Ainda no tempo das carroças

07/04/2017 às 19:07.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:03

Quando no começo da década de 1990 o então presidente Fernando Collor decidiu facilitar a importação de veículos e, na prática, retomá-la de verdade, referiu-se aos modelos fabricados no Brasil como carroças – e olha que a comparação não era com os superesportivos que ele teve e tem na garagem. O mercado doméstico realmente havia parado no tempo e se contentava com o que era oferecido. 

Nesse aspecto, apesar da gritaria geral de quem já estava estabelecido por aqui, a medida surtiu efeito, abrindo espaço para o que havia de mais moderno e forçando as fábricas a elevar o nível de seus produtos. E olha que também veio muita porcaria ou coisa boa desacompanhada da necessária estrutura de reposição de peças e manutenção. Mas o joio acabou separado do trigo e, o que é melhor, várias montadoras resolveram se instalar de verdade por aqui.

Essa é a parte boa da história. Porque, olhando ao longo dessas três décadas, ainda não dá para dizer que ficamos livres das carroças, literalmente. Carros, SUVs, picapes e o que mais seja estão cada vez mais repletos de tecnologia, é verdade. É sistema multimídia, direção elétrica, controles de tração, estabilidade, assistentes de partida, estacionamento mas, por outro lado, equipamentos dos primórdios do automóvel.

Ou alguém consegue conceber que picapes médias de uma tonelada (um exemplo: a Chevrolet S10) ainda saiam de fábrica com suspensão traseira por feixe de molas, mesmo sistema das carroças puxadas a cavalo? E que muitos modelos de entrada insistam no anacrônico freio traseiro a tambor. Já prestou atenção como hoje mesmo a grande maioria das bicicletas já se rendeu à tecnologia do disco, mais eficiente e prática? Na semana passada comentei sobre o reestilizado Toyota Corolla, que mantém na suspensão traseira um eixo de torção, até aceitável em modelos mais simples, mas não em um sedã médio.

E nunca é demais lembrar que, se hoje as fábricas batem no peito e anunciam o ABS e os airbags dianteiros como virtude, foram obrigadas a engolir a evolução por força de lei. O Isofix, muito mais seguro para fixar os assentos infantis, agora começa a ser regra, e não exceção.

Culpa apenas das montadoras? Não necessariamente. Quando tem a opção de escolher entre a perfumaria e a segurança, o consumidor prefere um display maior do multimídia, o câmbio automático com borboletas no volante ou um acabamento mais caprichado no interior, quando poderia optar por airbags de cortina, por exemplo. Sinal de que precisamos evoluir todos: fábricas, proprietários e também a legislação, para forçar quem produz a aprimorar seus modelos e finalmente deixarmos o tempo das carroças.
 

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