Brasileiros saem às ruas para exigir investigações a fundo contra políticos

AFP
26/03/2017 às 14:31.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:53

Milhares de brasileiros voltaram às ruas neste domingo (26) para expressar seu cansaço com a corrupção e denunciar as manobras que procuram colocar centenas de políticos corruptos à salvo da justiça. Os protestos começaram pela manhã em Brasília e no Rio de Janeiro, e prosseguirão à tarde em São Paulo.

Com as palavras de ordem "Fim da impunidade" e "Renovação política", os participantes reclamam o fim do foro privilegiado para ministros e congressistas e criticam as tentativas de anistiar as doações não declaradas a campanhas eleitorais, conhecidas como Caixa 2, que canalizaram milionários desvios de dinheiro público.

Os grupos que convocaram os atos tiveram papel determinante no impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016, mas sua campanha de moralização da vida pública se choca com o governo do presidente sucessor, Michel Temer.

Calcula-se que centenas de políticos - e muitos ministros - figuram nos pedidos de denúncia enviados este mês ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com base nas delações premiadas de 77 executivos da construtora Odebrecht.

Os manifestantes possuem divisões entre si, mas parecem afinados na defesa da Operação 'Lava Jato' e de seu promotor, o juiz Sérgio Moro, que há três anos revelou um complexo esquema de corrupção envolvendo a Petrobras.

"A 'Lava Jato' é um patrimônio nosso", afirmou uma das pessoas que discursou em um carro de som da organização Vem Pra Rua (VPR) na praia de Copacabana. "Os políticos estão apavorados", acrescenta.

"Estamos aqui para manter a indignação viva", declarou à AFP Adriana Balthazar, designer de moda e coordenadora do VPR no Rio.

Em outras ocasiões, a pressão das ruas ou nas redes sociais obrigaram Temer a frear projetos de anistia de financiamentos ilegais de campanhas eleitorais.

Agora os manifestantes esperam que aconteça o mesmo com projetos como o de organizar as eleições de 2018 com um sistema de listas fechadas, que permitiria aos políticos denunciados serem reeleitos sem fazer campanha em nome próprio, ganhando assim um novo mandato de imunidade parlamentar.

A mobilização, no entanto, não alcançou o mesmo volume que o de 2015-2016 para pedir a saída de Dilma e seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva.

Alguns analistas afirmam que os brasileiros, atingidos por mais de dois anos de recessão econômica, começam a dar sinais de cansaço ante a interminável repetição de escândalos.

O mais recente foi o da rede de propinas pagas pelos principais frigoríficos do país a inspetores sanitários para vender carne com data vencida, afetando as exportações do país que é uma potência agropecuária.

Empresários aborrecidos

O Vem Pra Rua, o Movimento Brasil Livre (MBL) e outros grupos que participam nos protestos acompanham suas denúncias contra a corrupção com uma agenda econômica liberal.

Isso faz com que não tenham o apoio de grupos de esquerda, embora muitos deles - começando pelo PT de Lula - vejam a 'Lava Jato' como uma manobra para impedir o ex-presidente (réu em cinco denúncias) de disputar as próximas eleições.

Temer poderia por isso contar com certa tolerância por parte dos manifestantes que em 2015 exigiram a saída de Dilma, satisfeitos com a tentativa de sanear as contas públicas com medidas de austeridade.

Mas o presidente teve de ceder no projeto de reforma da Previdência e seu ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, anunciou uma alta de impostos para cobrir o vermelho fiscal.

Iniciativas que acenderam o alerta vermelho nos meios empresariais.

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), que apoiou abertamente a mobilização contra Dilma, publicou anúncios que visam diretamente a Meirelles.

"O governo não está diminuindo nenhum gasto. E quer aumentar impostos", reclama Sérgio, um empresário octogenário que não hesitou em ir às ruas protestar no Rio.

Rio de revolta

Outro dilema dos manifestantes é sobre quem poderá se beneficiar de uma limpeza geral da classe política.

O orador do carro de som do VPR assegura que "há políticos honestos e decentes, que vão tirar o país do buraco se as eleições de 2018 permitirem que se livrem de tudo que há de podre".

Mas em um cenário de corrupção endêmica, desemprego recorde e criminalidade desenfreada, há quem olhe com certa nostalgia para o período da ditadura militar.

"Quando temos caos social, o exército tem que intervir, é legalmente obrigado a intervir", afirma Paulo Rachid, um engenheiro de 63 anos, presente no protesto no Rio.

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