Cara de um, focinho (ou traseira) de outro

30/11/2017 às 21:40.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:58

Houve um tempo em que o design típico de cada montadora era totalmente distinto dos rivais. Bastava olhar para um modelo e mesmo quem não entende lhufas de carro sabia na ponta da língua: aquele ali é um Volkswagen, aquele outro um Fiat, e por aí vai. Lógico que tinha muito a ver com a quantidade menor de categorias e segmentos. Não tínhamos requintes de classificação como SUVs GT/cupê, crossovers e coisas do tipo.

Hoje as opções são imensas, as montadoras se esmeram em inventar moda, os processos de produção permitem transformar aço, plástico, acrílico e outros materiais em qualquer forma desejada ? basta ver o grau de complexidade dos faróis com seus recortes e filetes em LED para constatar até onde se pode chegar. E os designers (não os estúdios, como Pininfarina, Giugiaro ou Bertone) foram elevados à condição de estrelas ? propagandear que um carro foi concebido por Walter De Silva, Chris Bangle, Peter Schreyer ou Iain Callum é quase uma obrigação, um valor agregado.

Tudo muito bonito (na verdade, nem sempre), mas não deixa de ser curioso um fenômeno: se as marcas conseguem manter sua identidade, os carros nem sempre. Tudo bem, a grade em forma de duplo rim está na dianteira de cada novo BMW, um Jeep ainda traz a grade com aberturas verticais do lendário e pioneiro CJ5, mas algumas soluções se tornaram quase inevitáveis. 

Onze entre dez modelos médios, compactos ou sub-compactos trazem uma grade hexagonal, ainda que os lados do polígono tenham tamanhos variados. Já que falamos de faróis, a ordem agora é esticá-los pelas laterais (um dia vão acabar indo até as portas). E a luz indicadora de mudança de direção (a boa e velha seta) agora tem que estar nos retrovisores externos. Aliás, taí uma coisa que piorou com a tecnologia: antes quando um motorista pretendia mudar de faixa havia luzes imensas que não deixavam dúvidas. Agora se acende um filetinho mixuruca (em LED, lógico)? E a grande maioria ainda não tem costume de prestar atenção no retrovisor alheio.

Ironias e setas à parte, que o assunto aqui é o desenho, as linhas básicas ficam cada vez mais parecidas. Experimente tirar as logomarcas de um novo (o europeu, não o brasileiro) Ford Fiesta, um Seat Leon e um Hyundai I30 e dizer quem é quem na história se torna complicado. Os dois mais novos modelos no mercado brasileiro – os futuros rivais Fiat Cronos e VW Virtus padecem do mesmo “mal”: a tampa do porta-malas agora tem que ter um bico, uma extensão que lembra um aerofólio, mas não tem qualquer função a não ser estética.

Isso é propriamente um defeito? Não, embora mostre que é cada vez mais difícil inovar, sair do quadrado. E pode fazer com que a escolha seja cada vez menos uma questão de impacto visual, já que está tudo tão parecido.

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