Voluntariado com compromisso

23/03/2017 às 20:18.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:51

O brilhante Zygmunt Bauman, que nos deixou fisicamente neste ano, dizia que “estamos todos numa multidão e numa solidão ao mesmo tempo”. Mesmo vivendo em meio a tantas tarefas, pessoas, amigos virtuais, percebemos que temos as nossas próprias angústias, muitas delas solitárias, que por mais pessoas próximas, não conseguimos dividir.

Mas, interessante, que ao passar por essa solidão, algo novo surge dentro da gente com mais força, quando conseguimos recuperar das quedas que muitas vezes o momento nos traz: é a vontade de encontrar significado na vida, de ser útil.

Aí surge a vontade de voluntariar-se em algum projeto, ou mobilizar amigos para uma causa. Muitas vezes a euforia se torna passageira e somos atropelados pelo trabalho, afazeres, rotina, tempo. Mas há pessoas que sentem que essa entrega é parte de sua vida e a coloca como essencial.

Lembro quando fomos pela primeira vez a uma casa de crianças com câncer, levar profissionais para fazerem maquiagem nas meninas em tratamento de quimioterapia e que uma mãe nos disse que a filha não havia conseguido dormir de ansiedade com a ação do dia seguinte. As crianças, maquiadas e com unhas pintadas, iriam ao cinema e depois comeriam uma pizza com as suas mães, já que todas são do interior e só vêm em BH para se tratarem.

Nesse dia soou um alarme mental: ninguém é obrigado a voluntariar-se, como o próprio nome diz. Mas, ao se prontificar em fazer algo, seja individual, grupo, em projetos já existentes, aí sim você construiu compromisso e dele dependerão e esperarão várias pessoas.

Entenda que o grande ganho em participar de ações sociais é dos assistidos, da sociedade, do governo, que muitas vezes é omisso ou não consegue sozinho. Mas o maior ganho é de quem vai, vive aquele momento e tira dele grandes reflexões e ações.

Acredito que o termo empreendedorismo esteja ligado à mudança de atitudes, comportamentos e mentalidade, e vejo nas escolas uma oportunidade de ter acesso a isso. Mas, entendo também, que conhecer histórias de vida é como fazer uma pós-graduação a cada pessoa que nos damos ao direito de conhecer.

(*) É palestrante, professor, autor de livros e idealizador do Tio Flávio Cultural

 

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