Por que muitos só gostam de quem não gosta deles?

O desdém alheio estimula o desafio por ser entendido como uma afronta ao ego: “como alguém ousa não gostar de mim?”. Nessa hora, a conquista vira uma questão de honra.

07/04/2016 às 10:42.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:50

Muitos reclamam que só gostam das pessoas erradas ou de quem não demonstra nenhum interesse por elas, reeditam esse comportamento sob a justificativa de ter o “dedo podre”. 

Culpar o “dedo” ou a má sorte é mais confortável do que trazer para si a responsabilidade das escolhas, afinal, mergulhar dentro da própria fraqueza não é fácil, é preciso querer, e poucos querem. 

Mas, afinal de contas, por que alguns se sentem atraídos por quem os despreza e acabam por desprezar quem se interessa por eles?

Primeiramente é preciso ressaltar que isso não é uma regra, existem várias dinâmicas de relacionamento e esta é apenas uma delas. O que ocorre é que algumas pessoas movidas por desafios, sentem-se atraídas pela conquista, sobretudo as difíceis. Querem extrapolar o nível máximo da competição: atingir o inatingível, mudar o imutável, chegar onde ninguém chegou. A vitória que decorre desse empenho é praticamente uma necessidade para chancelar sua valorização pessoal.

Muitas vezes, o interesse se intensifica quando encontra o desprezo. O desdém alheio estimula o desafio por ser entendido como uma afronta ao ego: “como alguém ousa não gostar de mim?”. Nessa hora, a conquista vira uma questão de honra.

É um engano pensar que esse jogo de sedução só acontece em começo de relação. Há casos em que essa cruzada acompanha permanentemente a vida do casal. Isso ocorre quando o conquistador é constantemente desafiado.

or exemplo, quem se casa com alguém que deixa dúvidas sobre seu amor, alguém infiel, etc. Nesses casos, a relação é o próprio desafio. Uma espécie de jogo odiado e desejado, onde um anda nas nuvens, enquanto o outro tenta alcança-lo (ou mudá-lo).

Essa dinâmica mantém o casal unido através de uma química perversa que, na maioria das vezes, é confundida com amor. Mas, é importante pontuar que, a situação por si só evidencia o contrário: o elo pesa mais para o desafio do que para o sentimento. 

Quando isso ocorre, muitos se perguntam porque não conseguem se desligar da situação mesmo se sentindo tão desconfortáveis.

Muitas vezes a resposta está na infância. Crianças que não se sentiram valorizadas pelos pais ou que foram muito repreendidas, recebendo constantes críticas e comparações, tiveram que, para se sentirem amadas, fazer esforço para “conquistar” seus pais, que por sua vez permaneciam “durões” tornando a conquista do filho um desafio difícil de ser atingido. 

Numa tentativa inconsciente de ser reparado, esse déficit emocional da infância pode ser levado para a vida adulta se manifestando nas más escolhas ou “dedo podre”, fazendo do desafio a melhor forma de amar.

Para quebrar esse ciclo é preciso descredenciar os equívocos emocionais infantis. Tarefa difícil, porém possível, sem a qual o amor continuará a serviço do orgulho e não do sentimento. 

Neste caso a frase dita pelo poeta do rock é bem apropriada para reflexão: “O seu amor é uma mentira, que a minha vaidade quer”.

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