De dores e alegrias

01/03/2018 às 16:45.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:39

A psicóloga e palestrante Érica Machado fez algumas visitas ao albergue Tia Branca e conheceu a realidade de alguns homens que moram nas ruas da capital e que no fim da tarde de cada dia, por volta das 17h, entram numa fila para concorrerem, diariamente, a 400 vagas para jantar, banho, pernoite e café da manhã.

Sensibilizada com a situação, Érica reuniu alguns amigos e criou o “Trem das Sete”, que às quintas-feiras, sete da manhã, se reunia com alguns desses homens para falar sobre escolhas, carreira, mercado, autoestima etc.

Do projeto inicial surgiu uma nova ideia. Lembro dela falando: “Tio Flávio, um dos maiores problemas desses homens é a ociosidade. Eles ficam ociosos durante o dia e aí vêm as lembranças, as dores, o vício e a dependência. E se a gente colocasse eles para correr, praticar esportes, dar exercícios para o corpo e para a mente?”.

Pois daí nasceram os “Corredores de Rua”, homens que mesmo morando nas ruas eram assistidos diariamente por médicos, fisioterapeutas, nutricionistas, que corriam com eles, todos voluntários. Vários abandonaram as drogas, vislumbraram uma nova vida e descobriram mais sentido no que faziam. Um deles foi o Érisson Carneiro dos Santos, jovem que entrou para o mundo das drogas muito cedo, aos 12 anos. Usou de solvente a crack. Perdeu tudo, inclusive a dignidade. Mas recuperou tudo, inclusive a esperança, ao entrar para o grupo. Certo dia ele falou: “o pessoal aqui (do albergue) está falando sobre um projeto de esportes para a gente. Eu vou entrar”.

E realmente ele entrou, se dedicou, começou a se interessar por projetos sociais, foi em diversas palestras para dar seu depoimento e contar sua história para presos e jovens. Fez a inscrição num grupo de visita a um asilo no Barreiro.

Érisson estava reconstruindo sua história, esperava uma oportunidade numa nova república mantida pela prefeitura para poder morar lá e sair das ruas. Mas, pelo uso prematuro e exagerado das drogas, teve complicações nos rins e foi internado. Os amigos fizeram campanha de doação de sangue para ele e o diagnóstico seria de hemodiálise.

No último sábado, dia da primeira visita dele no grupo voluntário do asilo, ele partiu. Seus rins não aguentaram. Aqui fica nossa homenagem ao esforço dos diversos Érissons que encontramos por aí e o nosso respeito àquele Érisson, que tinha dor e esperança nos olhos, vivendo juntas.

  

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