A belo-horizontina Jully Molinna, 19 anos, conta que se surpreendeu na primeira vez que foi reconhecida na rua. O motivo? Sua atuação como youtuber. “Foi aí que eu percebi que era uma coisa séria, que poderia ser mesmo a minha profissão”.

Apesar do início animador– seu primeiro vídeo, postado em 2013, chegou a 60 mil visualizações rapidamente– Molinna ressalta que foi preciso trabalho e persistência para chegar ao patamar de hoje: atualmente, com mais de 1 milhão de seguidores, ela se sustenta com os ganhos de seu canal.

A garota é prova de que muita coisa mudou no mundo desde o lançamento do YouTube em 2005. De uma experiência como um novo formato de mídia, a plataforma se tornou uma poderosa fonte de informações. De várias formas: desde a música ao jornalismo, passando por vídeos de humor, culinária, serviços domésticos, o site é uma espécie de “Google” audiovisual.

“Você encontra tudo no YouTube. Acho que, como alguém que cresceu nos anos 90, eu convivi com um limite do que eu conseguia encontrar de música, cultura, filmes”, aponta Otávio Albuquerque, estrategista de conteúdo do Youtube Space – espaço desenvolvido pela empresa para dar suporte aos criadores de produtos audiovisuais da plataforma. “O contato era restrito às coisas as quais eu tinha acesso. Hoje, no site, independente de qual seja seu interesse, você vai encontrar pessoas falando sobre isso ou vai poder falar também”.

Como Albuquerque sinaliza, a plataforma, que começou como um repositório de vídeos on-line pouco depois ofereceu também um terreno fértil para a criação de conteúdos próprios – e não falta quem os faça.

Para além, a relação com os produtores de conteúdo também é um indicativo dessa mudança. Muitos criadores ganham status de celebridade, mesmo que suas produções sejam independentes e, muitas vezes, feitas do próprio quarto.

O caso do técnico em eletrotécnica Henrique Mattede, 31, é exemplar nesse sentido. Depois de utilizar a plataforma para guardar <CW-26>um vídeo que tinha feito de uma aula que ministraria, ele acabou notando a possibilidade de construir um canal sobre o tema, depois do bom número de visualizações alcançados pelo conteúdo postado. Ao lado do sócio Alex Teixeira, 35, ele criou o Mundo da Elétrica (maior canal brasileiro sobre o tema). “Percebemos o potencial, porque não existiam muitos canais de elétrica. Então resolvemos investir nosso tempo extra nisso. Hoje, já vivemos do canal”, conta Mattede.

Divulgação

O YouTube também surge como um espaço para divulgação de diferentes iniciativas e produções. Foi partindo dessa possibilidade que o fotógrafo Pablo Bernardo e o designer Leonardo Cesário, responsáveis pela organização Família de Rua (que promove, dentre diferentes expressões da cultura urbana da capital, o Duelo de MCs), decidiram utilizar a plataforma. “Começamos com as batalhas em 2007 e logo percebemos a demanda de registrá-las e mostrar o que estávamos fazendo”, conta Cesário.

Sinal de que eles estão na direção certa é a informação de que nos últimos dois anos, o tempo que os brasileiros passam assistindo vídeos online semanalmente dobrou.“Hoje entendemos a importância do canal para conversar com o nosso público. Divulgar esse conteúdo que interessa a muitas pessoas, mas que não é divulgado em outros lugares como a TV”, diz.

BH tem uma cena forte de criadores de conteúdo

A capital mineira abriga uma forte cena de produtores de conteúdo para o YouTube. Prova disso, é que a própria equipe da plataforma visitou a cidade oferecendo treinamento especializado na sede do Google, em BH, situada no bairro Santa Efigênia.
Durante três dias, cerca de 15 youtubers belo-horizontinos, com mais de 100 mil seguidores, foram convidados pela empresa para participarem de diferentes workshops. A iniciativa faz parte de um projeto amplo, que prevê a criação de uma nova sede, batizada de YouTube Space, no Rio de Janeiro.

“Como esse será um espaço maior, queremos que ele seja um pólo de atração para criadores de conteúdo de todo o país. Por isso estamos trazendo esse treinamento para cá. A ideia é dar um aperitivo do Space”, conta Otávio Albuquerque.

Além de Belo Horizonte, o projeto passa também por Salvador e Curitiba. “Pedimos para que todos os participantes trouxessem um projeto, algo que ainda não consigam fazer por questões de equipamento ou conhecimento técnico, para analisarmos. Nossa ideia é levar pelo menos um representante de cada cidade e produzir essas propostas no Rio de Janeiro, quando a sede estiver aberta. A ideia é financiar esses projetos”, garante Albuquerque. Para a empreitada, os produtores de conteúdo escolhidos terão custos de hospedagem e passagens arcados pelo YouTube.

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