Só desculpas não bastam

03/03/2017 às 20:47.
Atualizado em 16/11/2021 às 00:48

A semana que aqui foi de Carnaval teve, nos Estados Unidos, mais um capítulo de uma história que interessa, e muito, aos  brasileiros. Na segunda-feira, a japonesa Takata admitiu, diante da Justiça, culpa no escândalo envolvendo milhões de veículos em todo o mundo – não há números exatos, mas a lista pode passar dos 80 milhões – equipados com airbags dianteiros que trazem grave risco aos ocupantes.

Se você não acompanhou os detalhes do que já se tornou o maior recall da história do automóvel (e o maior escândalo também, superando o Dieselgate, da Volkswagen), vamos aos fatos: a partir de 2008, vários acidentes, inclusive fatais, foram ligados a falhas no acionamento de airbags fabricados pela empresa nipônica. O que parecia se tratar de fatos isolados começou a ganhar proporções gigantescas, tão logo as investigações mostraram que o equipamento estourava quando inflado e partículas metálicas de seu interior atingiam motorista e passageiro. Desde então, teve início a corrida das montadoras para a troca do dispositivo, o que acabou se mostrando inócuo em vários casos.

O problema é provocado pelo uso do nitrato de amônio como elemento detonador – ele, em si, não seria perigoso, mas a mudança de suas características com a umidade e a variação de temperatura transformou as bolsas infláveis em armas mortais. E apenas no Brasil, estima-se, ainda há 2,5 milhões de carros rodando equipados com os airbags incriminados, sem contar os que já fizeram a manutenção exigida. A solução encontrada, ao menos por enquanto, não é a troca do airbag por outro supostamente seguro, mas a aplicação de um elemento secante capaz de atenuar as condições de risco.

Antes que comece uma onda de preocupação exagerada, vale destacar que, mesmo nos EUA e Europa, vários veículos ainda rodam com os airbags irregulares – o megarecall foi dividido em “ondas”, com prioridade para os modelos com até cinco anos de fabricação, que realmente apresentam risco – acredita-se que apenas em 2020 a totalidade dos veículos terá passado pelo reparo.

A novidade no imbróglio é o fato de que a Takata, ao admitir a culpa, o fez apenas em relação às montadoras de veículos que, segundo a empresa, não saberiam da irregularidade, fato bastante improvável. Além disso, embora tenha se comprometido a investir US$ 1 bilhão para compensar quem foi prejudicado com a derrapada imperdoável, a fábrica se mostra menos preocupada com a segurança dos usuários e mais com a possibilidade de encontrar um comprador que impeça sua falência. É de se esperar uma enxurrada de ações na Justiça (e os brasileiros deveriam seguir o exemplo dos norte-americanos), já que se tratou de risco de vida. Por enquanto, os japoneses se limitaram a pedir desculpas publicamente, muito pouco para quem brincou com assunto tão sério.

  

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