profunda e simples sugestão: “não sinta tanta vergonha de si, é daí que tudo se deriva”.

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