Escapamos de boa

23/03/2018 às 13:31.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:00

Finalmente a pressão popular e toda a discussão nas redes sociais fizeram efeito e você, amigo leitor que dirige, ficou livre de uma. Sim, porque o texto da Resolução 726 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), órgão vinculado ao Ministério das Cidades, por muito pouco não foi mais uma invenção desnecessária enfiada goela abaixo de todos nós, ao determinar que, para renovar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), seria necessário passar por “curso de atualização ou de aperfeiçoamento, conforme regulamentação estabelecida no Anexo IV do documento”.

Os mais “experientes” hão de se lembrar dos tempos do selo pedágio, excrescência criada para onerar ainda mais o consumidor, que, por meio de impostos, taxas e do pagamento de multas já financiava (ou deveria) a conservação da malha de rodovias federais. Depois veio um kit de primeiros socorros, de pouca ou nenhuma utilidade prática, a não ser enriquecer quem o produzia. Por fim, a questão do extintor ABC, que pegou os incautos e honestos preocupados em seguir a legislação, mas acabou deixada de lado tão logo de constatou sua ineficácia em termos práticos.

Agora, a bola da vez com o “tal” curso, ministrado em 10 horas-aula, naturalmente a um custo, seria reciclar os condutores em termos de sinalização e comportamento nas ruas e rodovias. Na teoria, até uma ideia interessante, se houvesse o que reciclar. Com a ajuda da tecnologia, hoje respeitar as regras se tornou ainda mais fácil graças a sistemas de piloto automático, assistentes de partida e estacionamento e câmeras que ajudam a visualizar pontos cegos.

O “xis” da questão, no entanto, não está aí. Quem comanda e dita as regras deveria se preocupar com antigos vícios que, pelo visto, não são devidamente cuidados quando o candidato se prepara para obter a primeira habilitação. Basta constatar nas ruas a quantidade de conversões irregulares, manobras não sinalizadas, ultrapassagens pela direita, avanços de sinal, sem contar o uso indiscriminado do celular e outras práticas nada seguras ou recomendáveis. Se os centros de formação fazem sua parte (e partimos do pressuposto que sim), toda a teoria é solenemente ignorada na prática.

De onde se conclui que as autoridades deveriam se preocupar não em criar mais uma burocracia inútil – e a própria justificativa para revogar a resolução admitiu isso de certa forma –, mas em reforçar a fiscalização e as campanhas educativas. Cursos “para inglês ver” não farão de nossos motoristas melhores ou mais respeitosos da sinalização. Quem sabe agora, depois de abortada o que seria uma bobagem, finalmente não se pensa nisso. 

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