Passarela reinventada: para chamar atenção, grifes apostam na criatividade

Flávia Ivo
fivo@hojeemdia.com.br
04/03/2018 às 06:00.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:40
 (Fotos AFP)

(Fotos AFP)

Os objetivos podem ser diversos: chamar a atenção, proporcionar experiências inusitadas ao consumidor ou mesmo comunicar um conceito. O meio, o mesmo, o exercício da criatividade. As maiores semanas de moda do mundo – Londres, Milão e Paris – terminaram (exceto a francesa, que acaba na terça-feira), deixando a prova de que os desfiles precisam mostrar mais do que belas peças de roupa, é necessário explorar o conteúdo visual.

Para Flávia Virgínia, professora do curso de Moda do Centro Universitário UNA, a criatividade era algo que parecia estar um tanto quanto em falta na moda. “A gente passou por um processo de reprodução muito grande de narrativas, todo mundo falando em torno da mesma coisa”, ressalta.Fotos AFP / N/A

Na primeira foto, da esquerda para a direita, as bolsinhas da estampa Dolce & Gabbana se repetiram nos brincos, arco, óculos, colar e em todo o look da grife no desfile de Milão; no meio, a grife Tod’s desfilou peças clássicas, com o plus de filhotes de cães nas mãos das modelos; à direita, a passarela da Moschino, em Milão, mostrou um inverno inspirado nos modelos eternizados pela ex-primeira-dama americana Jackie Kennedy; a pegada surrealista do estilista Jeremy Scott ficou por conta das modelos pintadas em cores vivas

Já as consultoras de tendências Silvia Scigliano e Marcia Crivorot acreditam que o mostrado na passarela hoje é um resgate dos desfiles de antes do boom do fast fashion. “Com certeza proporcionam muito mais que um desfile de roupas. É como um termo que ouvimos nos backstages do New York Fashion Week (NYFW), chamado de ‘fashiontainment’, a junção das palavras fashion (moda) com entertainment (entretenimento)”.Miguel MEDINA/AFP / N/A

Tommy Hilfiger fechou a Semana de Moda de Milão criando um autódromo indoor, onde a pista era a passarela; por ela, desfilaram famosas como Gigi Hadid


Mundo on-line

Os especialistas em moda têm discutido bastante sobre a importância e o destaque adquirido pelos desfiles no mundo digital. Se, pelo imediatismo das redes, o glamour não estivesse sendo perdido. E, por isso, fosse necessária uma mudança nos parâmetros da simples apresentação de coleções.

Conforme Flávia Virgínia, uma coisa não exclui a outra, mas é preciso ressignificar. “Se não é performance, como nas artes, algo que vai fazer com que o tempo se altere, acelere ou desacelere, parece não ter muito sentido”, observa.FRANCOIS GUILLOT/AFP / N/A

No mundo digital, os espectadores do desfile-manifesto da Dior veem a apresentação através da tela do celular; difícil encontrar na foto quem esteja assistindo sem a mediação do smartphone


Casting

Além da pluralidade das mídias sociais e da constante adaptação a elas, um importante ponto ficou nítido nas passarelas: a diversidade do casting de modelos.

A escolha daqueles que, sim, mostrarão as peças para o seleto público dos desfiles internacionais, não é aleatória, muito tem a dizer sobre o posicionamento de marca que as grifes buscam.

“A diversidade está em alta. Das tendências de comportamento, essa é a que mais cresceu nos últimos anos. As novas gerações têm necessidade de representatividade nas passarelas e propagandas em geral, isso cria conexão com o consumidor, o que reflete no aumento de vendas”, apontam Silvia Scigliano e Marcia Crivorot, que são também idealizadoras do projeto New York Fashion Tour, programa de palestras, visitas a lojas-conceito e a experiência do backstage da NYFW. Filippo MONTEFORTE/AFP / N/A

Com o desfile mais comentado da semana de Milão, a Gucci acertou a mão ao se inspirar no “Manifesto Cyborg”, da bióloga Donna Haraway, para colocar na boca de todos as discussões sobre as fronteiras culturais e de gênero

No entanto, apesar de o casting fazer parte da narrativa do desfile e mesmo da imagem de marca, Flávia Virgínia destaca que ainda existe superficialidade no processo de mudança, até porque só inclui modelos jovens e com um mesmo tipo de corpo.

“As marcas vêm com um discurso que parece engajado, político, mas a convocação de corpos diferentes ainda não deu conta de acontecer. Atesta uma certa incoerência. É só uma imagem, não é um processo de mudança de verdade, de estrutura”, provoca. ALAIN JOCARD/AFP / N/A

O desfile da Jacquemus abriu a Semana de Moda de Paris com belíssimas modelos, de etnias diferentes; no entanto, corpos e faixa etária do casting eram muito parecidosMiguel MEDINA/AFP / N/A

Além de toda a passionalidade trazida no desfile Dolce & Gabbana, em Milão, o andar na passarela foi alterado para chamar a atenção do público

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