Entrevista

‘Existe vida inteligente para além dos dois polos’, diz Bruno Miranda

Da Redação
05/09/2022 às 07:00.
Atualizado em 05/09/2022 às 08:46
Candidato ao Senado, Bruno Miranda (PDT) trabalha para ampliar palanque de Ciro Gomes em Minas (Fotos Fernando Michel)

Candidato ao Senado, Bruno Miranda (PDT) trabalha para ampliar palanque de Ciro Gomes em Minas (Fotos Fernando Michel)

A plataforma desenvolvimentista de Ciro Gomes, candidato à Presidência da República pelo PDT, tem um representante em Minas Gerais. O vereador por BH, Bruno Miranda, abraçou a tarefa de apresentar as propostas do presidenciável aos mineiros, ressaltando que o ex-governador do Ceará é uma opção viável à polarização entre Lula e Bolsonaro.

E nesse caminho, o belo-horizontino de 43 anos também se coloca na vitrine para conquistar o voto do eleitor mineiro à única vaga ao Senado, defendendo a geração de emprego e renda, o Estado como indutor da industrialização e se colocando contra a privatização de empresas públicas consideradas importantes ativos. 

Bruno foi o terceiro candidato ao Senado entrevistado pelo jornalista Carlos Lindenberg no programa “Gestores de Hoje em Dia – Eleições 2022”. Confira.

Seu nome ganhou força após a vereadora do PDT Duda Salabert desistir de disputar a vaga ao Senado por não concordar com a ligação do partido com os tucanos. Foi uma definição só no dia da convenção. Isso o incomodou?
Duda é nossa estrela hoje do partido. Já havia um trabalho sendo feito para que ela fosse nossa representante na Câmara dos Deputados. Obviamente, quando o nome dela aparecia bem nas pesquisas (de intenção de votos para o Senado), todos nós ficávamos felizes, ela também. Mas a gente tinha noção da importância e dimensão que a Duda representava para o crescimento do partido e do trabalho que ela desenvolve numa candidatura a deputada federal. Então, foi uma construção coletiva. Obviamente, ela tem as críticas dela a essa coligação com o PSDB, que é legítima. A gente precisa respeitar isso. A campanha está caminhando bem, a dela também, e a gente está muito animado.

Como o senhor encara a missão de alavancar em Minas o nome de Ciro Gomes como candidato à Presidência da República? Não é uma tarefa fácil, já que a polarização entre Lula e Bolsonaro é muito forte aqui no Estado também:
Assim como no restante do país, essa polarização está muito consolidada (em Minas). E eles fazem questão de retroalimentar os dois polos. Tanto o bolsonarismo quanto o lulismo atuam para que essa polarização se consolide, porque aí eles se mantêm na preferência e no imaginário do eleitor. Eu tenho uma tarefa para com o cidadão mineiro, para além de apresentar minha candidatura, de levar o Projeto Nacional de Desenvolvimento do Ciro para todo o Estado. Eu acho que os debates que se iniciaram, as entrevistas para os jornais, vão despertar agora para o eleitor mineiro que existe vida inteligente para além dos dois polos. A minha esperança é essa, estou nessa caminhada de mostrar para a cidadã e cidadão mineiros que nós temos outras opções. E na minha opinião, o Ciro é de longe o candidato mais qualificado para presidir o nosso país.

Na última pesquisa DataFolha, o senhor aparecia em terceiro lugar, empatado com outros três candidatos, com 5% da preferência do eleitor. Cleitinho, do PSC, liderava com 12%. Como tentar assumir essa dianteira?
Eu fiquei muito animado com essa pesquisa porque nós não tivemos pré-campanha para senador. Todos os outros concorrentes já vislumbravam a vaga. Eu não. Nossa construção da candidatura foi, de fato, recente. E, quando a gente aparece bem nas pesquisas, nos dá uma esperança muito grande. Por onde tenho ido em Minas Gerais, as pessoas têm esse sentimento de que nós somos uma escolha qualificada, que tem história, trajetória e serviço prestado para o cidadão. Serviço de verdade, que tem como comprovar. Nas eleições passadas, acho que foi muito “vamos trocar qualquer um pelo que está aí”. Nesta (2022), acho que as pessoas vão avaliar. Eu me apego nisso, sabe? Fui secretário de Esportes, de Desenvolvimento Econômico, comecei na política com 28 anos, mas estive a vida toda no PDT, desde os 16. Nunca saí do PDT para tentar ganhar uma eleição com menos votos. Sempre procurei ter coerência na minha vida. E hoje estou tendo essa oportunidade de ser candidato ao Senado, que é uma honra pra mim.


 

Essa subida do Ciro Gomes, identificada pela Genial/Quest, você pode pegar uma carona nisso também?

Sem dúvida. Eu aposto que o Ciro vai subir muito. Eu acho que o Ciro tem tudo para crescer, a gente aposta muito nisso. E com o Ciro crescendo, a gente consiga ir também na onda dele aqui em Minas.

O senhor foi líder do governo Kalil na Câmara de Vereadores aqui de BH. Como foi administrar a relação conflituosa entre a Câmara e o ex-prefeito?
Eu fui vice-líder do Kalil, e de fato era um momento de muito tensionamento entre a Câmara e o prefeito, em função de questões políticas que ocorreram na administração dele, grupos que o apoiavam e deixaram de apoiar. E agora, com o prefeito Fuad tomando posse, ele me chamou para ser líder do governo. Estamos fazendo esse trabalho de reconstrução da nossa base política na Câmara. E graças a Deus já conseguimos aprovar projetos importantes para a cidade de Belo Horizonte, como a questão de subsídio (às empresas de ônibus) e o Auxílio Belo Horizonte. O Fuad tem um perfil diferente do Kalil, é mais conciliador, tem mais paciência para dialogar. Eu costumo dizer que democracia dá trabalho, exige disciplina para escutar os dois lados, para entender a oposição quando ela aponta para uma questão que a gente não concorda. Dá muito trabalho, mas é o melhor que nós temos.

