Para ele, ela ou todxs: marcas abraçam a igualdade e criam para pessoas, não por gênero

Patrícia Santos Dumont
pdumont@hojeemdia.com.br
29/06/2018 às 12:13.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:05
 (Fotos: Melissa/Divulgação)

(Fotos: Melissa/Divulgação)

Mais do que desafiar conceitos pré-estabelecidos do que seja masculino ou feminino, criar produtos sem gênero definido tornou-se diferencial de marcas que desejam criar um vínculo mais próximo com uma geração sem rótulos. Classificadas como agênero, as peças não se destinam a homens nem a mulheres: vestem pessoas.

Caso das coleções criadas pelo designer de moda Célio Dias, dono da marca mineira LED, que se define melhor como “livre de gêneros”. “Nascemos para ser uma marca que permite criar identidade com aquilo que cada um deseje ser. Prefiro definir como livre do que negar algo que existe, acho mais interessante”, argumenta Dias.

Sem padrão pré-definido – como modelagens amplas (característica comum em peças masculinas) ou marcações bem definidas, presentes nos modelos femininos –, as peças traduzem o que é necessário e importante naquele momento, reforça o designer, negando justamente a existência de um modelo a ser seguido por trás das roupas.

Exemplo característico da proposta criada por ele é um macacão-curinga que, apesar das pregas e da costura bem marcada, funciona para todo mundo. “O papel da moda é criar empatia com o outro. E se a roupa é incompatível com o que a pessoa expressa, deixa de fazer sentido”, avalia.

“Acreditamos na beleza das pessoaserente global da marca Natura

Henrique Gualtieri/Divulgação

LED 
Peças desenhadas pelo estilista mineiro Célio Dias, como o macacão da foto, são livres de rótulos e podem ser usadas por qualquer pessoa

Numeração estendida

Queridinha do público feminino, a Melissa também vem procurando atender quem tem vontade de calçar os sapatos de plástico, apesar do gênero com o qual se identifica. Há três anos, a marca incluiu no portfólio sapatos de numeração estendida, que começam no 33/34 e vão até 43/44. Atualmente, dez modelos se enquadram na categoria, que busca exatamente despadronizar o público ao qual se destinam. 

“Caminhamos mais no sentido de atender à necessidade de quem gosta da marca do que de surfar em um movimento de mercado. Queremos que todos se sintam à vontade para usar produtos que sempre foram vistos como femininos. Reforçamos, assim, nosso discurso de aceitação”, destaca a gerente de Marca e Produto da Melissa, Raquel Scherer.

Recentemente, a Natura também colocou no mercado a primeira fragrância que não se define por gênero. “No Gender”, da linha Faces, foge das notas amadeiradas, típicas dos perfumes para homens, e dos florais, característicos nos aromas para o público feminino. Natura/Divulgação

NATURA
Nova fragrância da linha Faces é livre de rótulos e regras; essência combina notas neutras, cítricas, aquosas, de ervas e especiarias

Geração que dispensa rótulos é público-alvo de tendência

Brilhos, bordados, peplum (volume extra entre a cintura e o quadril) e lacinhos estão definitivamente fora do guarda-roupa da estudante universitária Mariana Nascimento Souza, de 23 anos. Contrariando opiniões bastante comuns de que quem se veste com peças masculinas quer parecer menos mulher (ou vice-versa), ela, que é menina, se identifica mais com os modelos nas araras dos homens do que com aqueles vendidos para o “sexo frágil”. 

“As pessoas esquecem que há vários tipos de feminilidade e que não existe receita certa nem um método fechado de expressão. Reconheço-me como mulher, mas tenho o direito de compor minha imagem a partir de qualquer peça com a qual me sinta bem”, explica. Flávio Tavares

Mariana se identifica com peças de modelagem ampla: “Não gosto de babado, brocado nem de coisas apertadas”

Justamente por causa da percepção equivocada de muitos e das poucas possibilidades de consumir produtos sem gênero definido é que praticamente tudo o que ela veste sai de lojas e sessões masculinas – desde as calças, com modelagem mais ampla, passando pelas blusas, pouco justas e sem decote, até chegar aos calçados, sem salto ou detalhes. 

Estilo de vida

Trend hunter e professor no curso de moda do Centro Universitário Una, Aldo Clécius inclui Mariana na geração de consumidores dispostos a experimentar produtos independentemente do gênero com o qual se definem. Para ele, mais do que tendência que direciona o mercado, o posicionamento é um estilo de vida cada dia mais comum. 

“Tem a ver com o discurso de liberdade de expressão cada vez mais apreciado pelos jovens, pela geração millennial. Falamos sobre nova masculinidade e feminilidade e sobre o direito de viver a vida sem necessariamente se enquadrar em um padrão imposto”, diz. 

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