A sobretaxa norte-americana no aço e o silêncio do Brasil

14/03/2018 às 22:36.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:52

Hoje completa uma semana que o presidente americano, Donald Trump, confirmou a criação de novas tarifas para a importação de aço e alumínio ao país, que passou a cobrar uma sobretaxa de 25% para o aço importado e de 10% para o alumínio. A medida começará a ser implantada a partir de 23 de março. O Brasil é o segundo maior fornecedor de aço para os norte-americanos, ficando atrás do Canadá, que foi excluído da taxação. Portanto, nosso país é o mais prejudicado. Apesar disso, até agora nenhuma medida foi anunciada como resposta pelo governo brasileiro.

Outros grandes exportadores para os Estados Unidos, a China e a União Europeia já anunciaram medidas de retaliação à criação da sobretaxa. As autoridades chinesas afirmaram que a soja norte-americana deverá ser o principal alvo, fazendo com que a importação feita pelo país sofra a mesma valorização nos impostos alfandegários. Já a Europa prepara uma resposta mais direta ao presidente norte-americano e se prepara para apresentar retaliações contra produtos americanos fabricados nos estados que fazem parte da sua base eleitoral. A ideia é que, além de um impacto comercial, o protecionismo da Casa Branca também tenha consequências políticas.

A inércia do governo brasileiro é reflexo da política externa e econômica adotada pelo governo desde o golpe de 2016, baseada na subserviência aos Estados Unidos, que inclusive teve participação no afastamento da presidenta Dilma. Ao não enfrentar a sobretaxa dos Estados Unidos no setor do aço e alumínio, o governo Temer vira as costas para os milhares de brasileiros que serão afetados diretamente pela medida. Os primeiros serão os trabalhadores do setor. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) emitiu uma nota informando que serão afetados 3 bilhões de dólares em exportações brasileiras de ferro e aço. No caso do alumínio, serão afetados 144 milhões de dólares. “Isso equivale a uma massa salarial de quase 350 milhões de reais e impostos da ordem de 200 milhões”, prevê a entidade.
As entidades sindicais que representam os metalúrgicos também lançaram uma nota em que cobram “que o governo Temer assuma posição firme em defesa da produção e do emprego no setor siderúrgico brasileiro e adote, se necessário, medidas cabíveis no âmbito dos fóruns comerciais internacionais”. Elas preveem um processo de demissão em massa dentro das empresas siderúrgicas, o que agravaria o drama do desemprego no país, que já anda em níveis elevadíssimos. Como Minas Gerais é responsável por quase 30% das vendas externas de aço pelo Brasil, o impacto por aqui será enorme. No ano passado, as exportações de produtos metalúrgicos do estado somaram US$ 5,3 bilhões, sendo que 12% tiveram como destino o país norte-americano.

A medida do governo de Donald Trump dá sequência à sua plataforma de intensificar o protecionismo americano e o fortalecimento de suas indústrias. Países da Europa seguem o mesmo rumo, como o caso do Reino Unido aprovando o seu Brexit. Já o Brasil segue na direção contrária, passando por um processo radical de desnacionalização. Uma abertura desenfreada de todos os setores, inclusive os estratégicos, para o capital estrangeiro. Já foi entregue o nosso pré-sal, a Embraer, vem por aí Eletrobrás, só pra ficar em alguns exemplos. 

Os brasileiros têm que resistir à entrega do nosso patrimônio e eleger nas próximas eleições um governo que tenha compromisso com um novo projeto nacional de desenvolvimento. Baseado na retomada do crescimento, na geração de empregos e na reconstrução da indústria nacional, com o Estado sendo o principal indutor do desenvolvimento. Só assim, teremos perspectiva de construção enquanto nação.


 

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