PMDB mineiro no centro do escândalo das delações

Amália Goulart e Lucas Borges
primeiroplano@hojeemdia.com.br
15/09/2017 às 22:18.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:35
 (WESLEY RODRIGUES)

(WESLEY RODRIGUES)

A bancada do PMDB mineiro ganhou protagonismo no escândalo de corrupção que levou o procurador-geral Rodrigo Janot a oferecer a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, do mesmo partido. O PMDB mineiro foi citado em delações premiadas de executivos da JBS e também na recente colaboração do doleiro Lúcio Funaro, acusado de operar propina para a legenda.

Em todos os relatos, constam denúncias de que parlamentares do Estado filiados à sigla buscaram meios de auferir dinheiro público, seja atuando para nomear diretores corruptos para a Petrobras ou pedindo a empresários dinheiro para custear campanhas eleitorais.

Na denúncia de Janot, ele acusa a bancada de atuar junto a Eduardo Cunha para nomear o diretor da área internacional da Petrobras, Jorge Luiz Zelada. “Eduardo Cunha liderou o movimento da bancada de Minas Gerais do ‘PMDB da Câmara’ para conseguir a Diretoria Internacional da Petrobras, à época ocupada por Nestor Cerveró. As tratativas foram intermediadas por Michel Temer e lograram êxito quando, por indicação de Eduardo Cunha, Jorge Luiz Zelada foi nomeado para substituir Nestor Cerveró”, afirmou Janot.

Arrecadação
O procurador-geral diz que as tratativas, por si só, não constituem ato ilícito. A ilegalidade está no uso das nomeações para recolher propina. “De fato, a relevância do registro histórico da relação construída entre os diversos integrantes do núcleo político da organização criminosa se deve ao fato de eles terem utilizado como instrumento para o desenvolvimento de diversas ações criminosas os partidos políticos que integravam (e ainda integram), bem como seus mandatos políticos e cargos públicos ocupados. Nesse sentido, frise-se, o ilícito não está na constituição de alianças políticas, mas sim no uso delas como ferramenta para arrecadar propina, a partir dos negócios firmados no âmbito destes cargos”, concluiu.

Conforme o procurador-geral, Eduardo Cunha cresceu na organização criminosa bancando campanhas de deputados federais de Minas e do Rio de Janeiro. “Assim, à medida que foi distribuindo cada vez mais dinheiro obtido de forma ilícita especialmente para ajudar nas campanhas de deputados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, Eduardo Cunha foi se tornando uma liderança no âmbito da Câmara em razão do crescente número de aliados, que não se restringiam a parlamentares do PMDB”, completou Janot.

O procurador não dedicou-se a identificar os mineiros que atuaram pela bancada mineira. Citou o ex-deputado Fernando Diniz, que está morto.
A denúncia de Janot tem como base delações de executivos da JBS e de Funaro. Joesley Batista e Ricardo Saud relataram pagamento de propina ao vice-governador Antonio Andrade (PMDB). Eles falam no vice como uma pessoa próxima a Temer e ao centro do poder, por ter ocupado o cargo de ministro da Agricultura. Andrade teria recebido mais de R$ 20 milhões.

 
Vice-governador de Minas teria solicitado R$ 25 milhões

Na delação premiada, Lúcio Funaro conta que Antonio Andrade ajudou nos negócios da JBS em troca de propina. “Ainda, que no início de 2014, Joesley e Ricardo Saud solicitaram diretamente ao ex-ministro da Agricultura, Antonio Andrade, a liberação de certos frigoríficos, e proibição de outros, ao direito de exportarem carne para determinados países, para assim beneficiar a exportação da JBS. Que o então ministro Antonio Andrade, determinou que o Sr Rodrigo Figueiredo, funcionário do Ministério e indicado pelo colaborador e Cunha, tomasse as devidas providências, através de uma portaria do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), para atender tal demanda. Que em contrapartida, o ex-ministro solicitou propina no valor de R$ 25.000.000,00, alegando que precisava de tais recursos para a campanha de pré-candidato a vice-governador de Minas Gerais. Que esses recursos seriam divididos entre o PMDB nacional e PMDB de Minas Gerais, em forma de recursos para candidatos a Deputados Federais e Estadual do PMDB de Minas Gerais”, disse Funaro.

O doleiro afirmou que a distribuição da propina era liderada por Eduardo Cunha, que tinha uma ampla bancada submissa a ele. Dentre os deputados que faziam parte da bancada de Cunha, conforme Funaro, estão ainda dois mineiros: Saraiva Felipe e Mauro Lopes, ambos do PMDB mineiro.

O outro lado
Antonio Andrade nega as acusações. Por meio de nota, o vice-governador alegou que são falsas e inconsistentes as denúncias de que teria recebido qualquer benefício da JBS enquanto esteve à frente do Ministério da Agricultura, entre 2013 e 2014. Afirma que nunca foi alvo de qualquer denuncia, e que os fatos serão esclarecidos no inquérito.

Citados por Lúcio Funaro, os deputados Saraiva Felipe e Mauro Lopes não quiseram comentar as acusações.

“Durante a minha gestão à frente do Ministério, jamais editei qualquer atonormativo que privilegiasse a JBS ou qualquer outra entidade”<EM>Antônio Andradevice-governador
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