Filosofia do medo

07/09/2016 às 17:01.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:44

O medo de tomar decisões deriva da insegurança. Quanto mais inseguro, mais medrosa é uma pessoa. Medo de errar, medo de perder, medo de fracassar, medo do desconhecido. Vários medos envolvem a tomada de decisão.

Biologicamente, sentimos medo como reação natural de preservação da vida. Este medo que nos protege é considerado um “medo bom”, visto que a ausência dele nos deixa expostos à condição de risco. Entretanto, quando ele ocorre de forma exagerada ou irracional, pode nos paralisar, acovardar e roubar nossa liberdade de escolha.

Escolher é, por vezes, um processo desconfortante, uma vez que a decisão implica numa renúncia. E nessa hora estamos sós. Amigos, cônjuge e família podem dar suas opiniões, às vezes contribuindo, outras vezes atrapalhando.

Por medo que lhes são próprios, algumas pessoas acabam desencorajando as outras, através de crítica, pessimismo, previsões futurísticas que mais amedrontam que motivam. E não é por culpa delas. De uma maneira geral, as pessoas são treinadas mais para sentirem medo do que para sentirem coragem.

Certa vez, soube de uma moça que tinha um alto posto de trabalho num jornal americano. Um emprego dos sonhos de muita gente. Bom salário, uma aparente estabilidade, ótimos benefícios e o respeito conquistado pelos anos de dedicação. Contudo, mesmo com esse contexto favorável, ela não se sentia mais feliz e decidiu que não queria mais viver longe do seu país. Depois de quase 15 anos morando nos EUA, queria voltar para o Brasil. Ela já estava certa de que pediria demissão, porém sua maior dificuldade era convencer sua família e amigos da sua decisão. Para eles, o fato de ela não estar mais feliz não era o bastante. Recebeu duras críticas da família que repetia diuturnamente: “emprego bom igual a esse você nunca mais vai achar”.

Algo semelhante acontece no campo sentimental, quando se relaciona com alguém considerado como uma “pessoa boa”. Este foi o caso de Inês, uma moça que namorava um rapaz trabalhador, bem empregado, bonito, educado, bom caráter e apaixonado por ela. Contudo faltava “apenas” amá-lo, o que ela tentou anos a fio e não conseguiu. Todas as vezes que ensaiava um término, ela ouvia: “namorado bom igual a este você nunca vai achar”. O medo de terminar o namoro fez com que ela insistisse por seis anos numa relação que ela não sentia firmeza.

A filosofia do medo – “igual a este você nunca vai achar” – pode até ser bem intencionada, mas não deixa de ser perversa, uma vez que vem embalada de preocupação e desmerece o estado emocional do outro.

Ficar prisioneiro do medo é uma forma limitada de levar a vida. Ao nos depararmos com uma situação de insegurança é bom refletirmos à luz da sabedoria do escritor americano Mark Twain: “coragem não é a ausência do medo, e sim o enfrentamento dele”. 

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