Barreiras impostas à carne ameaçam exportações de US$ 208,8 milhões em Minas

Tatiana Moraes
tmoraes@hojeemdia.com.br
20/03/2017 às 21:40.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:49

A atuação ilegal de frigoríficos e funcionários do Ministério da Agricultura, que se tornaram alvo de investigações da Polícia Federal por meio da Operação Carne Fraca, coloca em xeque a economia mineira. Cerca de US$ 208,8 milhões podem deixar de entrar no Estado todos os anos, o equivalente a 29% das vendas de carne de Minas para o exterior .

O montante, segundo informações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), representa os embarques de carnes de Minas para três dos quatro países (China, Egito e Chile) que suspenderam ou colocaram fortes entraves à compra do produto brasileiro, além da União Europeia.

A Coreia do Sul, que seria o quarto país, importa o alimento do Paraná e do Rio Grande do Sul. Os principais destinos de embarque de carne mineira são China, Arábia Saudita, Hong Kong, Emirados Árabes e Rússia. O Chile é o principal cliente da América Latina. Os três países que anunciaram embargo à carne brasileira, juntamente com a União Europeia, responderam por 34,24% das exportações nacionais de carne bovina e 20,16% das de frango em 2016.


Mercado doméstico
O mercado interno também apresenta fortes restrições ao consumo. Em São Paulo, chegou a ser proibida a compra de carne bovina, frango e salsicha para utilização na merenda escolar, medida que logo foi cancelada. No fim da tarde de ontem, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, suspendeu o embarque de produtos dos 21 frigoríficos suspeitos de envolvimento nas fraudes, que permitiam chegar ao consumidor produtos vencidos e adulterados. Para o consumo doméstico, no entanto, não há restrições.

Queda no Preço
Além de impactar a exportação, a queda no consumo interno, que representa 80% da produção, pode derrubar o preço da carne, conforme alerta o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg), Roberto Simões. “Se o produto não vende, o preço cai e o produtor tem prejuízo. É lamentável que isso tenha acontecido e que tenha sido conduzido de forma alarmista. Nós mesmos nos expusemos mundialmente”, lamenta.

Para o presidente da Associação de Frigoríficos de Minas Gerais, Espírito Santo e Distrito Federal (Afrig), Sílvio Silveira, a redução da confiança do comprador estrangeiro é incalculável. “O comércio de carnes parou. As adulterações abalaram o agronegócio mineiro. Para vender, os produtores se esforçam muito, ficam mais de um ano negociando. Mas para parar de vender, basta um dia”, afirmou.

O superintende de Abastecimento de Economia Agrícola, João Ricardo Albanez, ressalta que a carne brasileira vinha em uma valorização. Nos dois primeiros meses de 2017, houve alta de 27,5% no valor exportado em Minas, quando comparado a igual período anterior. “No primeiro bimestre do ano, o Estado conseguiu embarcar US$ 153,8 milhões. Em contrapartida, o volume cresceu 9%, o que comprova o crescimento no preço médio da tonelada”, observa.

Ele lembra que em 2016 o Brasil conseguiu abrir as fronteiras para os Estados Unidos, uma espécie de vitrine para o restante do mundo. “Ainda não dá para dimensionar o impacto. A conquista do mercado internacional foi trabalhada. Demorou anos para ser efetivada”, diz.

Albanez alerta que o fato é grave e que deve ser tratado de maneira rápida para que não afete ainda mais o setor. “Não podemos prejudicar ainda mais um setor que ficou fragilizado. É uma unidade que tem uma forte geração de emprego e renda para o país. Somos referência no mundo”, comenta.
O presidente da Faemg aguarda que a imagem do país seja restabelecida por meio de conversas e ações do governo federal com os países que perderam a confiança no Brasil. “Ao produtor, só resta aguardar. Ele está de mãos atadas”, pondera.


 

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