BDMG irá se capitalizar com recursos do exterior

Giulia Mendes - Hoje em Dia
06/03/2015 às 07:27.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:15
 (CARLOS RHIENCK - 4/3/2015)

(CARLOS RHIENCK - 4/3/2015)

Dois dias depois de assumir a presidência do Banco do Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), Marco Aurélio Crocco já tem o primeiro desafio pela frente: buscar recursos fora do país para aumentar o funding (capital disponível) do banco em meio a crise econômica de Minas Gerais.

Sua primeira viagem será no fim do mês para a República da Coreia, onde participará da reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), no dia 26. “Em momentos de crise, nós vamos ter que ser criativos para aumentar a captação do banco, para que ele possa emprestar mais e desenvolver. Vamos à reunião do BID este mês para continuar as tratativas de mais recursos e tentar explorar essa captação de uma forma maior. Essa é uma das alternativas que temos”, revelou o presidente da instituição.

Em 2010, os fundos estaduais do BDMG representavam 53% do total de empréstimos. Já no ano passado, a taxa caiu para 4,3%. “Praticamente acabou. O Estado está numa situação financeira difícil, então não podemos contar com ele para fazer nosso trabalho, nem com o Tesouro para aportar recursos aqui. O que vamos fazer é ampliar nossa atuação com o desembolso do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)”, afirmou Marco Aurélio.

ATUAÇÃO NOS MUNICÍPIOS

Junto aos municípios mineiros, o BDMG irá atuar com investimento de R$ 700 milhões, segundo Crocco. “Temos uma linha específica, com recursos próprios do banco, que permite uma boa atuação, principalmente com municípios pequenos. O tíquete médio de empréstimo é de 2 milhões de reais para obras de pavimentação e outras obras pequenas que, para municípios menores, faz uma diferença muito grande. Com esse valor, estamos atingindo nosso máximo”, disse.

Atualmente, a instituição possui empréstimos em 760 municípios mineiros e uma carteira de 21.340 clientes ativos. “São 450 correspondentes bancários no Estado, cooperativas de credito que são nosso canal para ter capilaridade”, ressaltou o presidente do banco.

De acordo com Marco Aurélio, a principal demanda de micro e pequenas empresas mineiras deverá ser de valores para capital de giro, devido a crise econômica. “O setor privado reduz o fornecimento de crédito num momento de crise. Quando a economia cai, esse setor é o primeiro a ser impactado. Certamente, várias empresas em Minas Gerais terão problemas de capital de giro. Vamos tentar suprir isso. Na medida dos nossos recursos, vamos tentar suprir essa necessidade que o Estado terá”, disse Crocco.

A previsão do presidente do BDMG é que as linhas de financiamento do banco não sofram redução. “A função do banco é ser anticíclico. Ainda não tenho a situação clara, mas estamos atentos a isso. Não sei se teremos uma redução de demandas de investimento, por causa da crise econômica, mas, como nós praticamente não operamos com recursos do Tesouro, acredito que a nossa oferta de recursos não sofrerá redução”, afirmou.

ENTREVISTA MARCO AURÉLIO CROCCO

Qual é a situação atual do BDMG?

Encontramos um banco que está equilibrado financeiramente, que investiu pesado em processos internos para se tornar um banco que se diferenciasse dos outros na rapidez com que consegue crédito e com o diferencial dos juros. Isso o banco fez de uma forma que estamos chamando de horizontal. Foi uma estratégia correta para o banco. Agora, nosso entendimento é que isso não é suficiente para caracterizar um banco de desenvolvimento. Essa que é a diferença. Um banco de desenvolvimento tem uma função distinta de um banco comercial. Normalmente, o banco comercial visa maximizar o lucro, nosso objetivo aqui é garantir ou proporcionar desenvolvimento para o Estado. Existem atividades importantes para o desenvolvimento econômico, como por exemplo infraestrutura, que são muito caras para um setor bancário comercial atuar. Então, o setor público tem que atuar, algumas vezes, em parceria com o setor privado. O BDMG tem produtos mais baratos, tem agilidade e tem inteligência, mas isso não basta. Nos últimos 12 anos, o banco esteve ligado a um governo que não pensava em desenvolvimento, sem juízo de valor, era um banco que acreditava que o mercado resolvia as coisas. Esse novo governo nos demanda isso.

O que deverá ser feito para alcançar esse desenvolvimento?

Temos que buscar o que chamamos de fortalecer a renovação, a ‘descomoditização’ da estrutura produtiva do Estado, através da introdução de novos produtos, novos processos, em todos os seus setores. Trazer pra cá os setores portadores dessa economia, de nanotecnologia, de biotecnologia. Precisamos ter uma ação centrada fortemente no desenvolvimento regional para ajudar também a reduzir as desigualdades. É isso que faremos neste mandato. Vamos ter varias novidades, atuar em setores de economia criativa, de cultura, que também é desenvolvimento. O banco sempre tinha essa característica no passado, era um banco que tinha ideias e propostas. A gente vai tentar recuperar um pouco disso, dessa capacidade de inteligência. A casa tem uma qualificação extremamente elevada, um corpo técnico altamente qualificado, que agora queremos incentivar um pouco mais.

Como o Estado deve reagir à crise econômica?

Em Minas Gerais, principalmente no passar dos anos 2000, chamado ‘superciclo’ das commodities, o preço dos nossos produtos exportadores, como minério e petróleo, explodiu no mercado mundial e nos permitiu ter taxas de crescimento elevadas. Mas isso não vai acontecer mais. Os Estados unidos estão crescendo menos, a China está crescendo menos, assim como a Europa. Então, a economia mundial está num período de deficiência. Se o Estado também gasta pouco, ele ajuda a economia a deteriorar ainda mais. As contas públicas do Estado têm que estar em ajuste, têm que contrabalançar para garantir o nível mínimo de atividade econômica e emprego.

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