Veja como foi o primeiro dia de desfiles das escolas do Rio de Janeiro

Estadão Conteúdo
08/02/2016 às 08:26.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:20
 (Vanderlei Almeida/AFP)

(Vanderlei Almeida/AFP)

A primeira noite de desfiles das escolas do Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro parece que não decepcionou o público. Com o o enredo "Salve Jorge! O Guerreiro na Fé", a escola Estácio de Sá abriuo espetáculo neste domingo (7), na Sapucaí. De volta à elite do carnaval do Rio depois de oito anos na segunda divisão, a Estácio de Sá homenageia São Jorge, um dos santos mais populares do Brasil, no enredo desenvolvido pelos carnavalescos Amauri Santos, Chico Spinoza e Tarcísio Zanon. Longe de disputar um lugar entre as melhores, o grande desafio da escola é permanecer no Grupo Especial: nos últimos quatro anos, a escola alçada à elite foi rebaixada no mesmo ano. Antes, em 2007, isso aconteceu com a própria Estácio: vencedora da segunda divisão em 2006, ela fez um único desfile na elite e voltou ao então Grupo de Acesso A.

A escola retratou a vida de São Jorge desde o tempo em que ele era capitão do exército romano, na Capadócia, região da Turquia, e vai destacar a imensa fé do militar no cristianismo, que fez com que ele recusasse ofertas tentadoras do imperador e sofresse martírios. A fama de Jorge se espalhou pela Europa e sua determinação serviu como exemplo aos cavaleiros que participaram das cruzadas. Seus feitos se tornaram lendários e hoje são louvados por fiéis de várias religiões - entre os sambistas, Jorge é o santo mais cultuado.

Grande Rio

A crise parece ter passado longe da Grande Rio. Mesmo sem o patrocínio esperado da prefeitura de Santos, cidade homenageada pela agremiação, a escola de Caxias fez um desfile luxuoso, com bonitos efeitos especiais.

Já na comissão de frente, a opulência chamava a atenção. Os coreógrafos Priscilla Mota e Rodrigo Negri foram à Argentina buscar a tecnologia para uma imensa bola de futebol, que era inflada e encobria a Fonte de Itororó, atração turística da cidade. No topo, o ator Mateus Renan encarnava Pelé, ora como jogador do Santos, ora como campeão do mundo, com o uniforme da Seleção. "É uma honra e uma responsabilidade fazer o papel do Pelé. Estamos ensaiando há quatro meses, inclusive na Argentina", contou Renan.

O carnavalesco Fábio Ricardo tem ligação pessoal com Santos - seu pai trabalhou no porto. Ao contar a história da cidade litorânea, transformou Itororó numa fonte de inspiração - teria sido a partir dali, ao beber das suas águas, que Pelé conquistou o mundo.

Ricardo lembrou de figuras ilustres, como José Bonifácio, patriarca da Independência, interpretado pelo ator santista Oscar Magrini. Dona Domitila, a amante de d. Pedro, que ganharia o título de Marquesa de Santos, foi representada pela porta-bandeira Verônica Lima. O mestre-sala Daniel Werneck fez o papel do imperador.

Santos foi lembrado pela imigração de japoneses, italianos, espanhóis e alemães; pela cultura cafeeira, que impulsionou a cidade economicamente; e pelo porto, o mais importante do País; pelas belezas naturais e o surfe.

Pela contribuição ao esporte, Neymar e Pelé receberam homenagens especiais. Mas nenhum dos dois compareceu ao desfile. Pelé, por ordens médicas. "Ele mandou um vídeo, está andando com apoio de andador", contou o patrono, Leandro Soares. Já Neymar não foi liberado pelo Barcelona, que jogou contra o Levante. A irmã dele, Rafaella, foi destaque em um dos carros.

O Santos mereceu várias menções. Os ritmistas liderados pelo mestre Thiago Diogo vestiam uniforme do clube. Uma enorme bola inflável pairou por sobre a bateria, que fez cinco paradinhas, e teve à frente a atriz Paloma Bernardi. Toda de dourado, ela representava o troféu Tereza Herrera. A torcida santista também ganhou uma ala.

Como sempre, a escola veio recheada de artistas: Susana Vieira, Monique Alfradique, Tayla Ayala, Ana Hickman e Deborah Secco estavam entre as famosas que desfilaram na escola.

Veterana na Marquês de Sapucaí, Susana Vieira alfinetou rainhas de bateria "mais valorizadas" que os músicos. "Escola de samba é feita de dois tipos de pessoas. Da comunidade e de quem vem tirar uma casquinha. Eu sou comunidade. Rainha tem que conhecer cada músico, entender a bateria. Não é para aparecer mais que a bateria", afirmou.

Ela refutou a pecha de "escola dos artistas" que a Grande Rio ganhou. "Isso aqui é escola de comunidade. Desfilo há 18 anos, desde o grupo de acesso. Eu tenho orgulho de representar esse bairro carioca", disse referindo-se a Duque de Caxias, na verdade, um município da Baixada Fluminense.

