Captação de recursos para campanhas pela internet foi nula ou irrisória

Tatiana Lagôa e Raul Mariano
primeiroplano@hojeemdia.com.br
27/10/2016 às 22:05.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:25
 (Wilton Júnior/ Estadão Conteúdo)

(Wilton Júnior/ Estadão Conteúdo)

Doações pela internet que poderiam ser a salvação das campanhas após a proibição do financiamento empresarial simplesmente não decolaram no país. Entre as capitais dos 26 estados brasileiros, apenas em seis os candidatos eleitos ou que foram para o segundo turno puderam contar com essa modalidade de ajuda financeira. Os valores, porém, são irrisórios na maioria dos casos.

Em Belo Horizonte, por exemplo, tanto João Leite (PSDB) quanto Alexandre Kalil (PHS) não tiveram nem um centavo arrecadado pela internet. Por outras fontes, o tucano conseguiu angariar R$ 3,074 milhões e o empresário R$ 3,175 milhões, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na região Sudeste, também ficaram zeradas as contas de recursos vindos da internet em Vitória, no Espírito Santo.

Traduzindo em números de candidatos, entre os 54 que tiveram as contas analisadas pela reportagem, apenas seis receberam doações pela rede.
Dentre os analisados, o único postulante ao cargo de prefeito que foi bem sucedido na arrecadação virtual foi Marcelo Freixo (PSOL), que disputa o segundo turno contra Crivella (PRB), no Rio de Janeiro. Freixo arrecadou R$ 668,146 mil até o momento. O montante equivale a 46,24% do R$ 1,444 milhão angariado no total por ele.

Os outros que conseguiram doação nessa modalidade alcançaram valores muito baixos proporcionalmente ao total arrecadado. Em São Paulo, por exemplo, o candidato eleito em primeiro turno, João Dória (PSDB), conseguiu R$ 4.227, o equivalente a 0,052% dos R$ 8,092 milhões amealhados pelo tucano.

O mesmo ocorreu com Edmilson (PSOL), que concorre ao segundo turno em Belém, no Pará. Apenas 0,58% do total arrecadado por ele veio da internet, ou R$ 2.680. Em Natal, o candidato Carlos Eduardo (PDT) recebeu R$ 50 de doação pela internet. Já João Paulo (PT), do Recife, conseguiu R$ 200, e Rose Modesto (PSDB), candidata em Campo Grande, R$ 2.200.

Desempenho pífio
Nos maiores colégios eleitorais mineiros, o quadro também não é nada animador. Analisando as oito cidades que poderiam ter segundo turno por possuírem mais de 200 mil eleitores, incluindo Belo Horizonte, não houve qualquer doação pela internet para os eleitos em primeiro turno e os que foram para o segundo turno. Nessa lista estão Contagem, Betim, Uberlândia, Uberaba, Montes Claros, Juiz de Fora e Governador Valadares.
 Gustavo Baxter/ Nitro | Divulgação

DISPUTA ACIRRADA - João Leite, do PSDB, participou de encontro com delegados da Polícia Federal; Kalil (PHS) gravou entrevistas e visitou o museu Inimá de Paula, no Centro da capital

Visão negativa
Segundo especialistas, são várias as explicações para que essa modalidade não tenha decolado no país. Uma delas é cultural. “Aqui no Brasil as pessoas têm uma visão negativa da política. Não é como nos Estados Unidos onde a doação aos candidatos é vista como o fomento à democracia e à defesa de uma causa. Aqui as pessoas acreditam que precisam receber e não dar algo para políticos”, afirma o presidente da Associação Brasileira dos Consultores Políticos, Carlos Manhanelli.

Burocracia
O especialista em marketing eleitoral, Felipe Leite, explica que a burocracia também atrapalhou a modalidade. Foi proibida a intermediação de empresas no processo de doações. Porém não ficou claro, desde o início da campanha, se as operadoras de cartão de crédito seriam consideradas intermediadoras de doações virtuais. Uma decisão judicial tirou essa dúvida apenas no dia 15 de agosto, atrasando um pouco essas doações. “É preciso que as regras fiquem mais claras para que as pessoas tenham segurança para doar pela internet”, afirma.

