Prefeitura vai dobrar a Guarda Municipal e propor trabalho conjunto com PM

Tatiana Moraes
tmoraes@hojeemdia.com.br
15/01/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:25
 (Flávio Tavares / Hoje em Dia)

(Flávio Tavares / Hoje em Dia)

A segurança pública de Belo Horizonte, um dos principais motes de campanha do prefeito Alexandre Kalil (PHS), será reforçada. Nos próximos quatro anos, a PBH tentará integrar a Guarda Municipal à Polícia Militar e ainda pretende dobrar o número de guardas municipais, hoje em 2 mil homens. É o que revelou ao Hoje em Dia o secretário municipal de Segurança Pública e Prevenção, Cláudio Beato. 

A ideia é frear o crescimento dos crimes na cidade. De 2015 para 2016 houve um aumento de 32% nas contravenções, que saltaram de 34 mil para 45 mil. Em 2014, foram 32 mil crimes, conforme Beato. 

Sociólogo e especialista em segurança pública, Cláudio Beato afirma que todos os guardas, inclusive os que assumirão a função no futuro, serão treinados para uso de armas de fogo. Atualmente, dos 2 mil guardas que atuam na cidade, 800 possuem treinamentos com armas. As vagas serão preenchidas por meio de concurso público, que pode sair ainda neste ano. 

Crise

O secretário ressalta que o aumento no número de crimes em Belo Horizonte é reflexo, também, da crise econômica que assola os país. “Não é falta de gestão e também não tem ligação com o aumento da população”, garante. 

A título de comparação, ele afirma que a situação de cidade é crítica. “De certa forma, estamos pior do que outras capitais, como São Paulo. Mas, em geral, todas elas estão ruins”, analisa o sociólogo. 

Além de ampliar o número de guardas, ele pretende implantar na cidade um projeto de integração das forças estaduais e municipais. Estudos estão em andamento para definir como será realizada a união. O que se sabe até o momento é que a Polícia Militar continuará a atuar em quadros mais graves, como guerras de gangues, enquanto a Guarda Municipal será utilizada no patrulhamento ostensivo. 

Outra estratégia é reduzir, gradualmente, o número de agentes que atuam com serviços administrativos para reforçar o pessoal na rua. 

A intenção é barrar, principalmente, os crimes mais comuns, como furto e roubo de transeuntes e assaltos a ônibus. Na avaliação de Beato, esse tipo de crime causa na sociedade um sentimento grande de impotência e insegurança. 

Diagnóstico

Para definir o posicionamento das políticas na cidade, um diagnóstico amplo será elaborado. O documento irá mapear áreas com maior intensidade de crimes e os horários em que eles acontecem. Até lá, a prefeitura trabalhará com os números do Estado. 

O governo mineiro não comentou as declarações do secretário sobre a integração com a Polícia Militar. O governador Fernando Pimentel (PT) declarou apoio a Kalil quando o último tomou posse.Lucas Prates / N/ASociólogo responsável por programas de governo de candidatos do PSDB em Minas assumiu a Secretaria de Segurança Pública da Prefeitura de BH

 

Policiamento ostensivo será feito pela Guarda

Como o senhor define a segurança em BH?
Sabemos que falta ainda segurança para comércio, transeuntes, assaltos em ônibus, em geral. Os crimes contra o patrimônio têm crescido a uma taxa de 25%, 30% ao ano. Em 2016, nós chegamos a 45 mil crimes. No ano anterior foram 34 mil, e no anterior, 32 mil. Os crimes crescem em um ritmo bem acentuado.

É possível comparar Belo Horizonte com outras capitais? 
De certa forma, estamos pior do que outras capitais, como São Paulo. Mas, em geral, todas elas estão ruins. Principalmente devido à crise econômica. Minas vive um momento difícil do ponto de vista de crise fiscal e isso acaba afetando a capacidade das polícias. 

E como mudar este quadro?
A ideia é trabalhar em parceria com a Polícia Militar, além dos outros órgãos do sistema de Justiça para tentar, de forma conjunta e articulada, resolver problemas de segurança.

Hoje são quantos guardas municipais na cidade?
Dois mil guardas, 800 com treinamento para uso de armas.

Vocês pretendem criar concurso para a Guarda Municipal?
Sim. O objetivo é dobrar o número de guardas nos próximos quatro anos. Todos treinados com porte de arma.

