Pré-candidatos dão prioridade às grandes cidades

Ricardo Rodrigues - Hoje em Dia
19/05/2014 às 07:34.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:38
 (Montagem Hoje em Dia)

(Montagem Hoje em Dia)

As cidadezinhas do interior, ou os ‘burgos podres’ como diria o ex-governador Tancredo Neves (PMDB), vão definir as eleições para os cargos do Poder Executivo, mas é nos municípios de porte médio que os pré-candidatos a governador Pimenta da Veiga (PSDB) e Fernando Pimentel (PT) concentram a campanha. A receita deve ser seguida pela presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, e pelo senador Aécio Neves, presidenciável tucano que precisa ser conhecido no restante do país.

A razão é simples: nas grandes cidades, o apoio dos prefeitos tem impacto bem menor. “Os candidatos vão priorizar as cidades maiores, que terão mais eventos de campanha do que as pequenas. É assim que Aécio e Dilma, Pimenta e Pimentel estão fazendo”, diz o professor da PUC Minas, Malco Camargos. Já nos municípios de menor porte, os prefeitos têm mais condições de levar a mensagem dos candidatos a cargos executivos (governador e presidente), porque são mais influentes e têm mais proximidade com o eleitor.

Para exemplificar, ele diz que o prefeito de Belo Horizonte não conversa diretamente com o eleitor, ao contrário do prefeito de Manga (no Norte de Minas). “Nas grandes cidades, os prefeitos são menos acessíveis ao eleitor”.

Se o mais importante é ganhar nas “grandes”, como sugere Camargos, para influenciar o voto nos pequenos municípios, a disputa deste ano nos dez maiores colégios eleitorais do Estado deve refletir também resultados das eleições de 2010 e 2012, segundo cientistas políticos, prefeitos e deputados ouvidos pelo Hoje em Dia.
 
“Na verdade são os pequenos municípios que decidem, juntos, as eleições. Mas os candidatos não vão fazer campanha onde prefeitos e vereadores tenham maior impacto na definição do voto”, diz Camargos. Segundo ele, a estrutura do governo do Estado terá mais força na eleição do futuro governador e na eleição presidencial do que em anos anteriores.

Um exemplo: o prefeito de Montes Claros, Rui Muniz (PRB), não definiu apoio a nenhum candidato, embora seu partido integre a base aliada da presidente Dilma.

O presidente do PSDB-MG, Marcus Pestana diz que o Sul de Minas dará boa votação aos tucanos, mas o presidente do PT-MG, Odair Cunha, destaca que das cinco maiores cidades da região, o PT tem o apoio dos prefeitos de Poços de Caldas, Lavras e Pouso Alegre, além de outros municípios. “Vamos disputar voto a voto para eleger Dilma e Pimentel”.

Região metropolitana mantém divisão

Prefeita de Ribeirão das Neves, Daniela Corrêa (PT) promete trabalhar duro pelas candidaturas de seu partido, com Fernando Pimentel e Dilma Rousseff. A presidente teve mais de 70 mil votos na cidade em 2010. Segundo Daniela, a prefeitura obteve do governo federal R$ 140 milhões em obras na região central da cidade.

“Aos olhos do governo estadual, Ribeirão das Neves nunca foi prioridade. Vamos mostrar à população os projetos do PT, que socorre a cidade com investimentos de mais R$ 109 milhões no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) da mobilidade urbana e obras de drenagem e asfaltamento”, diz.

Segundo ela, Pimentel ajudou a levar para a cidade a SIX Semicondutores, “que representará o mesmo que a Fiat Automóveis para Betim”. O maior efeito da instalação de uma empresa de alta tecnologia, diz a prefeita, é a mudança na imagem da cidade, sempre ligada à violência e marginalidade, por abrigar cinco unidades prisionais.

“A presidente visitou o município quatro vezes. Ao invés de cadeia, ela instalou o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (Ifet). O modelo Lula-Dilma mudou a cidade”, comemora.

