Fatalidade para refletir

26/01/2018 às 21:01.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:59

Causou grande comoção e polêmica nos últimos dias o acidente em que um motorista, em um suposto episódio de perda de consciência, avançou sobre pedestres no calçadão da Praia de Copacabana, no Rio, ferindo 16 pessoas e provocando a morte de uma bebê de oito meses. Identificado, o motorista foi submetido a exames que não constataram o consumo de álcool ou qualquer tipo de droga ilícita, mas admitiu sofrer de epilepsia, condição não listada em sua Carteira Nacional de Habilitação (CNH).

Como tem sido comum em tempos de redes sociais, logo teve início um linchamento virtual do causador do acidente, com direito a uma série de conclusões e afirmações apressadas e equivocadas. Sim, a partir do momento em que houve perda de vidas e ferimentos sérios, estamos falando de uma tragédia, mas é necessário analisar o contexto com calma para ir além, no que, acima de tudo, mostra ser uma fatalidade, como tantas acontecem menos noticiadas, só porque em locais menos conhecidos ou em circunstâncias diferentes.

Mais do que tomar partido ou sair acusando quem quer que seja na história, queria refletir sobre os vários problemas e pecados envolvidos no caso. Antes de mais nada, o fato de que a grande maioria dos cidadãos, ao se habilitar para a direção, não admite diante da autoridade uma condição clínica, ou o uso de medicamento específico que possa interferir na condução. No máximo (e porque um exame de acuidade visual é obrigatório), o documento traz a inscrição “exigido o uso de óculos ou lentes corretivas”.

Ao que eu me pergunto: será que há como tornar os exames mais rigorosos a ponto de identificar riscos que desaconselhem a direção? Talvez no futuro, quando os documentos contiverem chips com informações básicas sobre cada cidadão e seu prontuário médico isso seja possível. Por agora, é bem pouco provável.

E há os incidentes que não mandam aviso; crises cardíacas, quedas de pressão, apagões que, evidentemente, ao volante, têm potencial fatal (a começar pelo próprio condutor). Nesses casos, há pouco a fazer para prevenir ou antecipar.

Se fica uma lição do ocorrido, é a de que já há fatores favorecedores o suficiente para que a turma dos maus costumes insista em falar ao celular enquanto dirige; ache que as avenidas são pista de corrida ou simplesmente ignore as regras de trânsito. Cobrar das autoridades que façam o que devem é necessário e fundamental mas, antes, é necessário pensar que nós fazemos o trânsito.

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