A mania do gato por lebre

15/06/2018 às 20:30.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:38

Já falei nesse espaço sobre a praga da empurroterapia – aquela história de oferecer ao proprietário de veículo tudo o que ele... não precisa – é troca de fluido de freio na primeira revisão, cristalização de pintura, limpeza de bico injetor, aditivo colorido vindo sabe-se lá de onde que promete aumentar em 50% a economia de combustível –, entre outros absurdos que andam de mãos dadas com a desinformação e a boa-fé do cidadão, preocupado que está em conservar seu carro e não correr riscos.

E se engana quem pensa que estamos falando de práticas apenas de oficinas, postos de gasolina ou lojas de autopeças, a coisa chega também ao topo da pirâmide; às montadoras. Basta ver as recentes manipulações nos sistemas de controle de emissões poluentes – e aí a tentativa era de ludibriar não o consumidor, mas governos e organismos de controle.

Tudo isso para dizer que chama a atenção a postura de algumas fabricantes e seu material de divulgação. Chega um texto com as especificações e principais novidades de um determinado modelo e lá estão listados, entre os itens de série, os airbags dianteiros para motorista e passageiro e o ABS, o sistema anti-travamento dos freios – e não é um caso ou outro, é quase sempre. E eu imagino que o mesmo seja dito pelo vendedor quando da visita do interessado à concessionária.

O problema da história é apenas um, simples: desde 2016 tanto um dispositivo de segurança quanto o outro são de instalação obrigatória em todos os veículos zero quilômetro que deixem a linha de montagem. Não é mérito da fabricante, muito menos preocupação com a integridade dos ocupantes, mas exigência legal. 

O mesmo valerá com o sistema Isofix de fixação da cadeirinha infantil – já tem de estar presente em projetos inéditos e, até 2020, em 100% dos veículos produzidos. É quase como dizer que motor, volante e rodas não são oferecidos como opcionais, mas vêm em todas as configurações sem custo adicional.

Sem contar que, em pleno Século XXI, se vangloriar de finalmente ter instalado “apoio de cabeça central e cinto de três pontos para o passageiro do meio do banco traseiro” é, como diz o outro, “de lascar o cano”, e não o de escapamento. Seria o caso de guardar a empolgação para sistemas inteligentes de auxílio ao motorista, luzes em LED com regulagem automática de intensidade do facho, direção elétrica e outras comodidades e recursos de segurança dignos do nome.

Acontece mesmo com aquelas mensagens veiculadas em propagandas como “no trânsito somos todos pedestres”, que você pensa ser fruto de um departamento de marketing atento e descobre que é imposição do Contran. Talvez seja o caso de pensar em algo mais radical e incluir, como nos anúncios de remédios, a lista do que é exigido pela legislação e sem o qual um veículo novo não pode ir para as mãos do proprietário. Ao menos para evitar essa história de vender gato por lebre. Sinceridade e respeito deveriam ser itens de série, não opcionais...

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