Faro apurado

Brasileiro é um dos maiores especialistas na biografia da escritora Agatha Christie

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
12/02/2022 às 12:17.
Atualizado em 14/02/2022 às 14:33
HERCULE POIROT – Famoso detetive criado pela autora inglesa é protagonista do filme “Morte no Nilo”, em cartaz nos cinemas; abaixo, o pesquisador Tito Prates com o figurino do personagem (Fox/Divulgação)

HERCULE POIROT – Famoso detetive criado pela autora inglesa é protagonista do filme “Morte no Nilo”, em cartaz nos cinemas; abaixo, o pesquisador Tito Prates com o figurino do personagem (Fox/Divulgação)

Tito Prates não é um simples fã de Agatha Christie, escritora inglesa de tramas de mistério que permanece intocável em seu posto como “Rainha do Crime”, passados 46 anos de sua morte – justamente em 12 de janeiro de 1976.

Após encarnar na vida real o faro detetivesco dos personagens das histórias ficcionais da romancista, o escritor e dentista paulista se transformou num dos maiores especialistas de Agatha Christie no mundo.

A ponto de Tito apontar sua lupa para as principais biografias sobre a escritora e encontrar erros crassos. O que fez dele um dos consultores da Agatha Christie Arquive Trust, responsável por preservar documentos e imagens.

“A partir dos meus 18 anos, quando li todos os livros dela, quis saber mais sobre a pessoa por trás daquelas histórias. Na época, como não havia internet, o acesso às informações era difícil, tendo que recorrer a importados”, registra.

Ao juntar uma e outra informação, Prates logo percebeu que havia muitos dados incorretos, inclusive alguns presentes na própria biografia de Christie, lançada logo após a morte dela, em 1977.

“Algumas coisas ela já não se lembrava direito, pois já estava de bastante idade, e outras vieram da transcrição da entrevista, em que o marido e a filha não montaram os fatos na ordem em que aconteceram”, relata o pesquisador.

Erros que levaram Prates até a Inglaterra, onde conheceu o neto da escritora, Mathew Prichard, hoje um amigo. Foi ele quem lhe autorizou a lançar “Agatha Christie From My Heart: Uma Biografia de Verdades”, em 2016.

“Como já tinha muita coisa escrita, a gente acha que não tem mais o que escrever. Mas quando se vai ler, tem muita besteira. Fui para a Inglaterra ler as cartas originais, conversar com a família e escrever sobre os fatos reais”, assinala.

Editor de uma revista dedicada a romances policiais, a “Mystério Retrô”, que está no nono número, Prates também costuma fazer cosplay de um dos mais importantes personagens de Christie: o detetive belga Hercule Poirot.

Quando “Assassinato no Expresso Oriente” foi lançado em 2017, protagonizado por Kenneth Branagh, na pele de Poirot, o brasileiro deixou o bigode crescer e passou a ser visto em pré-estreias com chapéu coco e bengala. 

Para o segundo filme, “Morte no Nilo”, em cartaz nos cinemas, não houve tempo hábil para deixar o bigode crescer de forma avolumada. Ele que é, coincidentemente, um dos fatos polêmicos do novo longa-metragem.

Na trama, o bigode serve para esconder as cicatrizes provocadas por uma bomba, durante a 1ª Guerra. “Poirot nunca participou dela. O personagem foi tão criticado pelo tamanho do bigode no primeiro filme que criaram essa justificativa”.

Além de Branagh, na pele do detetive, “Morte no Nilo” traz no elenco Gal Gadot (“Mulher Maravilha”), Armie Hammer (“Me Chame pelo seu Nome”), Annette Bening (“Beleza Americana”), Sophie Okonedo (“Hotel Ruanda”) e Letitia Wright (“Pantera Negra”)

Além de Branagh, na pele do detetive, “Morte no Nilo” traz no elenco Gal Gadot (“Mulher Maravilha”), Armie Hammer (“Me Chame pelo seu Nome”), Annette Bening (“Beleza Americana”), Sophie Okonedo (“Hotel Ruanda”) e Letitia Wright (“Pantera Negra”)

Além de Branagh, na pele do detetive, “Morte no Nilo” traz no elenco Gal Gadot (“Mulher Maravilha”), Armie Hammer (“Me Chame pelo seu Nome”), Annette Bening (“Beleza Americana”), Sophie Okonedo (“Hotel Ruanda”) e Letitia Wright (“Pantera Negra”) 

Filme se perde entre a caricatura e a frieza do protagonista

O fato de ter sido o grande nome por trás das histórias de crime de mistério tem um preço: os elementos narrativos de Agatha Christie foram tão copiados que não é difícil matar a charada logo nos primeiros 20 minutos da adaptação de “Morte no Nilo”, um dos maiores sucessos da escritora.

Assim como no anterior “Assassinato no Expresso Oriente”, tudo gira em torno da pergunta “quem é o criminoso?”, dentro de um ambiente fechado (no lugar de um trem, agora é um barco que desce o rio Nilo), em que todos os passageiros têm um bom motivo para entrar na galeria de suspeitos.

O charme característico do detetive belga Hercule Poirot parece ter ficado no filme de 2017, apesar do esforço dos roteiristas em se criar uma introdução inexistente no livro original, com a participação do protagonista na Primeira Guerra Mundial e uma justificativa para o volumoso bigode que ele adota.

Buscaram uma associação semelhante ao que fizeram com a tetralogia de Indiana Jones, em que, a partir do terceiro capítulo, determinadas cenas remetiam à relação do arqueólogo com alguns objetos (chapéu e chicote, por exemplo). O resultado, porém, é decepcionante.

A ideia do prólogo em preto e branco desaparece, a não ser pelo fato de o personagem ter se tornado um homem mais racional, incapaz de exibir emoções. Essa frieza contamina a identificação do espectador com Poirot, que, em quase metade do filme, atua apenas como um observador. 

Um dos pontos altos de “Assassinato” é justamente focar em Poirot, pondo em questão o perfeccionismo exagerado dele, levando-o a um certo maniqueísmo: há o certo e o errado. Quando se dá conta, o próprio detetive é peça central da trama de mistério. Toda a história gira em torno desse movimento.

Não é o caso de “Morte no Nilo”, que, como a correnteza do rio africano, segue de maneira retilínea e previsível. Os piores instantes, por sinal, acontecem quando se abre espaço para as belezas históricas, com efeitos especiais de mau gosto. Mesmo quando volta a se concentrar nos suspeitos, a caricatura se torna predominante.

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