Mineiros brilham: estilistas dão show de criatividade na passarela da SPFW

Flávia Ivo / Enviada Especial (*)
fivo@hojeemdia.com.br
03/09/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:23
 (Marcelo Soubhia/Fotosite/Divulgação e Miguel Schincariol/AFP)

(Marcelo Soubhia/Fotosite/Divulgação e Miguel Schincariol/AFP)

Seja explorando a diversidade, os sonhos, a ancestralidade africana, a liberdade do vestir ou mesmo a tropicalidade brasileira, os estilistas mineiros fizeram da passarela da 44ª edição da São Paulo Fashion Week (SPFW) um palco para contar histórias.

A partir de um universo surrealista com pegada retrô e um quê de “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Caroll, Patrícia Bonaldi deu vida a um Verão 2018 lúdico, com direito a casinhas coloridas na sala de desfiles da Fundação Bienal, na capital paulista, local que abrigou a maior semana de moda do país e uma das cinco mais relevantes do mundo. 

Pronta para concorrer com grandes marcas nos Estados Unidos, onde lançou recentemente o e-commerce da famosa PatBo, a mineira deixou quase que de lado as peças voltadas para a noite, apostando em uma moda para a luz do dia, para o resort. 

Intenção clara tanto na paleta de cores, recheada de tons lavados e pastéis, quanto na modelagem, permeada de vestidos, principalmente os mídis e longuetes.

“Essa coleção tem uma pegada mais tropical, mais pé no chão, desconstruindo um pouco do que eu já construí. Saindo da noite, indo para o dia. Quero levar a tropicalidade brasileira para o exterior”, destacou Bonaldi.

 Diversidade

Enquanto PatBo propõe a curtição do tempo quente em um resort, o consagrado Ronaldo Fraga, que deu uma pausa nos temas pesados das últimas coleções, como a transfobia e a questão dos refugiados, apostou no calor em uma deliciosa praia vintage.

Bebendo na fonte do beachwear dos anos 20, quando os brasileiros começaram a frequentar as areias como passatempo e não mais por motivos terapêuticos, Fraga criou uma inédita coleção exclusivamente de moda praia com cartela de cores restrita a rosê, preto, mostarda e branco, mas repleta de significados.

“A elite, nos anos 20, vai para a praia, seguindo as influências francesas, as tendências daquele país, e virava uma festa, com estilo de roupa de festa e ali forjava-se um país sensual e jovem”, explicou o mineiro. 

Da apresentação, que foi ao ar livre no Parque do Ibirapuera, em frente ao pavilhão de exposições conhecido como Oca, com os convidados sentados em cadeiras de praia debaixo de um sol de 32°C, até a escolha diversa dos modelos, Ronaldo fez o que mais sabe: surpreender.

Com representantes de todas as idades, gêneros, tamanhos e origens, o estilista criou uma passarela inclusiva. “Nessa praia, tem todo o meu universo, todo o meu casting. Eles estavam ali, de todas as coleções”, afirmou o estilista que apostou em bodysuits para os homens e modelos mais fechados para as mulheres.

 Para designers, tudo é inspiração: arquitetura, poesia, fotografia e até os sonhos

Um poema de Elizabeth Bishop escrito para a companheira Lota de Macedo, arquiteta brasileira, foi a fonte de inspiração para “Um sonho estético”, coleção de Verão 2018 da Apartamento 03, do estilista mineiro Luiz Cláudio.

Das palavras de “O banho de xampu”, ele encontrou o que queria, um conceito para criar peças. “Comecei a coleção de verão pensando em arquitetura. Como não conheço muito o tema, pesquisei na internet e em livros que tenho em casa. Encontrei o da Bishop e li o poema”.

Para ele, a história de Lota de Macedo precisava ser contada. “Ela não faz parte da memória nacional e deveria fazer, porque foi alguém importante para o Rio de Janeiro, idealizou um parque (o do Flamengo) para a cidade entre os anos 60 e 70, sendo mulher, com 50 anos e gay”, ressalta Luiz Cláudio.

Para as cores, o estilista afirma que foram inspiradas na capital fluminense, com luminosidade e vivacidade. Na modelagem, peças em alfaiataria como camisas, vestidos amplos e muitas calças de cintura clochard.

 No ar

Leveza e conforto se unem ao lúdico na coleção “Sonhos”, da mineira Fabiana Milazzo. A estilista explorou a fluidez de tecidos e os tons pastéis para criar a atmosfera perfeita para sonhar. Na passarela da SPFW, efeitos de fumaça davam a ideia do caminhar pelas nuvens.

“Nossos sonhos contam histórias e habitam um mundo onde tudo pode acontecer. A ideia é explorar essa surrealidade e as narrativas que surgem enquanto sonhamos”, revela Milazzo.

 Das nuvens de sonhos para a aridez do clima africano. O Verão 2018 da Coven, ao invés de apresentar tons lavados como os de Fabiana ou mesmo de PatBo, aposta nas cores quentes do continente rico em elementos culturais e simbologia.

A fonte de inspiração da grife mineira foram os registros fotográficos de Jackie Nickerson, profissional que documenta o vestir dos povos africanos.

 Além Disso

Sem diferença de peças criadas para eles ou elas, o mineiro estreante na SPFW, Célio Dias, passa por um processo de sucessivos desafios vencidos. Ter a coleção apresentada para os formadores de opinião mais relevantes da moda brasileira durante a São Paulo Fashion Week foi um dos reconhecimentos recebidos nos últimos tempos.

A LED, marca fundada por Célio em 2015, foi a vencedora da última edição do Ready to Go, concurso de novos talentos promovido pelo Sindicato das Indústrias do Vestuário do Estado de Minas Gerais (Sindivest-MG) dentro do Minas Trend, no primeiro semestre deste ano. 

 Além disso, foi escolhida pelo Sebrae Nacional para o Top 5, programa de aceleração de negócios da moda, que teve a 2ª edição nesta 44ª SPFW. “A nossa equipe é pequena, reduzida, mas nosso trabalho em grupo nos faz parecer grandes. Na LED, tudo é possível”, destaca Célio Dias. 

Para as criações da coleção intitulada “Mixórdia”, liberdade e subversão de padrões. “Trazemos uma moda que questiona a rotulação e que expressa a ‘verdade’, por mais vestida que ela esteja”, coloca o jovem estilista.

(*) Viajou a convite da São Paulo Fashion Week

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