Como vereador, o senhor trabalhou para criação de políticas públicas para geração de emprego e renda aqui em Belo Horizonte. É um país com mais de 10 milhões de desempregados. O que o pretende fazer para essa área caso seja eleito para o Senado?
Esse tema é fundamental. O que a gente tem dito por onde a gente passa em Minas Gerais é que o Estado precisa de fato criar condições pro processo de retomada da industrialização. Nossa matriz industrial encolheu nos últimos anos. Se o Estado não for o indutor da industrialização, ela vem, mas de forma mais morosa. Quando o investidor quer colocar investimento em alguma região de Minas, o que observa? Infraestrutura, se tem um sistema educacional de boa qualidade, se tem logística para fazer escoamento do seu produto, qualidade de vida, segurança. A gente costuma dizer que a indústria gera um emprego de alto valor agregado. Porque não só ela gera emprego direto, mas também com os serviços, fornecedores, no em torno a economia local gira. É a cadeia produtiva. O Ciro deixa isso muito claro no livro Projeto de Desenvolvimento Nacional que ele publicou. E a gente está discutindo isso por Minas Gerais.

Na sua trajetória política, você teve funções importantes na relação entre governo e parlamentares. Como você avalia o orçamento secreto e como vai se posicionar frente a essa questão?
É um absurdo, uma excrescência. Por que o orçamento público precisa ser público, não precisa falar mais nada. O orçamento secreto é de fato criminoso, porque você destina milhões e milhões de emendas na surdina para poder fortalecer a base parlamentar de acordo com o interesse daquele que está no poder. É um compromisso solene nosso lutar contra essa excrescência que é o orçamento secreto.

O senhor integra a coligação com o PSDB, que ficou marcado pela defesa da privatização. Qual seria a sua posição, se eleito, em relação à privatização da Copasa, Cemig e do próprio metrô?
A nossa coligação tem ponto de convergência e tem ponto de divergência. Essa, a privatização, é um ponto de divergência. A gente não pode demonizar a relação com o empresário. PPP (parceria público-privada) é importante, as concessões são importantes. Agora, privatizar os nossos principais ativos, nossa matriz energética, eu sou radicalmente contra. A privatização da Cemig e da Copasa, sou frontalmente contra, e do metrô também. Me dê um exemplo de qual cidade que resolveu problema de metrô, de transporte público, privatizando? Você pode fazer parcerias, mas o Estado precisa investir, precisa tomar a frente. Senão, as coisas não caminham. O metrô de Paris foi criado pelo Estado, passou por um período onde tinha uma parceria público-privada e agora voltou para a mão do Estado. É um serviço básico para a população que o Estado tem que tocar. Mas, é claro, tem que ter regras de compliance, transparência. Não dá para aparelhar empresa estatal com penduricalho de político, indicado desse ou daquele que não tem competência nenhuma para poder comandar.


 

O Rodoanel da Grande BH. O senhor é contra ou favor? E por quê?

O Rodoanel é uma obra importante. Além de desafogar o trânsito no Anel Rodoviário, que a gente não precisa dizer o quanto isso é importante por conta dos acidentes, vai melhorar o escoamento da nossa produção. Agora, precisa que o Rodoanel seja feito com harmonia com os municípios. O governador Romeu Zema teve dificuldade de conversar com as prefeituras de duas cidades importantes: Betim e Contagem. É preciso dialogar, entender qual é a questão do meio ambiente que envolve o Rodoanel, as questões de povos tradicionais que estão instalados ali. Não dá para tratorar. Mas eu tenho fé que a gente vai achar um denominador comum entre esses dois municípios e avançar, porque, de fato, é uma obra importante para o desenvolvimento econômico e social do nosso Estado.

E quanto ao Regime de Recuperação Fiscal? O senhor é contra ou a favor?
Do jeito que está sendo locado, o Regime de Recuperação Fiscal engessa qualquer tipo de investimento no Estado. A gente sabe da dificuldade de Minas, sabe que tem uma bomba-relógio que pode ser estourada a qualquer hora por conta da liminar da dívida. Mas é fundamental que haja um esforço do governador junto ao presidente da República, com a Câmara Federal, Senado, para que a gente possa encontrar uma solução para isso. Se assinar o Regime de Recuperação Fiscal do jeito que está sendo colocado, Cemig e Copasa vão ser vendidas em dois tempos. E com um pretexto de que, se não vender, Minas não vai pagar dívidas. Eu espero que a gente consiga chegar a um grande acordo com o governo federal para que o Estado não seja prejudicado a esse ponto.

Quais são as principais bandeiras da sua candidatura? Como lidar com a fome, por exemplo, que assola o país?
O que a gente está vivendo no Brasil é lamentável. E a gente escutar recentemente do presidente (Jair Bolsonaro) que não existe pessoa passando fome no Brasil, é mais lamentável ainda. Eu faço, nas minhas propostas de mandato, a defesa da renda básica, da renda mínima para o cidadão mais pobre. A gente traz para Minas Gerais o que o Ciro, em campo nacional, publicou como uma das metas de governo.

Veja entrevista completa no canal do YouTube do Hoje em Dia

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por