Beagá dorme: só cinco bares e restaurantes funcionam 24 horas na capital

Tatiana Moraes
tmoraes@hojeemdia.com.br
06/02/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:41

Se Nova York é a cidade que nunca dorme, BH é a que descansa tranquilamente. Com 2,3 milhões de habitantes, a “capital dos bares” tem poucos estabelecimentos que funcionam 24 horas.

É possível contar nos dedos de uma das mãos as casas que não fecham as portas: cinco. Resistentes, elas veem na madrugada potencial para engordar o caixa. 

Há até pouco tempo, quem voltava da balada de madrugada (ou até mesmo no início da manhã) tinha muitas opções de bares e restaurantes para continuar a festa. Ícones da boemia, como o restaurante Paracone, no bairro Santa Efigênia, e o Bolão, no Santa Tereza, funcionavam full time para atender aos que não têm hora para voltar para casa. Padarias, supermercados e farmácias abertas também ficaram no passado. 

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Ricardo Rodrigues, a crise econômica, o alto custo para manter funcionários na madrugada e a falta de segurança fizeram com que estabelecimentos revissem a estratégia e encerrassem o expediente horas mais cedo. Mais quem vai contra a maré não se arrepende.

Tradição

Ponto de encontro de quem não quer que a noite acabe, o La Greppia, no centro da capital, funciona ininterruptamente há 20 anos. Cerca de 70% do faturamento do restaurante é resultado do que é vendido na madrugada. “Aqui é, literalmente, o ‘lugar diferente para depois da saideira’ que o Skank canta”, brinca a proprietária Silvana Paradela.

Embora a casa sirva pratos à la carte e possua opções de frios, o carro-chefe da madrugada é o bufê de massas, das 19h às 4h, a R$ 24,20 por pessoa.

Quando o sol começa a raiar, os sons de panela que vêm da cozinha indicam que a preparação do almoço começou. E é dele que vem a segunda fonte de receita do restaurante. A proprietária reconhece que os custos para manter o La Greppia aberto 24h são altos, mas garante que o retorno compensa. 

Inaugurado há quase 40 anos, o Breik Breik é referência em lanches rápidos em BH. Das sete lojas, cinco funcionam full time. Conforme o gerente-geral da rede, Leandro Mol, filho do fundador, 80% da receita vem do público que passa no local após as festas. Ou seja, de madrugada. Editoria de Arte / N/A


Almoço

Para incrementar o faturamento, Leandro Mol criou uma série de refeições para serem servidas no almoço. “Temos o tradicional PF, arroz na chapa, macarrão na chapa e omelete”, conta.

Na avaliação dele, a quantidade de estabelecimentos 24h de BH não condiz com o tamanho da cidade. “A cidade é enorme e carente de locais que não fecham. Os clientes sempre comentam que não têm outros locais para ir”, diz. 

Pontos tradicionais que ainda não foram vistos com as portas cerradas são o MC Donald’s da Savassi e o da Praça da Assembleia. Quem passa por lá depois da balada, especialmente pela Savassi, sabe que a estratégia de focar no after deu certo. Filas enormes e gente bem humorada marcam o estabelecimento no fim de noite. 

Segurança

No bairro Boa Vista, na região Leste da cidade, a Padaria da Praça também resiste à crise e mantém as portas abertas 24h. Segundo o proprietário, Hélio Marcio Magalhães, o faturamento da noite cresceu 50% no último ano, em comparação a 2015.

Para este ano, ele espera vender ainda mais. “Com medo da violência, atendemos por uma grade a partir das 22h, mas as vendas não param. As pessoas procuram de tudo. Cerveja, salgado, refrigerante e pão são os mais vendidos”, conta Magalhães. 

A violência também assusta Marcos Rios Neto, proprietário da Padaria Fênix, no Centro, que também é 24 horas. “É uma luta diária. Podemos dizer que somos os heróis da resistência”, diz. Lucas Prates / N/ACerca de 70% do faturamento dos proprietários José Mendonça e Renato Soares, do Renato Fine Burguer, vêm da madrugada 

 Até tarde da noite, mas com algumas horas de descanso

Eles cedem em algum momento e acabam fechando as portas, mas funcionam até o sol raiar. Embora não sejam 24 horas, alguns estabelecimentos de Belo Horizonte “salvam” quem está na rua de madrugada e não tem hora para ir embora. 

Há algum tempo, o Bolão, em Santa Tereza, sucumbiu aos altos custos e decidiu mudar a estratégia. Antes em funcionamento integral, o restaurante decidiu fechar pela manhã, mas chega a funcionar até às 6 horas no sábado e no domingo. Nos outros dias da semana, encerra as atividades um pouco mais cedo.

O proprietário Luiz Antônio Souza Rocha é neto do fundador e afirma que pelo menos 300 pessoas passam pelo estabelecimento todos os dias – uma média de 2,1 mil pessoas por semana. 

A madrugada, no entanto, concentra a maior parte do público. De acordo com Rocha, 60% das vendas são realizadas entre a meia-noite e o fechamento da casa.

Rei de Lourdes

Referência em lanches na cidade, o Renato Fine Burguer, localizado na Avenida do Contorno, em Lourdes, chega a vender 300 sanduíches em um fim de semana. Em alguns dias, a casa fica aberta até 5h30. 

O público, segundo um dos sócio do estabelecimento José Mendonça, é variado. “Na madrugada, é o pessoal da Savassi. No domingo à noite, no entanto, vêm muitas famílias. Nos outros dias mais cedo, muitas pessoas que moram sozinhas passam por aqui para levar algo para o jantar”, comenta. 

Pede e dorme

Também na madrugada, o delivery é o carro-chefe da casa. O Renato Fine Burguer aceita pedidos até por volta das 5h na sexta e no sábado. Segundo Mendonça, cerca de 70% do faturamento vem deste público. 

As perdas também se destacam antes do dia amanhecer. “Tem gente que pede e esquece. O motoqueiro chama pelo interfone, liga, e nada. Quando o cliente acorda, ele liga pedindo de novo. E nós levamos de novo, né?”, se diverte o proprietário. 

Além Disso

Lasanha Daspu

Outro local tradicional na madrugada de BH e que costuma salvar quem volta da balada é a Cantina Daspu, um food truck que há 20 anos estaciona no alto da Afonso Pena para servir refeições. Ele funciona das 22h às 5h. No domingo, o horário é reduzido: das 20h às 3h. 

Nome curioso

O nome “descolado” é exatamente ligado ao que você está pensando. “Como na região tem garotas de programa, os clientes no passado usavam este nome. Aí, nós adotamos”, afirma o proprietário, João Paulo Rocha.

Diariamente, 150 lanches são comercializados. O forte do local é a lasanha, mas também tem nhoque gratinado, pizza e outros. Segundo Rocha, as vendas caíram em 2016, mas os resultados anteriores foram exorbitantes. 

“Vínhamos de uma crescente enorme que realmente era difícil de segurar, principalmente devido à crise. As pessoas têm saído menos. Agora, voltamos aos patamares normais”, afirma. 

Eventos

Além de ficar estacionada no alto da Afonso Pena, a Kombi estilizada costuma dar o ar da graça nos pontos mais movimentados da cidade na hora do almoço. “Assim, faturamos um pouco mais”, diz João Paulo Rocha.

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