O exemplo que vem da França

06/07/2018 às 20:02.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:15

Não que o Brasil tenha que obrigatoriamente imitar tudo o que funciona nos países considerados desenvolvidos, especialmente quando se trata do trânsito e dos veículos. Afinal, é impossível comparar a qualidade das estradas e demais vias, não só em termos de asfalto (ou desgaste dele), mas também de sinalização e segurança. Por isso se entende a decisão dos alemães em liberalizar a velocidade em suas Autobahns, embora haja limites sim, inclusive de velocidade mínima.

Mas não deixa de ser curiosa a mudança que entrou em vigor no primeiro dia deste mês em território francês: o governo resolveu diminuir, dos 90 quilômetros por hora anteriores, para 80, a velocidade máxima nas rodovias de mão dupla sem separação central. Que, lá, normalmente ligam municípios menores, regiões mais afastadas e concentram movimento bem mais baixo.

Uma medida recebida com indignação por vários setores, alvo de críticas e polêmicas, sob a alegação de que vai tornar os deslocamentos mais demorados e que os equipamentos de segurança ativa e passiva e ajuda ao condutor são cada vez mais modernos e difundidos por lá.

Gostando ou não, o motorista francês terá de se acostumar com a novidade. Que, segundo o Conselho Nacional de Segurança Rodoviária, o órgão oficial responsável pela regulamentação do trânsito no país da Torre Eiffel, traz o potencial de reduzir em 15% o total de mortes – os especialistas argumentam que a maioria dos acidentes fatais ocorre nesse tipo de estrada vicinal, de menor porte. E estamos falando de cerca de 3.400 mortes/ano. Sobre as críticas, lembram que, num percurso de 40 quilômetros (a grosso modo, a distância entre o Centro de BH e o Aeroporto de Confins), o percurso demorará apenas três minutos e 20 segundos a mais.

Por aqui, a legislação caminhou em sentido contrário entendendo, a partir do fim de 2016, que, quando não houver sinalização com limite mais baixo, é possível trafegar a até 100 quilômetros por hora nas rodovias em pista simples.

E estamos falando de um trânsito que ainda mata mais de 40 mil pessoas ano – felizmente não somos mais recordistas mundiais, mas ainda não é número a ser comemorado. Tanto mais que, como falei lá no alto, não é apenas questão de buracos e asfalto danificado, mas também de placas que, embora estejam onde devem, muitas vezes acabam cobertas pelo mato, depredadas; sinalização de solo inexistente, elementos que comprometem a perfeita visualização especialmente à noite.

Sei que com a correria cada vez maior nas nossas vidas, uma iniciativa semelhante geraria grita nacional, tanto mais que não há a visão de que é possível ganhar quando se perde. Mas se os franceses, que estão anos-luz à nossa frente nas principais estatísticas, decidem fazer isso para poupar “meras” 300 a 400 vidas por ano, é o caso de refletir e pensar se não devemos fazer o mesmo, para salvar muito mais gente.

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