Brasileiros em Bruxelas oferecem abrigo para turistas afetados pelos atentados

Paulo Roberto Netto - Especial para o Hoje em Dia
pgoncalves@hojeemdia.com
01/04/2016 às 18:37.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:44
 (Arquivo pessoal)

(Arquivo pessoal)

Dizem que a ajuda sempre vem de lugares inesperados – e em períodos de crise, tal ditado não poderia estar mais correto. Desde as últimas semanas, quando atentados terroristas no aeroporto de Zaventem e na estação de metrô Maelbeek, em Bruxelas, deixaram mais de 30 mortos e centenas de feridos, uma corrente entre brasileiros que residem na Bélgica foi criada em grupos no Facebook para ajudar os turistas que enfrentassem qualquer contratempo após os atentados.

A belo-horizontina Julia Faria, 25 anos, foi uma das que se colocaram à disposição para prestar auxílio com dicas de hospedagem e transporte na capital belga. “Quando acontecem atos terroristas, é muito simples você sentir solidariedade em relação aos outros, porque é um ‘inimigo’ muito claro e comum. O inimigo que eu digo é a própria ameaça de violência e não os terroristas em si. Então, com a ameaça de violência pairando diretamente sobre você, é fácil sentir na pele e ter empatia por quem está na mesma situação”, explica Julia.

Residente em Bruxelas desde janeiro, ela conta que estava a caminho do escritório onde trabalha, próximo ao aeroporto de Zaventem, quando soube dos atentados. “É como se não fosse possível ignorar o que está acontecendo, nem sua habilidade de fazer alguma coisa sobre isso”, relata. Para Julia, a boa ação dos brasileiros é “um lembrete de porque eu quero tanto voltar para o Brasil, que para mim, é o melhor lugar do mundo”.

Do susto, a ajuda

Foi uma diferença de 30 minutos que “salvou” o paranaíbense Caio Cahone, de 22 anos, que passou pela estação de Maelbeek a caminho da faculdade. “Fiquei espantado por ter explodido depois que eu passei. O atentado ocorreu às 9h11, e eu passei por lá por volta das 8h40”, relata o estudante de Comércio Exterior.

O susto, no entanto, não desmotivou Caio a não ajudar o próximo. Pelo contrário, o brasileiro que vive em Bruxelas desde 2004 se colocou à disposição para receber em sua casa quem por ventura ficasse preso na cidade após o fechamento do aeroporto de Zaventem.

“Eu vi uma publicação de uma menina oferecendo ajuda para quem precisasse em Liège, ideal para quem tivesse vindo para a Bélgica, pois alguns aviões foram desviados para lá. Porém em Bruxelas não vi ninguém oferecendo hospedagem, e poderia ter pessoas presas por aqui. E como tenho um sofá e um colchão inflável sobrando, me coloquei a disposição para ajudar”, conta.

Rede

Caio, assim como a mineira Julia, participa de grupos de couchsurfing – prática de receber um turista em sua casa e mostra-lo a cidade. O universitário relata que nunca teve problemas em receber os visitantes e ajuda-los, principalmente em uma situação como a dos últimos dias. “Todos ali são estudantes e muitas vezes o dinheiro é contado, logo é uma ótima forma de economizar e acabar conhecendo pessoas que moram em outros lugares e que vem de lugares diferentes do Brasil”.

Paulista que mora em Liège usou o facebook para se colocar a disposição

Com o fechamento do Aeroporto de Zaventem, em Bruxelas, alguns voos turísticos foram desviados para a cidade de Liège, a cerca de 100 quilômetros da capital belga. Vendo a situação, a paulistana Stella Lage, 22 anos, que também faz parte dos grupos de couchsurfing se prontificou a ajudar quem tivesse sua rota alterada na última hora.

Residente em Liège, desde agosto do ano passado para realizar um intercâmbio em Medicina pelo Ciência Sem Fronteiras, Stella conta que foi adicionada ao grupo logo que chegou na Bélgica. “Desde sempre notei que havia muita gente oferecendo ajuda, seja para dicas de baratear viagem, troca de dinheiro, voos, restaurantes brasileiros e também para acomodação”, comenta.

“Quando aconteceu o atentado em Zaventem sabia que muita gente precisaria de ajuda porque parte dos voos estavam sendo desviados para Liège e foi por isso que postei lá! Acabei ajudando um rapaz e foi muito legal”, recorda a estudante.

De acordo com a universitária, o turista iria passar a noite em Bruxelas, mas devido aos atentados, preferiu mudar a rota para Liège antes de seguir para a França. “Eu acho que os brasileiros são muito abertos para ajudar uns aos outros aqui na Europa. Acredito que independentemente da circunstância excepcional, todos sempre se ajudam”, conta.

Aeroporto

O Aeroporto Internacional de Zaventem recebeu na quinta-feira aval dos Bombeiros, da Polícia Federal, e da Diretoria de Aviação Civil da Bélgica para voltar a operar parcialmente. A retomada dos voos depende somente da aprovação final do governo belga.

Em nota, a assessoria do aeroporto afirma que uma infraestrutura temporária foi construída para receber cerca de 800 passageiros por hora, o que corresponde a 20% da capacidade normal do aeroporto. Os visitantes que desembarcam no terminal contarão com a mesma infraestrutura, que foi pouco danificada nas explosões.

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