Em Betim, um dos berços do PT, o prefeito Carlaile Pedrosa (PSDB) diz que vai “trabalhar de corpo e alma” para eleger Aécio Neves presidente e Antonio Anastasia senador. Segundo ele, o PSDB não terá candidatos de Betim disputando as eleições proporcionais, “terá aliados”: o vereador Sapão (PSB) sairá candidato a deputado estadual. O deputado Pinduca (PP) é dúvida, pois o TRE pode negar o registro por conta da Lei da Ficha Limpa.
Colega de Pinduca na Assembleia, Rômulo Veneroso (PV) quer se eleger deputado federal. Os estaduais Ivair Nogueira (PMDB) e Maria Tereza Lara (PT) tentarão a reeleição. Já a ex-prefeita Maria do Carmo Lara (PT) concorrerá à Câmara dos Deputados. “Vamos trabalhar pelos candidatos de Betim, esse será o tom da campanha”, diz Carlaile.

Em Contagem, o prefeito Carlin Moura (PCdoB) defende a unidade de todos os partidos do campo político da presidente Dilma em torno do ex-ministro Fernando Pimentel.

“Acreditamos no bom desempenho da presidente em Contagem, pois ela investiu R$ 220 milhões na mobilidade urbana, no Programa Mais Médicos e na conclusão da nova Maternidade Municipal e do novo Pronto-Socorro JK”, diz

Segundo ele, a expectativa é que Contagem “retribua” nas urnas com votos para Dilma. “Vamos para o corpo a corpo, mostrando o que foi feito, explicando o que ainda não pôde ser feito”.

Contexto nacional influencia escolha

Professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Paulo Roberto Figueira Leal diz que eleições nacionais se decidem por questões nacionais, muito mais do que pelo apoio de lideranças municipais. Exemplos históricos não faltam: mesmo com Juiz de Fora tendo sido governada por prefeitos de diferentes partidos, desde 1994 o PT venceu todas as eleições presidenciais na cidade (sem nunca ter ocupado a prefeitura).

“Se esse padrão se mantiver, o apoio ou não do prefeito a uma candidatura pode ter algum impacto, mas outras variáveis relacionadas ao contexto nacional devem ser mais relevantes”, diz.

O prefeito Bruno Siqueira (PMDB) mantém distância do PT. Uma das lideranças políticas em ascensão no Estado, ele afirma que aguarda as convenções partidárias para tomar posição. O PMDB integra a aliança nacional da presidente Dilma e deve se coligar ao PT na disputa pelo Palácio Tiradentes.

“O foco maior é aumentar a representatividade de Juiz de Fora na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa. O PT é oposição ao nosso governo”, diz Siqueira. Já o PSDB e o PP dirigem várias secretarias municipais. “Temos excelente relacionamento com esses partidos na cidade”, afirma. A posição do diretório municipal do PMDB tem sido, até agora, contrária à aliança estadual com o PT.

O cientista político da UFJF considera que o apoio de prefeitos, pode ser uma variável relevante para impulsionar uma candidatura a deputado. Mas, em termos de eleições proporcionais, ele diz que Juiz de Fora apresenta nos últimos anos um padrão de dispersão partidária. Hoje, os deputados federais com domicílio na cidade provêm de forças políticas distintas: Margarida Salomão (PT), Marcus Pestana (PSDB) e Júlio Delgado (PSB). “Logo, é pouco provável supor que o eventual apoio do prefeito a alguma força impeça a continuidade desse padrão”, emenda.

Polêmicas

De acordo com o professor de Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia(UFU), Leonardo Barbosa e Silva, historicamente o PT tem registrado votações consideráveis do eleitorado uberlandense. Todavia, desde a posse do prefeito Gilmar Machado (PT), choques com servidores, polêmicas envolvendo a revisão da alíquota do IPTU e o desgaste com reportagens de alcance nacional tornaram o “sangramento” inevitável.

“Ainda é cedo para avaliar se o sangramento feriu de morte a gestão petista e, por conseguinte, redirecionou parte da aprovação que o partido contava na cidade. Mas, seja como for, se vingar o histórico recente, o PT receberá novamente uma votação expressiva”, avalia.

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