Caixa sobe juros para imóveis e dificulta compra da casa própria

Tatiana Moraes
tmoraes@hojeemdia.com.br
29/03/2016 às 06:00.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:41
 (Wesley Rodrigues/Hoje em Dia)

(Wesley Rodrigues/Hoje em Dia)

Depois de adotar medidas de fomento ao mercado imobiliário no começo do mês, a Caixa deu um passo para trás.

Desde ontem, quem tenta fechar negócio com a instituição utilizando linhas de crédito que usam recursos da poupança (SBPE) precisa desembolsar mais. Os juros chegaram a aumentar até 1,3 ponto percentual ao ano.

Na prática, um cliente que deseja financiar R$ 300 mil e tem relacionamento com a Caixa, incluindo depósito do salário no banco, vai pagar R$ 210,65 a mais na prestação, que com a taxa anterior seria de R$ 2.439,82, e R$ 75.834 ao final de um contrato de 360 meses.

Neste caso, os juros saltaram de 9,50% para 10,50%. Como consequência, o valor final a ser pago ao banco passa de R$ 878.335,20 para R$ 954.169,20, segundo levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

Financiamentos feitos com FGTS e o programa “Minha Casa, Minha Vida” não serão afetados. Segundo a Caixa, o aumento nos juros é “decorrente de alinhamento ao atual cenário econômico”.

O último reajuste do banco foi em outubro do ano passado. Naquela época, a instituição financeira atribuiu a elevação à Selic, que estabilizou em 14,75% em julho, após sete altas seguidas.

Resgates na poupança

Dessa vez, a queda no saldo da poupança pode ser um dos motivos da elevação dos juros. Em um ano, mais de R$ 12 bilhões foram retirados da poupança, que mantém os empréstimos.
 
Na avaliação do presidente da Comissão de Direitos Imobiliários da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais (OAB-MG), Kênio de Souza Pereira, a fuga da poupança é reflexo de um melhor cenário para os fundos de investimentos, que têm rendido 11% ao ano.

“A poupança rende menos, cerca de 7,5%. Por isso, mesmo os investidores mais conservadores têm mudado a carteira. Como há menos dinheiro para emprestar, a Caixa restringe aumentando os juros”, explica.

“Com a escassez de recursos da poupança e sem perspectivas de melhoras, era de se esperar que a Caixa aumentasse os juros”Kênio PereiraPresidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG

Quadro geral prejudica

O cenário econômico adverso, caracterizado pela alta da inflação, que corrói a renda do consumidor, também contribui para o aumento das retiradas da caderneta.

Outro fator macroeconômico que pode ter reflexos no mercado imobiliário no médio prazo é o desemprego.

Com o aumento das demissões, haverá retiradas do FGTS. “Se os recursos do FGTS forem reduzidos, pode haver aumento dos juros desse tipo de financiamento no futuro”, diz o especialista.

Concorrência

O vice-presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-MG), Pedro Paulo Pettersen, afirma que o aumento dos juros pode ser uma forma de alcançar as taxas de outros bancos, normalmente mais altas.

Há, ainda, a possibilidade de a Caixa, por deter quase 70% dos financiamentos, puxar os juros dos bancos privados para cima.

“Como o mercado não está aquecido, é um pouco difícil que isso aconteça agora”, avalia.

Os bancos concorrentes negam uma elevação de juros. “Por enquanto, nada muda na estratégia do banco”, disse, por meio de nota, o Itaú-Unibanco.
“Não houve realinhamento das taxas praticadas pelo Banco do Brasil.

O BB monitora constantemente os movimentos do mercado e procura sempre oferecer as melhores condições possíveis aos seus clientes”, afirmou a assessoria de imprensa do BB.

O Bradesco garantiu que “as taxas permanecem as mesmas”. Segundo o Santander, não há definição quanto a algum aumento nas taxas atuais.Editoria de arte / N/A

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por