história

Ouro Preto comemora o bicentenário da Proclamação de Vila Rica e homenageia a independência

Luciane Amaral
lamaral@hojeemdia.com.br
09/04/2022 às 09:33.
Atualizado em 09/04/2022 às 10:20
 (Ane Souza/Prefeitura de Ouro Preto / Divulgação )

(Ane Souza/Prefeitura de Ouro Preto / Divulgação )

Há 200 anos, Dom Pedro, então príncipe regente, chegava Ouro Preto, sede do governo da Capitania, e era recebido com festa, depois de fazer uma longa jornada por Juiz de Fora, Chapéu D'Uvas, Barbacena e São João del-Rei, buscando apoio político das elites para a construção da Independência do Brasil. 

Neste sábado (9), a cidade patrimônio cultural da humanidade recebe Dom João de Orleans e Bragança, tataraneto de Pedro I, para celebrar o Bicentenário da "Declaração de Dom Pedro ao Povo de Ouro Preto". 

A cerimônia comemorativa, realizada no adro do antigo Palácio dos Governadores, hoje sede da Escola de Minas e do Museu de Ciência e Técnica da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), homenageia os ideais de liberdade que o regente pregou em seu discurso. 
 
Do Palácio dos Governadores, Dom Pedro saudou o povo de Vila Rica, evocou as lutas dos mineiros pela liberdade, e assegurou que "os ferros do despotismo” não prevaleceriam sobre os anseios de liberdade e independência nas Minas Gerais.

O professor do departamento de História da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Valdei Araujo, explica os motivos da longa viagem que Dom Pedro fez na época. O regente visitava fazendas e grandes proprietários de terras, que detinham a riqueza e o poder político na época, fazendo uma sondagem para saber se teria apoio das elites, caso declarasse a independência.

Valdei, que também é presidente da Associação Nacional de História, conta que as províncias de Minas Gerais, Rio e São Paulo eram as mais ricas do Brasil, que ainda tinha poucas cidades. E que Dom Pedro precisava de apoio político para se fortalecer frente às Cortes Portuguesas que, desde 1821, após a chamada Revolução do Porto, governavam Portugal e tinham exigido o retorno do rei Dom João VI. 

“As cortes queriam estabelecer uma nova ordem política, baseada em uma constituição, o que enfraqueceria a influência das elites brasileiras no reino”, explica o professor. A província de Minas, que já tinha perdido a pujança da exploração de ouro, era um importante centro econômico da colônia.

E, desde 1808, com a Abertura dos Portos e a vinda da família real para o Brasil, havia diversificado as atividades econômicas e era o principal fornecedor de insumos e alimentos, como porcos e gado, para a capital do Reino, Rio de Janeiro. 

Para o prefeito de Ouro Preto,  Ângelo Oswaldo, o dia 9 de abril antecipa o 7 de Setembro e completa o dia 9 de janeiro, que foi o Dia do Fico: "Dom Pedro ficou no país e lutou pela Independência, construída com muita determinação. Por isso mesmo, ele decidiu fazer esta viagem a Minas Gerais no fim de março, começo de abril, de 1822, a fim de buscar o apoio político da província mais populosa e mais rica, que era Minas Gerais" - explica.

O príncipe, continua o prefeito, enfrentou resistência na capital da província, onde muitos apoiavam as Cortes Portuguesas. "Ele acabou vencendo esses obstáculos, e foi festivamente recebido em Vila Rica, com repique de sinos e saudações em todas as ruas por onde ele passou.” afirma Oswaldo.

E a viagem a Minas tem razões históricas decisivas no Ato de Independência. Várias províncias haviam elegido deputados, que foram para Portugal. Mas os mineiros, que cultivavam um espírito mais avançado, ficaram ao lado de Dom Pedro, na articulação da separação do Brasil de Portugal. É o caso de José Joaquim da Rocha, de Mariana, que liderava no Rio de Janeiro, o movimento de emancipação do Brasil. 

Valdei Araujo faz um convite à reflexão ao observar que a terra que tornou Tiradentes o grande herói na época da Derrama, em Vila Rica, quando surgiram na Colônia as primeiras ideias de libertação do jugo da coroa portuguesa, convida para “celebrar a independência” um dos herdeiros de Dona Maria I, mãe do futuro imperador, e que condenou à morte o mártir da Inconfidência. “Ouro Preto esquece a memória de Tiradentes?” - finaliza o professor.

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