Beija-Flor

Atual campeã do carnaval carioca e vencedora de sete dos últimos 13 desfiles, há décadas, a Beija-Flor inicia todo desfile como favorita. Em 2016, a escola de Nilópolis (Baixada Fluminense) vai contar a história de Cândido José de Araújo Viana, o Marquês de Sapucaí, que dá nome à rua do Rio transformada em passarela do samba. Por tabela, a escola presta uma homenagem à cidade onde Cândido nasceu, Congonhas de Sabará, atualmente chamada Nova Lima.
Sob o pulso firme do diretor de carnaval e harmonia Laíla, que também integra a comissão de carnavalescos responsáveis pelo enredo, a Beija-Flor tenta repetir um bicampeonato, conquistado pela última vez em 2007-2008. O cantor Neguinho da Beija-Flor está comemorando 40 anos como intérprete da escola - estreou em 1976, vindo da Leões de Nova Iguaçu, e foi pé-quente: a Beija-Flor conquistou seus três primeiros títulos justamente a partir da estreia do intérprete, em 1976, 77 e 78. Desde a morte de Jamelão, em 2008, Neguinho é o intérprete que está há mais tempo numa escola de samba do Rio.

Tijuca

Em seu segundo ano sem o carnavalesco Paulo Barros - depois de uma passagem gloriosa de cinco anos em que a atual estrela da Sapucaí conquistou três títulos -, a Unidos da Tijuca vai levar à avenida um enredo sobre Sorriso, município do Mato Grosso que é considerado a capital nacional do agronegócio e uma das maiores produtoras de soja do Brasil. O desenvolvimento coube a uma comissão com quatro carnavalescos: Mauro Quintaes, Annik Salmon, Hélcio Paim e Marcus Paulo - esses três já atuavam na agremiação ao lado de Paulo Barros.
Em 2015, junto com Carlos Carvalho, esse grupo levou a escola da zona norte do Rio ao quarto lugar, com um enredo sobre a Suíça.

A escola manteve a estrutura dos desfiles recentes em que foi campeã e tem chance de conquistar o título. O tema tratado neste ano se assemelha àquele apresentado pela Unidos de Vila Isabel em 2013, quando a escola de Martinho da Vila sagrou-se campeão. Um dos compositores do samba deste ano é Dudu Nobre.

Mocidade

O Dom Quixote da Mocidade Independente entrou na avenida lutando contra moinhos de ventos. Mas o inimigo imaginário não demorou a se transformar em problemas reais, o combate à corrupção e o escândalo da Petrobrás. Única a levar a crítica política para a Sapucaí no primeiro dia de desfiles do Grupo Especial, a agremiação correu riscos também no tamanho de seus carros alegóricos, os mais altos e largos até agora. Vários tiveram problemas na dispersão, prejudicando a evolução da escola.
A encenação de Dom Quixote arrancou aplausos da plateia. O lunático mais famoso da literatura começou o desfile com batalhas imaginárias, mas só até o momento em que o moinho se transformou em torre de petróleo, de onde saíram cinco engravatados sem cabeça, de terno preto, ladeando uma figura feminina vestida de vermelho. Todos acabaram colocados atrás das grades por Quixote e seu fiel escudeiro Sancho Pança. O cavaleiro ressurge sobre o moinho, com uma bandeira do Brasil nas mãos.

Um dos coreógrafos da comissão de frente, Saulo Finelon, rechaçou qualquer ligação com o atual governo. Segundo ele, a cor vermelha da roupa foi escolhida por acaso e a figura feminina entrou em cena apenas para mostrar que a corrupção não é uma questão de gênero. "Tem o contraste, o preto é escuro, vermelho é sangue. Há muito sangue na nossa política", completou Jorge Teixeira, outro responsável pela coreografia.

As referências à corrupção permearam o desfile da escola de Padre Miguel, que mostrou todos os símbolos clássicos, de ratos e moscas a dólares em malas. A imensa alegoria animada de Quixote dominou a avenida desde a entrada e foi a primeira a dar indícios de que a agremiação poderia ter dificuldades na dispersão. Mas os carros seguintes, do petróleo e dos ratos, foram os mais problemáticos, provocando buracos em alguns momentos e muita correria no final. A Mocidade encerrou sua participação faltando dois minutos para o fim do tempo máximo permitido, de 82 minutos.

Ilha do Governador

A escola da Ilha do Governador (zona Norte do Rio) aproveita a Olimpíada para fazer uma ode ao Rio de Janeiro, poucos meses antes de a cidade sediar o evento. O enredo "Olímpico por natureza... Todo mundo se encontra no Rio" é dos carnavalescos Jack Vasconcelos (responsável pelo desfile vencedor do Grupo de Acesso de 2009, que alçou a escola de volta à elite) e Paulo Menezes, que substituem Alex de Souza, agora responsável pela Unidos de Vila Isabel.
O desfile começa quando os deuses do Olimpo desembarcam no aeroporto do Galeão para conhecer a Cidade Maravilhosa. Durante o passeio, eles constatam a afinidade dos cariocas com o esporte e o culto ao corpo.

Famoso e respeitado entre os sambistas, mestre Ciça comanda a bateria da escola, que terá a modelo Bianca Leão como rainha. Desde o retorno à elite, em 2010, a escola famosa por enredos como "O Amanhã" e "É Hoje" conseguiu se firmar no Grupo Especial e tenta aproveitar o tema atual para chegar ao desfile das campeãs, que reúne as seis melhores escolas no sábado (13).

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