Após recuo por 4 anos, entidades do setor imobiliário apostam em expansão de 2% nos empreendimentos

Evaldo Magalhães
efonseca@hojeemdia.com.br
04/01/2018 às 21:06.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:36
 (Flávio Tavares/Hoje em Dia)

(Flávio Tavares/Hoje em Dia)

Os bons ventos que sopraram na economia brasileira na segunda metade de 2017 e a reabertura, no início deste mês, pela Caixa, da linha habitacional Pró-cotista, destinada aos trabalhadores que têm contas no FGTS, fazem com que entidades do setor imobiliário e da indústria da construção civil de Minas Gerais – cuja previsão de crescimento para 2018 é de 2%, depois de quatro anos de recuo – estejam otimistas com o desempenho do segmento no Estado, nos próximos meses. 

Seja por meio do aporte de investidores, muitos deles afastados dos ativos imobiliários nos últimos três anos, ou de consumidores finais, em busca de imóveis comerciais ou da casa própria para comprar, a expectativa, segundo o Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG), é de que o número de empreendimentos cresça de maneira gradual, mas consistente .

“Ao contrário do que ocorreu por volta de 2009 e 2010, quando o setor registrou um boom de empreendimentos depois de três anos seguidos de retração e houve um crescimento desequilibrado da oferta em relação à demanda, o que esperamos é que, em 2018, tenha início um ciclo de retomada mais equilibrado, com elevação gradual dos negócios”, diz o diretor da Área Imobiliária do Sinduscon-MG, Braulio Franco Garcia. 

“A expectativa é de que, depois de um período de vacas magras, o mercado volte a respirar e que 2018 seja a concre-tização do antigo ditado: ano novo, casa nova”, completa a presidente da Câmara do Mercado Imobiliário e do Sindicato dos Corretores de Imóveis de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG), Cassia Ximenes. 

Financiamento

A reabertura da linha Pró-Cotista da Caixa, suspensa em setembro do ano passado por falta de reservas, não deve trazer impacto para o mercado de novos empreendimentos. Na avaliação de especialistas no setor em Minas, o reflexo positivo deve ser sentido no segmento de unidades em estoque. Ao todo, a Caixa está liberando R$ 4 bilhões para todo o país (10% para Minas), cerca de R$ 2 bilhões a menos que no ano passado.

“Sem dúvida, esses recursos darão uma aquecida no mercado de imóveis prontos, reduzindo estoques que estão elevados”, afirma o vice-presidente do Sinduscon-MG, Geraldo Linhares Júnior. 

Responsáveis pela concessão de crédito imobiliário da Caixa, donos de agências negociais de correspondência bancária da capital já registram aumento na procura de interessados. 

Os irmãos Francisco e Adelaide Latalisa, donos de um desses escritórios, revelam que, nos últimos dias, a unidade, que estava praticamente sem receber novos proponentes desde setembro, tem atendido de 10 a 15 pessoas por dia.

“Gente que se frustrou com a interrupção do crédito, no ano passado, está voltando a procurar a Caixa e sendo encaminhada para nosso escritório”, diz Adelaide. 

Apesar da movimentação, Francisco não está tão otimista. Para ele, os recursos do Pró-cotista, inferiores aos do ano passado, “podem até aquecer o mercado, mas estão bem aquém da demanda e devem acabar em pouco tempo”. 

Capital mineira teve maior valorização no preço médio de imóvel

Belo Horizonte foi a cidade que registrou a maior elevação do preço médio de imóveis em 2017, segundo o índice Fipezap, divulgado ontem. Com aumento médio de 4,77% nos valores, bem acima do IPCA do período (2,78%), a capital liderou um ranking que, no geral, teve recuo médio de valores de 0,53% entre 20 centros pesquisados. Foi, aliás, o primeiro ano de retração nos preços dos imóveis em uma década, a partir do início da medição. 

Em 13 das 20 cidades pesquisadas onde houve recuo de preços, os destaques foram Rio de Janeiro (-4,45%), Niterói (-3,43%), Fortaleza (-3,35%) e o Distrito Federal (-2,27%). Entre as sete em que houve aumento, depois de Belo Horizonte, vieram Florianópolis (4,34%), São Paulo (1,40%) e Vila Velha (1,35%).

Segundo o advogado e especialista em imóveis Kenio Pereira, a explicação para a alta na capital está na redução de lançamentos, o que contribuiu para controlar a oferta diante de uma demanda já reprimida em razão de fatores como a crise econômica e o desemprego. 

“O que houve foi uma habilidade maior dos construtores que atuam na cidade, que, percebendo as dificuldades do mercado, reduziram os lançamentos, diminuindo a oferta e favorecendo essa ligeira recuperação dos preços, algo natural do mercado”, analisa.

Para os primeiros meses de 2018, conforme o advogado, mesmo que tenha havido pequena elevação de preços, a boa notícia é para quem pensa em adquirir imóveis. “São vários os fatores positivos que favorecem a compra. As incorporadoras e construtoras têm custos fixos e necessidades operacionais que as tornam mais flexíveis e as deixam mais abertas a propostas de parcelamento ou de desconto à vista”, garante.

Pela pesquisa Fipezap, em dezembro de 2017 os metros quadrados com valores mais elevados na capital mineira ocorreram na Região Centro-Sul, com destaque para Savassi (R$ 11.600), Santo Agostinho (R$ 10.521), Funcionários (R$ 10.340), Lourdes (R$ 9.644) e Belvedere (R$ 9.234). Os mais baixos foram apurados nos bairros Jaqueline, Europa, Solar do Barreiro, Serra Verde e Vale do Jatobá: abaixo de R$ 3 mil. 

Saiba mais

Segundo dados divulgados pelo Sinduscon-MG em dezembro último, relativos ao período de janeiro a setembro, o PIB da Construção Civil em Minas Gerais caiu 7,7%, em 2017 em comparação ao mesmo período do ano anterior. 

O mercado de trabalho formal no setor sentiu os efeitos da queda de atividades. Apesar de registrar resultados positivos no Estado no período de janeiro a outubro de 2017 (geração de 6.882 novas vagas), o saldo dos últimos quatro anos ainda foi bastante negativo (-111.050 postos de trabalho). 

Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o número de trabalhadores com carteira assinada na construção, que em outubro de 2016 era de 142.796, passou para 136.957 em igual mês de 2017: redução de 4,09%. 

“Tivemos um retrato ruim desse ano, mas foram plantadas sementes positivas para 2018. O mercado não é linear e 2018 traz boas expectativas. Estamos esperando um ano de recuperação e números positivos no setor da Construção Civil”, avalia o vice-presidente da área imobiliária do Sinduscon-MG, José Francisco Cançado.

A opinião é reforçada pelo economista e coordenador sindical da entidade, Daniel Furletti. “Vemos bons ventos para este ano. Do ponto de vista macroeconômico, estamos melhores se compararmos aos dois últimos anos. Mas precisamos ainda de mais reformas. A da Previdência está em andamento, mas precisamos que as reformas Tributária e Administrativa também aconteçam”, analisa.
 

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