Há guardas municipais atuando em serviço administrativo?
Tem alguns, eventualmente. É necessário que haja uma quantidade de pessoal no setor administrativo para trabalhar internamente, como em eventos da Defesa Civil. Mas é cada vez menor. Precisamos colocá-los cada vez mais na função fim, que é a guarda de patrimônio público e também no policiamento ostensivo. Este é o nosso objetivo.

Na avaliação do senhor, o uso de arma pela Guarda Municipal é necessário?
Para certo tipo de evento e situação, sim. Em confrontos, principalmente. Mas, na grande maioria dos casos, não acredito que seja necessário. 

A ação coordenada entre PM e Guarda Municipal já é realidade em alguma outra cidade?
Sob o ponto de vista da participação da prefeitura, a integração que faremos em BH é uma novidade. Mas estão pensando em fazer no Rio de Janeiro, por exemplo. Lá, também, a ideia é ter uma ação mais concatenada junto às forças estatais. 

Na prática, como funcionará a integração?
A PM atua nos eventos mais complexos. Por exemplo, quando você tem casos de guerra de gangues, a atuação em alguns aglomerados é uma tarefa da PM, que tem treinamento e equipamento para esse tipo de situação. No caso da Guarda Municipal, é mais a presença ostensiva nas áreas onde os crimes acontecem, que, em geral, não são dessa complexidade. Resumindo: vai ter polícia na rua quando as coisas acontecerem.

O que é fundamental para combater o crime? 
Conhecer onde e como eles acontecem, os horários, quem são as pessoas envolvidas. A partir deste diagnóstico você passa a ter um conjunto de informações. Com elas, é possível contribuir no policiamento ostensivo nas áreas de maior número de crimes, as chamadas Zonas Quentes de Crime da cidade. 

Já existe um diagnóstico?
A Secretaria Estadual de Defesa Social faz um diagnóstico. Vamos partir dele para as primeiras ações, usar estas informações para traçar estratégias em conjunto. Mas também vamos elaborar outras análises. 

O que os diagnósticos que vocês usam têm mostrado sobre os crimes?
Especialmente, que os crimes contra o patrimônio são os que mais crescem. Estão bastante acentuados. Homicídios até que teve diminuição, mas os crimes contra o patrimônio são os que mais preocupam. Principalmente estes que aborrecem muito a população, como furtos, roubos, esse tipo de coisa. 

Qual o crime mais comum?
Furto e roubo a transeunte são os mais frequentes. Pessoas andando nas ruas e têm o celular roubado, é bem recorrente. E nesse caso, é importante que a população acione a polícia. É possível encontrar o criminoso por meio das câmeras do Olho Vivo do Centro, por exemplo. Muitas vezes a pessoa deixa de chamar a PM, de registrar o fato, acha que é uma coisa pequena, sem importância, não quer perder tempo. E, no entanto, é fundamental para que as polícias possam ter um quadro mais amplo e real da situação e, portanto, para que possam fazer um planejamento mais adequado.

O senhor tem falado muito em “sensação de segurança”...
Sim. Quando a Guarda conversa com a população, por exemplo, aumenta a sensação de segurança. Faz parte da estratégia de policiamento militar. Mas, além dessa estratégia, temos que reduzir os índices. Especialmente aqueles que aborrecem muito a população, que são justamente os pequenos delitos, como furtos nas áreas centrais. 

Como será estruturada a secretaria?
Em três eixos, que serão a articulação integrada com as polícias; um eixo de diagnóstico e análise de indicadores de criminalidade, além de indicadores sociais e econômicos; e prevenção. Neste último, será uma atuação junto a jovens, para que eles não se envolvam com o crime. E aí temos projetos de intervenção nas escolas junto aos órgãos de assistência social.

Como o senhor montará a equipe?
Eu precisarei de profissionais que atuem, principalmente, na área de gestão de informações, criminalidade e violência. Tem que ser um conglomerado de diversas áreas diferentes.

A maior ferramenta de BH para a segurança é o Centro de Operações (Cope-BH)?
Não apenas para a segurança. Para gestão de trânsito, fiscalização urbana, serviços de saúde. Tudo passa pelo Cope-BH, que é uma espécie de “sismógrafo” de Belo Horizonte. Ele faz muita diferença, principalmente pelo fato de estarmos trabalhando de forma integrada. Vai além da segurança. 

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