Circuito de Favelas: vidas transformadas pela gastronomia

13/06/2018 às 22:48.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:35

Na semana passada, um dos mais famosos chefs de cozinha do mundo, o norte-americano Anthony Bourdain, cometeu suicídio na cidade de Estrasburgo, na França, onde estava a trabalho. Conhecido por seu programa televisivo de viagens culinárias chamado Sem Reservas, Bourdain foi importante divulgador da cultura gastronômica de todos os cantos do planeta. Em fevereiro de 2016, um dos episódios foi gravado em Belo Horizonte, onde o chef circulou por cerca de uma semana. “Já me disseram diversas vezes que este é o lugar de onde vêm os melhores chefs. A questão é: Por que não ouvimos isso fora do Brasil? Por que a culinária de Minas não pegou mundialmente?”, questionou o apresentador no início do episódio dedicado a Minas.

A pergunta de Bourdain é fundamental, pois nossa culinária ainda não alcançou o lugar que merece no Brasil e no mundo. Justiça seja feita, o governo de Minas tem dado prioridade para o tema como nenhum outro. Há um ano, foi lançado o Programa Mais Gastronomia, que envolve diversas instâncias da administração estadual, em conjunto com a sociedade civil e a iniciativa privada, para valorizar a cadeia produtiva da gastronomia, reconhecendo-a como setor estratégico para o desenvolvimento. O objetivo é orientar as ações governamentais voltadas ao fortalecimento de toda a cadeia produtiva, como os segmentos da produção de insumos, de abastecimento e armazenamento, de comércio, indústria e de serviços.

Uma das formas de incentivo do Mais Gastronomia é a realização dos circuitos gastronômicos, que se desenvolvem nas regiões do estado. De todos eles, o que mais me chamou a atenção é o Circuito Gastronômico de Favelas, que está na sua segunda edição e que tive a felicidade de participar e ver com meus próprios olhos, ou melhor, sentir com meu paladar. O evento é uma iniciativa que trabalha a gastronomia como vetor de desenvolvimento, voltado para comunidades com moradores de baixa renda. Comidas simples e baratas, mas que trazem sua fortuna no sabor. Neste ano, são 30 empreendimentos participantes, que vão expor seu trabalho em 10 eventos nos principais aglomerados de Belo Horizonte, Contagem e Betim.

O projeto vai além da exposição no Circuito, pois a meta é transformar os cozinheiros e cozinheiras participantes em empreendedores. Para isso, recebem acompanhamento e treinamento durante o ano inteiro, para se especializarem e assim potencializar seus negócios. Aprendem, por exemplo, como dominar a forma de apresentação de um prato, com técnicas de estética e dicas do tipo de vasilhame mais adequado para determinado iguaria ser servida. Se especializam também em aproveitamento integral de alimentos e destinação correta dos resíduos. Cursos sobre gerenciamento de negócios também são oferecidos, para que os empreendimentos sejam mais profissionalizados. A vida destas pessoas é transformada através da gastronomia.

Em tempos de crise e desesperança, senti no Circuito Gastronômico de Favelas uma grande oportunidade que deve ser cada vez mais incentivada, pois apresenta alternativa para os que mais precisam. Quem quiser ver de perto e experimentar as delícias que são servidas, no próximo domingo a festa acontece no Alto Vera Cruz, em Belo Horizonte. E como não só de comida vive a periferia, o Circuito apresenta várias expressões da arte produzida nas comunidades, que transformam o evento numa festa sem igual. 


 

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