Caminhadas e troca de acusações marcam últimos dias de campanha em Belo Horizonte

A três dias do segundo turno, o corpo a corpo pela cidade continua tomando conta das agendas dos candidatos. Em visita ao museu Inimá de Paula, no Centro de Belo Horizonte, o candidato Alexandre Kalil (PHS) conversou com artistas, produtores e representantes do setor cultural e propôs mudanças na estrutura existente na cidade.

Ele pretende recriar a Secretaria de Cultura do município, fundindo a Fundação Municipal de Cultura e a Belotur. No encontro, na tarde de ontem, Kalil contou com o apoio do atual presidente da Fundação, Leônidas de Oliveira.

União

Questionado sobre o aumento de custos trazidos com a criação de uma nova secretaria, Kalil afirmou que “fundir não é aumentar custo. É dinamizar a administração, facilitar a interlocução de setores que têm o mesmo interesse. Nós temos que unir esse setor para todos falarem a mesma língua. Temos que deixar essa cidade mais alegre”.

O candidato destacou ainda a necessidade de um planejamento de longo prazo para o setor e da autonomia para que os agentes possam trabalhar e definir o que é melhor para a cidade. “Temos que ter um calendário cultural anual. Sem isso, não é possível mudar a cultura em Belo Horizonte. A própria Secretaria é que vai comandar o projeto dentro das nove regionais. Não é o prefeito que vai fazer, mas sim quem entende”, afirmou Kalil.

João Leite
João Leite (PSDB) esteve durante a manhã na associação da Polícia Federal, onde conversou com agentes sobre demandas de Belo Horizonte, como o fortalecimento dos conselhos tutelares e o combate ao comércio de produtos contrabandeados no centro da capital.
“Meu convite à polícia federal é para tentarmos manter uma mesa permanente de discussões para combatermos os crimes”, disse. <EM>

Gastos
Questionado sobre as despesas com as contratações para a campanha, que já passam dos R$ 8 milhões, mais que o dobro do valor gasto pelo concorrente, João Leite justificou. “Vocês sabem que eu tinha três minutos no primeiro turno e ele (Kalil) tinha apenas segundos. O custo é alto dessa produção. Ele não teve que gastar tanto quanto eu”, afirmou.

O candidato falou ainda sobre os ataques feitos pelo candidato Alexandre Kalil, que o chamou de “pateta” em entrevista no dia anterior.
“Essas acusações não merecem respostas. Não é esse o nível. Ele (Kalil) tem que responder sobre a relação que tem com os próprios ex-funcionários. Que bom que houve o segundo turno e essas pessoas apareceram”.
 Editoria de Arte

Pesquisa Ibope aponta redução na diferença entre candidatos

Pesquisa divulgada ontem pelo Ibope mostrou uma redução na diferença entre os dois candidatos que disputam a Prefeitura de BH. Enquanto Alexandre Kalil (PHS) caiu dois pontos na comparação com o levantamento anterior, João Leite (PSDB) subiu um ponto.

Dente os 1001 eleitores ouvidos na capital, 39% dizem que pretendem votar em Kalil. Na pesquisa anterior, realizada pelo mesmo instituto e divulgada no dia 20 de outubro, ele tinha 41%. Já João Leite passou de 35% para 36% no mesmo período.

O número de pessoas que decidiram por votar em branco ou nulo subiu de 18% para 20%. Já os que não sabem e não responderam passaram de 6% para 5%.

Dos votos válidos, Alexandre Kalil ficou com 52%. Pela margem de erro, fica entre 49% e 55%. João Leite, que tem 48% dos votos válidos, fica entre 45% e 51% levando em conta a margem de erro.

Incerteza

A pesquisa revela um cenário ainda indefinido para o próximo domingo, quando ocorrerão as eleições. Os que disseram que o voto ainda pode mudar somam 18%. Os que acreditam que a decisão é definitiva somam 81%; e 1% não soube responder.

O nível de interesse nas eleições continua em baixa. Os que revelaram ter muito interesse são 25%. Outros 26% disseram estar com médio interesse no pleito. Já para 21% dos ouvidos as eleições geram pouco interesse e outros 28% admitem não ter nenhum interesse no tema.

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