De vilão a mocinho a vilão

08/06/2018 às 19:03.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:30

Era uma vez um derivado do petróleo capaz de atingir taxas de compressão elevadas por meio de sua injeção direta na câmara de combustão dispensando velas e todo o aparato de ignição. Por gerar potência em rotações mais baixas, ele era perfeito para aplicações pesadas, como o transporte coletivo de passageiros e o de cargas, exigindo motores de concepção mais simples e capazes de durar bem mais mesmo sob uso extremo. Um combustível cujo grande defeito era apenas o de poluir mais do que a gasolina.

Por décadas o material identificado pelo engenheiro alemão Rudolf Diesel (que por isso ganhou seu sobrenome) serviu para empurrar veículos pesados e, com o desenvolvimento de tecnologias de controle de emissões, se tornou figurinha fácil também entre os menores. Na Europa, tornou-se praticamente uma febre, favorecido pelo custo mais baixo e por transformar em passado as reações dos primórdios (vibrações excessivas, desempenho chocho). Uma a uma as montadoras passaram a apostar no diesel, o que só não aconteceu por aqui devido a uma sempre mal explicada decisão de gabinete, sob a alegação de que o país não teria como suportar o aumento da frota que roda com o combustível sem aumentar, e muito, seus preços nas bombas.

Eis que aquele que por muitos anos foi o vilão do meio ambiente e patinho feio entre os combustíveis ganhou posição de mocinho, presente em cada vez mais garagens. E a impressão que se tinha era de que nem mesmo as normas cada vez mais rigorosas seriam capazes de impedir a disseminação dos motores diesel.

Mas... veio um tal de Dieselgate e mostrou que a coisa não era bem assim. Os alemães da Volkswagen, para não gastar o necessário, optaram por uma escaramuça que fazia o propulsor respeitar os limites de emissões apenas quando testados, mas não no uso diário. Algo que poderia ter passado despercebido, mas acabou punido com multas e indenizações bilionárias. E que, especula-se, não teria sido exclusividade da montadora de Wolfsburg.

Ficou claro que desenvolver tecnologia capaz de poluir menos e render mais é muito caro. Se até outro dia questionávamos a ausência do diesel nos veículos de menor porte por aqui, agora estamos diante de um cenário de extinção do combustível, ao menos em seu uso automotivo.

Uma a uma, as grandes corporações da indústria sepultam suas linhas de motores a diesel, apostando nos propulsores a gasolina ajudados por turbinas ou na força dos sistemas híbridos. Algumas com pompa e circunstância, outras em quase silêncio. Mas é a crônica de uma morte anunciada. Quem abasteceu pagando menos, andando muito e descobrindo que o diesel podia ser uma opção interessante abasteceu. Quem não, agora pelo visto só nas picapes, ônibus e caminhões, isso enquanto também eles não se renderem a outros combustíveis...

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