'Chinês da 25 de Março' entregava dinheiro em espécie da Odebrecht, diz delator

Estadão Conteúdo
20/06/2016 às 09:45.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:58
 (LUIZ CLÁUDIO BARBOSA/ESTADÃO CONTEÚDO)

(LUIZ CLÁUDIO BARBOSA/ESTADÃO CONTEÚDO)

Ao revelar detalhes sobre as transações financeiras em offshores do "departamento de propinas" da Odebrecht no exterior, o executivo e delator da Lava Jato Vinícius Veiga Borin afirmou que dentre os responsáveis por fazer as entregas de dinheiro em espécie da empreiteira no Brasil estava um chinês apelidado de "dragão" que atuava nas lojas da 25 de março - tradicional centro comercial da capital paulista, e dois irmãos Adir e Samir apelidados de "kibe" e "esfirra".

As expressões "operação dragão" e "operação kibe" são algumas das encontradas nas planilhas apreendidas pela Polícia Federal na sede da empreiteira em Salvador durante as operações Acarajé e Xepa, 23ª e 26ª fases da Lava Jato, respectivamente.

A utilização de codinomes e siglas para se referir aos destinatários e até operadores de contas e responsáveis pela entrega de dinheiro era uma das práticas do "departamento de propinas" da Odebrecht que os investigadores estão se dedicando a desvendar.

Borin atua no setor financeiro desde 1976, tendo trabalhado desde 2006 no Antigua Overseas Bank até ele ser liquidado, em 2010, e depois se tornou um dos sócios do Meinl Bank de Antigua junto com outros então executivos do setor de propinas da maior empreiteira do País. Nos dois bancos Borin relata que atuou com a abertura e operação de contas offshore da Odebrecht para funcionários do polêmico setor da empresa.

Ao contar sobre o esquema offshore, ele disse que a movimentação do dinheiro seguia um padrão: primeiramente as contas de Fernando Migliaccio e Luiz Eduardo (ambos funcionários do departamento de propinas) eram abastecidas com dinheiro de offshores mantidas em outros bancos pela empreiteira em nome de Marcos Grillo, "funcionário graduado" da Odebrecht, segundo Borin.

A partir dai, segue o depoimento, o valor era repassado para as contas das empresas controladas por Olívio Rodrigues Junior, réu da Lava Jato apontado como operador de contas da empreiteira e que, segundo o delator, seria o responsável por realizar o pagamento aos destinatários finais. As operações entre as contas era respaldada por "contratos fictícios" de acordo com Borin.

Todo o contato e articulação para os pagamentos envolvia ainda o sistema Drousys, software de contabilidade e gerenciamento de contratos desenvolvido para a contabilidade paralela da Odebrecht.

Brasil

Nos casos envolvendo transações que teriam como objetivo a entrega de dinheiro em espécie no Brasil as operações eram chamadas por apelidos como "Kibe" e "Dragão", que aparecem nas planilhas apreendidas pela Lava Jato na sede da empreiteira.

Nestes casos, relata, havia "mais uma camada de offshores" no Meinl Bank Antigua controlada pelo advogado Rodrigo Tacla Duran, que recebia os valores de Olívio. No caso da "operação dragão", o dinheiro era, então, transferido para "uma das quatro contas de um chinês denominado Wu-Yu Sheng", que de acordo com o delator, trabalhava também com lojistas chineses da Rua 25 de Março e era quem entregava o dinheiro no Brasil. Todas as quatro contas de Wu-Yu, segundo Borin, já foram encerradas e o chinês deixou o Brasil em 2015 para ir morar na Flórida com o avanço da Lava Jato.

Já as operações "kibe" e "esfirra", relata, seriam aquelas nas quais Tacla encaminhava o dinheiro para dois irmãos operadores identificados pelo delator apenas como Adir e Samir. Borin ainda identificou um outro operador de nome "Juca" - um brasileiro residente no Uruguai, para fazer as entregas no Brasil. Além disso, relata, Tacla também teria entregue recursos para outras pessoas para "fazer dinheiro", mas Borin contou que não se lembrava de todos.

Por meio de sua assessoria, a Odebrecht informou que não iria comentar o depoimento. As defesas de Olívio e Rodrigo Tacla não foram localizadas pela reportagem para comentar o caso.

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